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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A tempestade e a poesia



Por Assuero Gomes


As tempestades e os versos nascem do mesmo lugar, o coração do homem. As guerras e a paz também. A saudade, o afeto, a harmonia. A tortura, o enigma, o acalanto, a livre associação de ideias, o pensar e o esquecer, nascem do coração humano.

Um país e uma nação são formados por imensos mares de corações aflitos mergulhados nas águas da esperança, ou quiçá de corações felizes sobrenadando num lago de marés rasantes. Os corações passam seu tempo se constraindo e se distendendo, ora apressados, ora sonolentos, interligados aos corações outros, que sinfonicamente sobrevivem em diapasões de vida e morte, enquanto pulsam.

Tênues sopros enlevados dos apaixonados, sístoles raivosas dos sentimentos torpes, diástoles monumentais nas ocasiões de serviço ao próximo. Corações mesquinhos batem junto aos generosos e se misturam, no som de uma locomotiva que não parte nem chega, apenas acelera e descansa, acelera e descansa, acelera e descansa...nos trilhos das vidas.

As tempestades e os versos nascem do mesmo lugar, aquelas desarrumam as naus, as viagens, as vilas e as populações, já os versos, são mais perigosos que as tempestades, pois desarrumam o coração dos poetas e talvez, raramente, de suas musas. Não à toa, os grandes revolucionários que levaram suas tempestades para as nações, são quase todos poetas, ou já foram, ou quiseram ser. Não há revolução sem poesia, dessas que dispensam os alexandrinos ou parnasianos, mas que concretamente ardem com tijolos de versos concretos dilacerados na carne do coração dos românticos. Não há tempestade sem poesia nem poesia que não cause uma tempestade.

É sempre bom saber duas coisas sobre o coração dos humanos: é dele que saem as impurezas ou as mais belas e límpidas palavras pela boca de quem as profere, e também é sempre bom saber, que é nele, que Deus armou sua tenda e habita.

Assuero Gomes
Médico e Escritor
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