Por MARCELO BARROS

Atualmente, toda pessoa esclarecida sabe que, segundo dados da ONU, desde 1970 ate
agora, a biodiversidade da terra foi destruida em mais de 30%. Estão em risco
de extinção 22% das espécies de mamiferos, 23% dos anfibios e 25% dos répteis.
Essa realidade está ligada à destruição anual das florestas que continua sem
solução. No Brasil, o novo código florestal parece mais preocupado em garantir
o lucro do agro-negócio e a expansão das fronteiras agrícolas do que em
proteger e preservar a natureza e as florestas ainda existentes no país.
Um dos motivos da perda da biodiversidade é
o aquecimento global, produzido pelo modo como a sociedade explora a terra, a
água e toda a natureza. Ricardo Abramovay, professor da Universidade de São
Paulo, afirmou: “durante o século XX, a extração de recursos da superfície
terrestre cresceu oito vezes e alcançou um total de 60 bilhões de toneladas
anuais, a partir somente do peso físico de quatro elementos: materiais de
construçao, minerais, combustiveis fósseis e biomassa” (citado por Washington Novaes,
(O Estado de Sao Paulo, 13/04/ 2013).
Em sua história, o planeta Terra ja passou
por várias crises e fases de transformações. No entanto, nessa crise atual há
um elemento novo: essas mudanças que afetam a vida no planeta estão sendo
produzidas pela própria sociedade humana.
E dessa vez, se permitimos que esse caminho de destruição prossiga, não
haverá uma arca de Noé como em filmes de ficção científica que sempre preveem
uma salvação para os nossos heróis. Por isso, a ONU chama a atenção de todos para
o tema da biodiversidade e sobre o estado atual da Terra. Essa atenção da ONU à
Terra se vincula a um movimento mundial que elaborou a “Carta da Terra”,
documento coletivo que servirá para a ONU como uma carta universal sobre os
direitos da Terra e da natureza. Direitos no sentido de necessidades urgentes e
direitos de cuidado que a Terra precisa para continuar cumprindo sua função de
nos acolher, nos alimentar e nos dar os elementos indispensáveis para uma vida
digna e feliz.
Atualmente, a ONU reconhece que as culturas
indigenas são as que mais contribuem para que olhemos a terra de um modo mais
respeitoso e dialogante. Nas últimas décadas, a partir dos trabalhos do
cientista James Lovelook , a própria ciência começou a ver a Terra como
organismo vivo e inteligente que reage ao ambiente e cria
condições próprias para a vida. Nós, humanos, fazemos parte dessa comunidade da
vida.
No domingo passado, as Igrejas mais antigas
celebraram a festa de Pentecostes, encerramento das festas pascais e
agradecimento pelo fato de que o Espirito de Deus se espalha por todo o
universo e se manifesta em toda a natureza. Um dos refrões mais comuns usados
nessa celebraçao é a palavra do salmo 104: “Tu envias teu Espirito, Senhor, e
renovas a face de toda a terra.” De fato, para quem cre que Deus é amor, a
terra e todos os seres vivos são sinais e sacramentos de sua presença. Em uma
sociedade que vê tudo como mercadoria e perdeu a consciência da dignidade da
terra, é importante que a espiritualidade resgate essa dimensão ecológica da
comunhao universal e que nos une à Terra e a todo o universo. O cuidado diário
com a biodiversidade é uma forma de testemunhar que reconhecemos essa presença
divina no universo. Como diz o salmo 19: “Os céus revelam a gloria de Deus
presente e o universo inteiro testemunha ser por ele criado” (Sl 19, 1).
Marcelo
Barros, monge beneditino, escritor e peregrino de Deus
Marcelo
Barros, monge beneditino, escritor e peregrino de Deus
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