Marcelo
Barros
Ninguém
sabe responder quantas Igrejas cristãs existem no mundo. A cada dia, na
periferia, ou no centro de alguma cidade, um novo missionário ou homem de Deus
funda uma Igreja nova. Em um mundo pluralista como é o nosso, essa
multiplicidade de confissões cristãs parece não espantar a muita gente e tem o
lado bom de oferecer possibilidades diversas para se viver a fé. No entanto, a
diversidade não deveria acarretar testemunhos contrários que podem deixar as
pessoas mais confusas. Nesses dias, os jornais publicaram: “O Conselho Mundial
de Igrejas (que reúne 348 Igrejas evangélicas e ortodoxas em todo o mundo) se
posiciona contra o ataque de Israel aos palestinos” . Um dia, depois, os mesmos
jornais noticiam: “Líderes evangélicos (pentecostais brasileiros) se posicionam
a favor de Israel e contra a posição do governo brasileiro que criticou a
guerra”. Mesmo quem não entende muito de Igreja, nem está a par das divisões
cristãs acha estranho essas contradições. O testemunho da paz é a própria
missão de uma Igreja que segue Jesus como mestre. Essas divergências sobre
pontos tão importantes só podem enfraquecer a missão dos cristãos no mundo.
Exatamente,
por esse tipo de problemas, já há mais de um século, em 1910, teve início o
movimento ecumênico. Naquele ano, se reuniram pastores e missionários de várias
Igrejas que tinham missões na Ásia. O encontro em Estocolmo (Suécia) foi
provocado pelos asiáticos que tinham dito aos missionários europeus: “Vocês
pregam o Cristo, cada um de um modo e contra o jeito do outro. Isso não nos
ajuda. Coloquem-se de acordo. Somente quando concordarem com uma pregação
comum, venham e, então, os ouviremos”. Pela necessidade de se colocarem de
acordo sobre que pregam aos outros,
naquela conferência internacional sobre a missão, pastores de várias confissões
deram origem ao movimento pela unidade do Cristianismo. Mais tarde, em agosto
de 1948, em Genebra, foi fundado o Conselho Mundial de Igrejas que, atualmente,
reúne 348 Igrejas do mundo todo e vários movimentos missionários e
educacionais. Nesses dias, ao comemorar o aniversário desse Conselho, vale a
pena recordar o seu objetivo e como ele é importante para o Cristianismo e para
o mundo. O Conselho Mundial de Igrejas não pretende ser uma super-igreja ou uma
instituição que substitua as Igrejas particulares. Ele é uma irmandade de
Igrejas cristãs. Baseia-se na fé comum que é, essencialmente, a mesma entre
todas as Igrejas e tem como objetivo a missão de dar ao mundo o testemunho de
que Deus é Amor. Ele tem um projeto de vida, paz e justiça para toda a
humanidade e pede cuidado com a sua criação (a natureza). Conforme o pensamento
do CMI, a unidade cristã não deve ocorrer através de alguma uniformidade
institucional e sim por meio do que se chama “diversidade reconciliada”. Essa
convicção se apoia no ensinamento dos antigos teólogos cristãos que diziam: “A
unidade abole a divisão, mas respeita e até valoriza as diferenças”. Essa sadia
diversidade enriquece o conjunto das Igrejas e revela que, juntas, elas formam
um só Cristianismo, como, nos anos 60, afirmava Atenágoras, antigo patriarca de
Constantinopla.
No
decorrer de sua história, o CMI (Conselho Mundial de Igrejas) deu uma
colaboração efetiva e importante para acabar com o apartheid na África do Sul, assim como ajudou nas lutas por
direitos humanos e liberdade na América Latina. Coordena programas que ajudam
na promoção humana e libertação definitiva dos povos da África e defende os
direitos coletivos dos índios e de comunidades minoritárias como ciganos e
nômades. Prega não somente o respeito a outras tradições religiosas, como o
Judaísmo, o Islã, o Budismo, as religiões orientais, as tradições indígenas e
afrodescendentes.
Assim, absolutamente coerente com sua história
e com sua tradição, atualmente, o CMI se pronuncia contra o modo violento e
injusto com o qual o Estado de Israel tem ocupado militarmente os territórios
palestinos e subjugado esse povo a uma opressão vergonhosa. Nesse novo
aniversário do CMI, é animador para toda a humanidade saber que ainda pode
contar com a profecia comunitária dessa voz de tantas Igrejas e movimentos
cristãos reunidos em favor da paz, da justiça e da defesa da criação (da
natureza).
Marcelo
Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e
assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades
eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da
ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45
livros publicados no Brasil e em outros países.
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