por Marcelo Barros
Pesquisa da Fundação Perseu Abramo
constatou: a maioria da população brasileira (89%) é favorável a uma reforma
política. As manifestações de junho de 2013 que reuniram nas ruas de nossas
cidades mais de dois milhões de pessoas tinham como um dos objetivos expressar
que o povo não se sente realmente representado pelo atual Congresso Nacional.
Como, em artigo recente, afirmou Frei Betto: “Hoje, nós votamos e o poder
econômico elege! O financiamento deveria ser com recursos públicos e
contribuição de pessoa física no limite de R$ 700. No sistema atual, qualquer
candidato pode ser financiado por empresas. Uma vez eleito, passa a defender
interesses corporativos, e não da população.”
Diante dessa realidade, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) reuniu mais de cem entidades da sociedade civil brasileira para propor
uma iniciativa popular de Reforma Política. Ao mesmo tempo, os movimentos
sociais reunidos propuseram um Plebiscito Popular para que todos os brasileiros
que quiserem possam votar pedindo a Reforma Politica. A diferença entre as duas
iniciativas é que a das entidades confia ao atual Congresso a tarefa de
reformar a Constituição. Já os movimentos sociais pensam que será muito difícil
os atuais congressistas, dos quais muitos (a maioria) são financiados pelas
grandes empresas votarem contra eles mesmos e os seus interesses. Por isso,
propõem que possamos eleger uma Assembleia Constituinte, Exclusiva e Soberana
para fazer a Reforma Política.
Recentemente, a CNBB e as organizações
que tinham proposto a Iniciativa Popular assinaram um documento no qual
expressam que as duas propostas se completam. Por isso, apoiam também o
Plebiscito Popular, a ser realizado do 01 a 07 de setembro próximo. Nessa
próxima semana, todos os brasileiros poderão votar por um Brasil que se tornou
independente dos impérios políticos e agora se tornará libertado de todo
domínio econômico abusivo de empresas privadas. Essa proposta do Plebiscito é apartidária.
Não está vinculada à campanha de nenhum candidato ou partido politico. Como
nenhum dos grandes meios de comunicação colabora com esse instrumento de
educação do nosso povo, esse mutirão de cidadania tem de ser preparado e
organizado por todas as pessoas de boa vontade que desejam um pais mais
igualitário.
Esse
tempo final de preparação do Plebiscito Popular é um momento especial de
compromisso de cidadania para as comunidades cristãs e para todos os que se
sentem herdeiros de profetas como Dom Helder Camara, Dom Tomás Balduíno e de
tantos outros irmãos e irmãs que nos ensinaram a unir fé e compromisso de
justiça e libertação. Como herdeiros desses grandes profetas, temos de
conscientizar nosso povo, informar as pessoas do que se trata e ajudar os
movimentos sociais a colher votos e organizar a votação na semana da pátria.
Em uma carta aos fiéis da sua
arquidiocese, Dom Fernando Saburido, arcebispo de Recife, afirmava: “Há cristãos que
ainda pensam que a fé possa ser desligada da realidade concreta. Se nos
desinteressamos pelo processo político, corremos o risco de deixar a Política
nas mãos dos que não buscam o interesse comum. Como afirmou o papa Francisco:
“Apesar de se notar uma maior participação de muitos (cristãos) nos ministérios
laicais, esse compromisso (de fé) não se reflete ainda suficientemente na
penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico.
Limita-se muitas vezes às tarefas no seio da Igreja, sem um empenho real pela
aplicação do Evangelho na transformação da sociedade” (Evangelii Gaudium, n. 102)”. Como cristãos, devemos apoiar e
participar dessas iniciativas que visam a transformação justa da sociedade e da
organização do Estado. Como escreveu São Paulo: “Estejam atentos para a maneira
como vocês vivem. Não sejam ingênuos, mas pessoas sensatas. Aproveitem bem o
tempo, porque esses dias são maus... (Em meio a essa realidade), procurem
compreender a vontade do Senhor” (Ef 5, 15 e 17).
Marcelo
Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e
assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades
eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da
ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45
livros publicados no Brasil e em outros países.
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