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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Muitas Igrejas, uma só Igreja



Marcelo Barros

Ninguém sabe responder quantas Igrejas cristãs existem no mundo. A cada dia, na periferia, ou no centro de alguma cidade, um novo missionário ou homem de Deus funda uma Igreja nova. Em um mundo pluralista como é o nosso, essa multiplicidade de confissões cristãs parece não espantar a muita gente e tem o lado bom de oferecer possibilidades diversas para se viver a fé. No entanto, a diversidade não deveria acarretar testemunhos contrários que podem deixar as pessoas mais confusas. Nesses dias, os jornais publicaram: “O Conselho Mundial de Igrejas (que reúne 348 Igrejas evangélicas e ortodoxas em todo o mundo) se posiciona contra o ataque de Israel aos palestinos” . Um dia, depois, os mesmos jornais noticiam: “Líderes evangélicos (pentecostais brasileiros) se posicionam a favor de Israel e contra a posição do governo brasileiro que criticou a guerra”. Mesmo quem não entende muito de Igreja, nem está a par das divisões cristãs acha estranho essas contradições. O testemunho da paz é a própria missão de uma Igreja que segue Jesus como mestre. Essas divergências sobre pontos tão importantes só podem enfraquecer a missão dos cristãos no mundo.

Exatamente, por esse tipo de problemas, já há mais de um século, em 1910, teve início o movimento ecumênico. Naquele ano, se reuniram pastores e missionários de várias Igrejas que tinham missões na Ásia. O encontro em Estocolmo (Suécia) foi provocado pelos asiáticos que tinham dito aos missionários europeus: “Vocês pregam o Cristo, cada um de um modo e contra o jeito do outro. Isso não nos ajuda. Coloquem-se de acordo. Somente quando concordarem com uma pregação comum, venham e, então, os ouviremos”. Pela necessidade de se colocarem de acordo sobre  que pregam aos outros, naquela conferência internacional sobre a missão, pastores de várias confissões deram origem ao movimento pela unidade do Cristianismo. Mais tarde, em agosto de 1948, em Genebra, foi fundado o Conselho Mundial de Igrejas que, atualmente, reúne 348 Igrejas do mundo todo e vários movimentos missionários e educacionais. Nesses dias, ao comemorar o aniversário desse Conselho, vale a pena recordar o seu objetivo e como ele é importante para o Cristianismo e para o mundo. O Conselho Mundial de Igrejas não pretende ser uma super-igreja ou uma instituição que substitua as Igrejas particulares. Ele é uma irmandade de Igrejas cristãs. Baseia-se na fé comum que é, essencialmente, a mesma entre todas as Igrejas e tem como objetivo a missão de dar ao mundo o testemunho de que Deus é Amor. Ele tem um projeto de vida, paz e justiça para toda a humanidade e pede cuidado com a sua criação (a natureza). Conforme o pensamento do CMI, a unidade cristã não deve ocorrer através de alguma uniformidade institucional e sim por meio do que se chama “diversidade reconciliada”. Essa convicção se apoia no ensinamento dos antigos teólogos cristãos que diziam: “A unidade abole a divisão, mas respeita e até valoriza as diferenças”. Essa sadia diversidade enriquece o conjunto das Igrejas e revela que, juntas, elas formam um só Cristianismo, como, nos anos 60, afirmava Atenágoras, antigo patriarca de Constantinopla. 

No decorrer de sua história, o CMI (Conselho Mundial de Igrejas) deu uma colaboração efetiva e importante para acabar com o apartheid na África do Sul, assim como ajudou nas lutas por direitos humanos e liberdade na América Latina. Coordena programas que ajudam na promoção humana e libertação definitiva dos povos da África e defende os direitos coletivos dos índios e de comunidades minoritárias como ciganos e nômades. Prega não somente o respeito a outras tradições religiosas, como o Judaísmo, o Islã, o Budismo, as religiões orientais, as tradições indígenas e afrodescendentes. 

 Assim, absolutamente coerente com sua história e com sua tradição, atualmente, o CMI se pronuncia contra o modo violento e injusto com o qual o Estado de Israel tem ocupado militarmente os territórios palestinos e subjugado esse povo a uma opressão vergonhosa. Nesse novo aniversário do CMI, é animador para toda a humanidade saber que ainda pode contar com a profecia comunitária dessa voz de tantas Igrejas e movimentos cristãos reunidos em favor da paz, da justiça e da defesa da criação (da natureza).  


 

Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.  

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