Eduardo Hoornaert
As reflexões abaixo são provocadas
pela impressão que, apesar de louváveis esforços, parece que que a liturgia e
os comentários, sermões, canções da Semana Santa ainda focalizam
predominantemente a figura de um Jesus ‘salvador’. Não tenho estatísticas a respeito,
mas suspeito que a imagem de Jesus salvador ainda define predominantemente a
ideia que a maioria dos cristãos têm a respeito de Jesus de Nazaré. É
principalmente nas celebrações da Semana Santa que isso se patenteia: realça-se
a figura de um Jesus que sofre e morre para ‘salvar a humanidade’. Para além
das liturgias da Semana Santa, a impressão é de uma liturgia católica permeada
de imagens que se referem ao tema da salvação. Basta dar uma olhada no Missal
Romano, principalmente naqueles textos que celebrante e participantes rezam ou
cantam juntos. Eles são muito antigos: o Kyrie Eleison e o ‘Gloria a Deus nas
alturas’ provêm das liturgias ortodoxas do primeiro milênio da história cristã,
o ‘Credo’ deriva do Concílio de Niceia (325) e o ‘Agnus Dei’ reflete o
imaginário apocalíptico judaico em tempos de Jesus. Envoltos numa aura de
sacralidade, fica difícil trazê-los à discussão e é por isso, penso, que muitos
participantes da missa os recitam sem prestar muita atenção ao que estão
dizendo. Pois estão afirmando (embora ‘liturgicamente’) que o gênero humano é
pecaminoso, marcado por um ‘pecado original’, e, portanto, carente de salvação.
Afirmam igualmente que Jesus Cristo morreu ‘para nos redimir de nossos
pecados’, ou seja, que ‘Jesus salva’. Não é isso que se lê no Missal, desde a
confissão no Kyrie Eleison: ‘Senhor, tende piedade de nós’, passando pelo
‘Gloria a Deus nas alturas’, onde se diz que Cristo ’carrega os pecados do
mundo’ e pelo Credo, que reza que Cristo é ‘crucificado por nós’, até chegar ao
Agnus Dei: ‘Cordeiro de Deus, que carregas os pecados do mundo’? Jesus é o
redentor (salvador) do mundo.
A reflexão que desenvolvo aqui é em
parte inspirado nas pertinentes reflexões do Padre José Maria Vigil em torno
desse tema (veja Internet, Wikipedia), em parte em textos meus, anteriormente
escritos em diversas oportunidades.
Donde provém esse modo de pensar? Não
provém de um dogma ou de algum tratado teológico, mas de uma narrativa,
composta de elementos bíblicos, mitológicos e jurídicos, que permeia o
pensamento cristão, embora vagamente, como se fosse por osmose. Ela reza o
seguinte: ‘O homem (o adão) é criado por Deus, assim como a mulher, sua
auxiliar. Ela convence o homem a comer, com ela, um fruto proibido pelo Ser
Supremo. Eis o ‘pecado original’, uma ofensa abominável e
insuportável aos olhos da Majestade Divina. Mesmo assim, em sua bondade, Deus
elabora um ‘plano dois’, que tome em conta a pecaminosidade fundamental do ser
humano. É o plano de redenção (da salvação). Um plano exigente, que exige a
vinda do próprio Deus ao mundo, através da sua encarnação em Jesus, a fim de
assumir uma representação (humana) que possa ter legalidade diante da Majestade
Divina (eis um conceito jurídico proveniente do direito romano, que penetrou na
tradição cristã durante a Idade Média, como explico em seguida). Só desse modo
sepaga um delito tão abominável como foi o delito de Adão e Eva. É
por amor ao gênero humano que Deus se torna homem, na pessoa de Jesus. É a Lei
de Deus (reparação da ofensa feita à Majestade Divina) que exige uma reparação
tão dolorosa. Se Jesus, como relatam os evangelhos, sofre tormentos indizíveis
em sua paixão e se ele finalmente morre, é para consertar um
delito de dimensões infinitas, praticada pelo primeiro casal e que passa para a
humanidade por meio da procriação. Jesus redime essa humanidade, ele é o ‘novo
Adão’, o iniciador de uma nova geração, ao ‘pagar’ o preço da reconciliação com
o Deus ofendido. Ele destrói o poder do diabo, que mantém a humanidade em
cativeiro. É nosso Salvador’.
Até aqui a narrativa. Sem dono, sem
apoio nem desmentido oficial, ela tem uma impressionante longevidade na
mentalidade dos cristãos e se expressa principalmente na liturgia. Como escrevi
acima, mistura dados bíblicos, jurídicos (derivados do Direito Romano) e
mitológicos. Esses últimos elementos são os mais importantes, pois a narrativa
acima evocada não é compreensível senão quando lido diante de um fundo
histórico que evoca práticas religiosas que se perdem nas brumas dos tempos
passados. Textos muito antigos do Oriente Médio (donde nos provêm os primeiros
escritos, como por exemplo a Epopeia de Gilgamesh) dão conta de um medo
indefinido que paira sobre a humanidade desde tempos imemoráveis, o medo de um
Deus que pode a cada momento explodir em violência e ameaçar com a destruição
do mundo (como na evocação de um dilúvio na referida epopeia). Nunca se sabe
como o Ser Supremo vai reagir. Sentado no trono, seus inimigos debaixo dos pés,
cetro na mão direita, rodeado de cortesãos com seus abanos e reverências, no
imenso palácio que se ergue no céu, com insígnias de poder por todos os lados
(conforme uma imagem do tempo persa), Deus permanece imprevisível. Pode, de
repente, explodir em ira contra os pecadores. Explosões de ira que
eventualmente retumbam sobre a terra em forma de enchente, tempestade, seca,
fome, guerra, doença e morte. Há de se temer a Deus, eis a sabedoria ancestral.
Para entrar em contato com esse Poder
Divino, há necessidade de uma mediação exercida por funcionários religiosos.
Palavras milenarmente pronunciadas por celebrantes caldeus, assírios,
babilônicos, persas, gregos, romanos e judeus, transmitidas de geração em
geração, nas mais diversas línguas e nas mais diversas circunstâncias, indicam,
em última análise, temas recorrentes em todas as religiões do Oriente Médio:
‘pecado, culpa, falta, condenação, inferno’ e em contraposição, ‘sacrifício,
expiação, salvação’. Daí a compreender por que as mais diversas culturas
cultivam milenarmente ‘ritos de purificação’ para aplacar a ira divina e tornar
a humanidade ‘pura’ diante de Deus, é apenas um passo. Vítimas são sacrificadas
para o bem da tribo, do povo ou da nação. Durante milênios, a vitimação é
considerada normal, inevitável para a boa organização da sociedade. As próprias
vítimas (mulheres, escravos e trabalhadores no Império Romano, por exemplo) nem
têm consciência de serem vítimas e acham que sua situação é ‘um dado da
natureza’ (assim pensa, por exemplo, Aristóteles). Para remediar um sentimento
de mal-estar na sociedade por causa de crimes ou guerras, as civilizações,
durante milênios, organizam diversas formas de ‘expiação (ritual) dos pecados’,
com a finalidade de se purificar, ou seja, de poder respirar de novo o ar puro
da inocência perdida e colocar tudo nos eixos, sacrificando vítimas (é o que
acontece, neste momento, na política brasileira). É de se compreender que o
judaísmo participe dessas crenças e dessas práticas. Há, por exemplo, a ‘festa
da expiação’ (Yom Kippur), até hoje celebrada. No tempo de Jesus, naquela festa,
o Sumo Sacerdote, em pé na frente do Santo dos Santos, no Alto do Templo,
sangra um bode e depois o joga penhasco abaixo, proclamando em seguida que
Israel está de novo puro e imaculado diante de Ihwh. O ‘bode expiatório’ tem
longevidade impressionante, pois corresponde a algo que vive dentro do ser
humano (veja os livros de René Girard). Os antigos astecas, no México, praticam
algo parecido, quando praticam sacrifícios humanos sangrentos no alto de suas
pirâmides. E, afinal, não podemos dizer o mesmo acerca do Sumo Sacerdote Caifás
quando ele, no sinédrio, dá o voto definitivo a favor da condenação de Jesus,
dizendo: ‘um tem de morrer pelo povo’?
E os evangelhos? Eles entram na
perspectiva ‘salvadora’? Vou me ater ao Evangelho de Marcos. Ele relata que,
por onde Jesus passa, aglomerações se formam. Jesus atende sem cessar, cura,
conforta, expulsa demônios. E o povo correndo atrás dele. Aqui, ele parece
realmente um ‘salvador’. Em pouco tempo, seu renome ultrapassa a Galileia: ‘uma
massa, proveniente da Galileia, da Judeia, de Jerusalém, da Idumeia, do Além
Jordão, das redondezas de Tiro e Sidon, o persegue aonde ele vai’ (Mc 3, 8). As
autoridades de Jerusalém mandam emissários para observar o que está acontecendo
e Jesus tem de recuar para as margens do Mar da Galileia. Mas ali a cena se
repete: ‘muitos caem sobre ele, para que os doentes o toquem’ (Mc 3, 9).
‘Sopros imundos, à sua vista, lançam-se a seus pés e gritam: você é o Filho de
Deus’. Jesus sobe num barco e atravessa o Mar da Galileia, para evitar que ‘as
massas o sufoquem’ (o mesmo versículo). Mas não adianta: por onde ele vai, ‘as
pessoas o reconhecem. Elas vêm de toda a região e começam a trazer doentes em
macas, para o lugar onde ouvem falar que Jesus está. E, por toda parte,
vilarejos, cidades, sítios do campo, suplicam que ele permita tocar pelo menos
a franja do manto. E todos que o tocam ficam curados’ (Mc 6, 55-56).
Como Jesus reage diante do assédio?
Ele aceita o papel de ‘salvador de Israel’? Tenho por mim que Marcos, apoiado
em quarenta anos de falas entusiastas sobre um Jesus milagreiro e curandeiro
(entre a morte de Jesus e a redação de seu Evangelho por volta do ano 70),
exagera nas descrições de multidões em torno do homem de Nazaré. Realmente,
Marcos pinta um quadro que pode dar a impressão que, efetivamente, um
‘salvador’ percorre as aldeias da Galileia. Mas uma leitura atenta do Evangelho
apresenta boas razões para dizer que esse sucesso todo incomoda Jesus. Não só
porque essas aglomerações atraem a atenção das autoridades, mas principalmente
porque atrapalham o que ele mais deseja fazer: difundir seu programa entre a
população. Isso fica claro em repetidas reações de Jesus. Ele não quer atrair a
atenção sobre sua pessoa, sua intenção é orientar as pessoas a tomarem conta de
sua própria vida. As correrias em seu entorno o incomodam, pois podem
constituir um desvio de seu trabalho. A publicidade o atrapalha e é por isso
que ele recomenda, a quem por ele for beneficiado (um possesso do demônio, um
discípulo, um doente) que guarde discrição. A alegria de Jesus não consiste em
ser admirado e considerado ‘salvador do povo’, mas em verificar que seu
programa está sendo traduzido em ações concretas.
O programa de Jesus, em seu âmago, é
simples, como se desprende de uma leitura do Evangelho de Marcos: abrir a casa
ao visitante incômodo no meio da noite; perdoar as dívidas e erros do vizinho
(não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes); não cobiçar a mulher do vizinho
nem seu animal de carga; não ter inveja de ninguém (pois a inveja destrói os
laços de fraternidade); não delatar o vizinho; frequentar as reuniões da
comunidade (da sinagoga) onde se ensina a lei de Moisés sem as deturpações
divulgadas pelos sacerdotes de Jerusalém; ver em qualquer pessoa um irmão, uma
irmã. Esse programa, fácil de ser enunciado, é difícil de ser executado, pois
está em oposição diametral com... a ideia da salvação. O programa de Jesus
mostra que uma sociedade pode sobreviver sem apelar para um salvador, postular
sacrifícios nem produzir vítimas inocentes.
O reino de Deus nas aldeias da
Galileia, uma experiência real e histórica, até hoje orienta o cristianismo. A
genialidade de Jesus não só consiste na lucidez em detectar o mecanismo
sacrifical, mas também na decisão de desativá-lo por onde anda. Sua experiência-modelo
implica em nunca jogar a culpa no outro. Isso abre uma nova perspectiva para a
humanidade e inaugura um tempo de fraternidade universal e amor incondicional
ao próximo. Muitos teólogos interpretam a vida de Jesus segundo esse paradigma
evangélico.
Mas nem todos. Apoiados na ideia
ancestral do sacrificialismo acima esboçado, alguns teólogos influentes propõem
uma ‘leitura sacrificial’ do Evangelho de Marcos. Refiro-me aqui
especificamente a um monge teólogo normando de nome Anselmo, que viveu no século
XI e chegou a ser arcebispo em Cantuária na Inglaterra. Entre os anos 1097 e
1100, ele escreveu um tratado intitulado em latim ‘Cur Deus homo?’ (Por que
Deus [se tornou] homem?), um texto de uma lógica impecável. Anselmo consegue a
proeza de interpretar o significado histórico da vida de Jesus por meio da
interpretação de uma única palavra do capítulo 8 do Evangelho de Marcos, a
palavra grega ‘dei’, que significa ‘é necessário, não há como escapar’. Dada a
sua importância, copio aqui integralmente o referido trecho do Evangelho de
Marcos (Mc 8, 30-34):
Jesus começou a dizer que era
preciso (em grego: dei) que o Filho
do Homem sofra muito, que ele seja rejeitado pelos anciões, os grandes
sacerdotes e os letrados, que ele seja posto à morte e se levante após três
dias. Ele dizia tudo isso abertamente. Pedro o tomou à parte e o repreendeu.
Mas Jesus se retornou e, diante dos discípulos, criticou Pedro: Para trás,
Satanás! Você não tem o espírito das coisas de Deus, mas o dos homens! E,
chamando a multidão a vir mais perto, ele disse a todos: se alguém quiser me
seguir, que ele se negue a si mesmo, que ele tome sua cruz e me siga!
Na leitura de Anselmo, Jesus aceita o
horror da morte na cruz por obediência a Deus. Ao concentrar toda a sua atenção
no único termo grego ‘dei’ (‘é preciso’), ele nos faz entender que está
praticando uma ‘leitura grega’ de um texto semita (pois a Bíblia é semita em
seu modo de pensar e se expressar). O que significa isso? Na época (século XI),
não constitui nenhuma novidade ler a bíblia através de ‘óculos gregos’, embora
seja um empreendimento muito arriscado, como os linguistas hoje demonstram com
crescente poder de convencimento. Seja como for, a ‘leitura grega’ caracteriza
o modo em que, em geral, a intelectualidade cristã no primeiro milênio (os
chamados Padres da Igreja) interpreta a bíblia. O fato que Anselmo, ao ler o
referido texto do Evangelho de Marcos, vai direto ao termo grego ‘dei’,
passando por cima do contexto (a reação de Pedro, por exemplo, assim como as
ulteriores palavras de Jesus sobre compromisso e ‘espírito das coisas de
Deus’), revela que ele realmente pratica uma leitura grega. (A quem quiser se
aprofundar nessas questões de leitura, lembro que explico ao longo e ao largo o
‘princípio do contexto’ em meu livro ‘Em Busca de Jesus de Nazaré’, publicado
pela Paulus de São Paulo em 2016).
Assim Anselmo aterrissa em pleno
terreno mitológico grego. Ele situa Jesus diante de Zeus (Jupiter), que
vive no Olimpo (além das nuvens) e está na origem de tudo que acontece no
Universo. Quando Zeus fala, o Universo todo estremece. Ele é o Criador, o
Patriarca, o Poderoso, o Perfeito, o Dono do mundo. Sua Lei é eterna, seu dito
nunca desdito, sua palavra nunca desmentida, seu ‘fato’ (palavra definitiva,
‘fatum’, palavra fatal) nunca contrariado. A ‘Palavra de Deus’ nunca passa, ela
reduz à obediência qualquer poder inferior, no céu e na terra, e fundamenta os
princípios patriarcais da ordem, do legalismo e do totalitarismo. Fundamenta
igualmente o destino trágico da vida de Jesus.
O Jesus de Anselmo está sujeito à
palavra definitiva de Deus, ao ‘fatum’, à palavra fatal e imutável de Deus. Se
ele ‘deve’ sofrer muito, ser rejeitado pelas autoridades, ser morto e
finalmente ressuscitar, é porque existe a Lei inexorável da Majestade Divina
ofendida.
A leitura de Anselmo, além de
enganosa, é danosa. Ela retira do evangelho seu nervo vivo, individualiza o
drama entre Deus e o ser humano, ou seja, passa por cima da dimensão social e
política da vida humana. Há de se afirmar com vigor que a leitura de Mc 8,
30-34 não pressupõe necessariamente a ‘fatalidade’ de uma ordem divina. Jesus
não enfrenta a morte porque é ‘seu destino’, mas porque resolve manter seu
compromisso com os pobres da terra, os desvalidos e esquecidos, custe o que
custar. Daí sua reação contra Pedro: ‘você não tem o espírito de Deus, mas o
dos homens’. Jesus não aceita modos de pensar baseados em vitimação. Não morre
na qualidade de vítima inocente, mas em consequência de uma postura assumida
contra os abusos cometidos pelas autoridades de seu país, tanto judaicas como
romanas. Jesus sente compaixão pelo povo comum, que em muitos casos não tem
consciência da exploração impiedosa que sofre por meio de leis consideradas
santas (o código levítico, a torá), mas que na realidade beneficiam os ‘puros’
(sacerdotes) e condenam os ‘impuros’. Com isso, Jesus inaugura um novo tempo para
a humanidade.
Mas a leitura de Anselmo vingou.
Numerosos comentários e documentos históricos demonstram que a teoria de Jesus
salvador encontrou, na época, ampla ressonância em meios eclesiásticos. Ela
caiu que nem uma luva na política da igreja católica, involucrada em propagar
atitudes de submissão e obediência por parte das populações rurais da Europa,
e, nesse sentido, promotora de uma ‘pastoral do medo’ (medo do inferno), descrita
pelo historiador francês em seu livro clássico ‘La Peur en Occident’
(Fayard, Paris, 1978), com a intenção de firmar seu poder sobre a sociedade. A
doutrina de salvação, defendida por Anselmo, nunca foi contestada pela
hierarquia, por mais danosa que tenha sido à vida feliz de inúmeras gerações
humanas.
Hoje
nos resta saber : Há sinais de superação da ideologia da vitimação em
meios eclesiásticos? Sim, o Concílio Vaticano
II, pela primeira vez em séculos, toma certa distância diante da hipótese de
Jesus redentor, numa abordagem discreta, sem realce. Mas a impressão é que o
peso da tradição e a perenidade de ideias do passado na mente das pessoas
impedem um posicionamento mais afirmativo. Aliás, essa observação acerca da
fraqueza de posicionamentos evangélicos por parte da hierarquia vale para toda
a história do cristianismo. Não sem razão. Seria ingenuidade pensar que uma
mensagem tão inovadora como a de Jesus tenha sido imediatamente compreendida
por todos e posta em prática. Na mente das pessoas, já nos tempos do Evangelho,
os modos ancestrais de pensar e viver, assim como os medos não menos
ancestrais, não desaparecem de vez diante de uma mensagem como a de Jesus de
Nazaré. Sedimentações mentais transmitidas de geração em geração, como a crença
na salvação, não desaparecem de vez na vida de pessoas sem um trabalho
intensivo e perseverante de conscientização.
Tudo isso nos leva à pergunta: nos
nossos dias, a imagem de Jesus Redentor vai esvaecendo aos poucos? Ela
está sendo substituída, aos poucos, pela imagem de Jesus de Nazaré, o profeta
destemido que preferiu enfrentar a morte que abandonar seu povo? Faço essa
pergunta depois de ter a impressão que a imagem de Jesus redentor permanece
central nas celebrações da Semana Santa. O que você acha?
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