Por JURACY ANDRADE

A Igreja Romana já fez isso no passado e
ainda defende alguns postulados ultraconservadores, mas não fala mais em
bancadas católicas e sepultou, há muito, a famigerada Liga Eleitoral Católica,
que tinha a pretensão de dizer em quem os católicos deviam votar.
Nestas minhas observações, também não há
nenhuma má vontade para com o protestantismo e outras igrejas não vinculadas à
Católica Romana. A Reforma de Martinho Lutero foi uma tentativa válida de
arejar o catolicismo medieval, ressalvados alguns equívocos, como o da absolutamente
livre interpretação das Sagradas Escrituras, a que me referi em minha
contribuição passada a este jornal virtual, e o da aliança com príncipes
tutores (na pior tradição do papado).
Já
as igrejas chamadas ortodoxas pecam pela vinculação política a Estados e
governos. Eu nasci e fui criado na Igreja Católica Romana, fui candidato a
padre, estudei muita teologia. Não vejo nenhum motivo para trocá-la por outra
igreja cristã, simplesmente porque nosso mestre Jesus Cristo pediu para que
todos sejam um só numa única “ekklesía” una, santa, universal e apostólica
(credo de Niceia). A qual, a meu ver, não se confunde com nenhuma das
existentes; com papados, patriarcados e quejandas instituições humanas. Nem
obviamente com nenhuma arrecadadora de dízimos-impostos, criada por
autodesignados iluminados que nem sequer conhecem a Bíblia, salvo alguns
versículos estratégicos e fora de contexto a justificar e prometer extorsões,
exorcismos, curas milagrosas, enriquecimento material. Apesar de minha origem,
não poupo críticas ao papado, à Cúria Romana. E torço para que o papa Francisco
consiga desatar esse nó comprometedor entre religião e poder pelo poder, que
vem desde a Idade Média.
Mesmo igrejas protestantes tradicionais e
mais fieis ao Evangelho não hesitam em encarar seus cerca de 40 milhões de
adeptos como um rebanho de eleitores cativos. Para o pastor Lélis Marinho ,
presidente do Conselho Político da Convenção Geral das Assembleias de Deus do
Basil “somos entre 18 milhões e 20 milhões. Por isso entendemos que estamos
sub-representados. Deveríamos ter ao menos 50 deputados federais”.
Países com menor quilometragem de
democracia e civilização que o Brasil, como é o caso de Angola, estão tomando
providências contra abusos cometidos em nome de Deus. As igrejas de origem
brasileira são as mais visadas ali porque, segundo Rui Falcão, secretário do
Bureau Político do MPLA (governo), em entrevista à Folha de S. Paulo, fazem
propaganda enganosa e se aproveitam das fragilidades do povo angolano. Em
fevereiro, as igrejas Universal do Reino de Deus, Mundial do Poder de Deus,
Mundial Renovada e Evangélica Pentecostal Nova Jerusalém foram fechadas.
Posteriormente, a interdição da Universal foi levantada, mas ela só pode
funcionar sob fiscalização do governo Segundo Falcão, a força das igrejas
evangélicas brasileiras em Angola desperta preocupação: “Elas ficam a enganar
as pessoas. É um negócio. Isto está mais do que óbvio.
Ficam a vender milagres”. Quanto à
Universal, segundo o político, a principal preocupação é com a segurança, pois,
no final do ano passado, 16 pessoas morreram asfixiadas ou esmagadas em um
culto num estádio de Luanda que reuniu 150 mil pessoas (muito acima da lotação
permitida) que acreditavam no fim de doenças, miséria, desemprego, dívidas,
problemas familiares.
O ideal seria que igrejas, cultos
funcionassem sem precisar de fiscalização do Estado. Não podemos voltar à
perseguição dos cristãos pelo Império Romano, à perseguição dos não cristãos
depois do casamento da Igreja com o Império, sob as bênçãos do imperador
Constantino, no século 4º. O melhor para as igrejas, para qualquer religião, é
a laicidade do Estado. Quando os nossos ínclitos representantes vão acordar
para isso? Cadê o Ministério Público?
Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia e
teologia
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