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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Renata, Maria e La pietá



por Roberta Barros
 
Nos últimos dias fomos acometidos de uma comoção coletiva.

A notícia se espalhou, eram inacreditáveis aos nossos ouvidos, olhos e corações.
Quando a real compreensão se instalava, apenas uma certeza vinha à tona: Aos olhos de Deus, todos nós,  somos simples mortais.

A espera do corpo, a organização do funeral, a tristeza da família parecia protegido por uma fortaleza. A FORTALEZA RENATA!

Quando seus olhos apareciam     marejados, seus ombros eram o porto seguro.
Ali vi se apoiar o menino, os rapazinhos, a mocinha, o bebê e a multidão.
Na homilia, mesmo sendo o Estado laico, Maria serviu de exemplo, e que magnífico exemplo!

No meu pequeno conhecimento bíblico, pensei,  por várias vezes, em La Pietá.
Neste momento Renata representava não só ela, mas, todas as mulheres que perdem diariamente   seus filhos e maridos para o tráfico, para violência para fome.

As cenas que invadiam   nossas casa, nos levava a cada ato, a um sentimento diferente, mas a fortaleza permanecia, ora embalando o bebê, ora afagando a mocinha  e os  meninos.

Mesmo sendo  eu, uma  pessoa do povo, nascida e criada no morro da Conceição, sem filiação partidária, sem sobrenome importante  e sobretudo,  sem conhecê-la pessoalmente, o sentimento que vinha  à  tona, era o Dom, o suor, a dor, a aflição de uma mulher que se manteve calma e serena em um vácuo, onde até para os mais distantes era impossível não se abalar. 

Certa vez, em minha adolescência, subindo e descendo as ladeiras, ouvir falar de um homem que era feito e de ferro e flor.

Hoje já quando começam   a parecer os primeiros fios branco, e já sem as mesmas  firmeza das pernas, em escalar aquelas imensas ladeiras, que continuam dando acesso ao Morro Santo, conheci  agora uma mulher, feita de ferro e de flor.  

Os exemplos que vimos e assistimos de Renata, não está em nenhum escrito de auto-ajuda, está na sua simplicidade e humildade, sentimentos tão desconhecidos por nós, e tão diferentes da propagada teologia da prosperidade.

Roberta Barros é Pedagoga e Especialista em Associativismo.

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