por Frei Betto
Quando me perguntam sobre o Brasil, respondo que não vejo luz no fim do túnel
porque nem mesmo enxergo o túnel...
Não lembro de ter vivido conjuntura tão incerta. Na ditadura os atores, de um
lado e outro, eram definidos. Agora não. Há um assombroso retrocesso no país, e
é praticamente insignificante a reação de quem se lhe opõe.
A reforma trabalhista jogou por terra mais de 70 anos de conquistas laborais. A
terceirização passou ao primeiro lugar. A reforma da Previdência condena os
brasileiros mais pobres a uma vida toda de trabalho forçado, pois dificilmente
terão sobrevida após 49 anos de aluguel de sua força de trabalho aos patrões, a
preço salarial irrisório.
O Brasil está atolado no retrocesso econômico, no esgarçamento das políticas
sociais, na precarização da saúde e da educação, e na corrupção. Os dados são
alarmantes: 13 milhões de desempregados; surtos de febre amarela, dengue, zika
e chikungunya, violência urbana crescente.
Para se contrapor a essa conjuntura, não basta abastecer as redes sociais de
ofensas, ironias, ressentimentos e piadas. É preciso organizar a esperança. Ter
clareza de como proceder nas eleições de 2018 e qual o projeto de Brasil dos
nossos sonhos.
O voto em 2018 deverá estar pautado pelo Brasil que queremos. Essa visão
estratégica deve nortear a escolha de partidos e candidatos.
Eleições, contudo, não mudam um país. O que muda é o fortalecimento dos
movimentos sociais, o profundamento ideológico à luz do marxismo, o resgate da
utopia e a militância junto aos segmentos empobrecidos da população. Buscar a
alternativa socialista brasileira com visão crítica das experiências
socialistas historicamente existentes.
Há que resistir a essa avassaladora cooptação feita pelo neoliberalismo. A
direita avança no mundo todo. A desigualdade se acentua: oito indivíduos,
segundo a Oxfam, possuem a mesma renda de 3,6 bilhões de pessoas, metade da
humanidade.
Temos apenas duas escolhas: cuidar de nossa vida biológica, como
estudar para obter emprego e, graças ao salário, sustentar a família, esperando
que a sorte não nos empurre para a pobreza; ou imprimir à vida um sentido biográfico,
histórico, ao assumir a militância da luta por justiça, liberdade e defesa
intransigente dos direitos humanos.
Não nos basta informação. É preciso investir em formação, de modo a construir
uma alternativa de sociedade que, a meu ver, deve consistir no ecossocialismo.
Fora Temer? E o que colocar dentro?
Frei Betto
é escritor, autor de “Calendário do poder” (Rocco), entre outros livros.
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