Por Marcelo Barros
Cada ano, no
11 de julho, a ONU celebra o dia mundial da população, criado em 1987,
exatamente na data na qual a humanidade atingiu a marca de cinco bilhões de
habitantes. Quase 30 anos depois, já somos sete bilhões e meio de seres
humanos. A data serve para aprofundarmos o que significa viver em um planeta no
qual, a cada ano, a população humana cresce e as desigualdades sociais
aumentam. Se você for branco, tiver nascido nos Estados Unidos, Canadá ou na
Europa tem dez vezes mais chances de ter saúde, educação e independência
pessoal do que se nasceu em algum país da África ou da América Latina. Além
disso, a cada dia, os bens da terra, como água, ar e alimentação, afetados pela
ação humana, se tornam limitados e insuficientes.
Alguns
países pensam resolver o problema da população com regras rígidas de controle
de natalidade. Hoje, a humanidade compreende que ser pai e mãe deve ser um ato
consciente e responsável. É preciso sim que as famílias tenham um planejamento
ético e justo de seus filhos. No entanto, de modo algum isso justifica o
egoísmo de quem se nega a ter filhos para não ter de cuidar de alguém. Nem
legitima políticas internacionais que esterilizam mulheres pobres ou importam
métodos anticoncepcionais para países da África. Não se trata de selecionar
quem tem ou não direito a ter filhos. Por outro lado, não basta diminuir a taxa
de natalidade para a humanidade solucionar a questão da sustentabilidade e do futuro
da vida para todos. De acordo com os dados científicos, o planeta Terra tem
todas as condições de alimentar e sustentar até onze bilhões de pessoas. No
entanto, como o Mahatma Gandhi afirmava: “o mundo tem o suficiente para saciar
as necessidades de todos os seres humanos, mas não basta para satisfazer a
ganância e a ambição dos ricos”.
A humanidade
precisa mudar a cultura com a qual se relaciona entre si e com o planeta que
habita. Um sistema social e econômico que gera desigualdade e aprofunda injustiças
sociais só pode resultar em violência e infelicidade para todos. Somente uma
organização social que se preocupe com todos os seres humanos e busque a
igualdade e a justiça é ecologicamente sustentável e socialmente justificável.
Antigamente,
a humanidade vivia no campo e a densidade populacional era fraca. Hoje, a
maioria das pessoas vive em cidades. Já se contam em milhares as metrópoles com
mais de um milhão de habitantes. Já somam 23, as cidades com mais de dez
milhões de habitantes. São Paulo já ultrapassou vinte milhões. Nessas
sociedades, ao menos aparentemente, o ideal humano é de liberdade máxima para
cada um, mas essa liberdade supõe orientação e um projeto comum. Eduardo
Galeano afirmava: "Somos uma sociedade de solidões que se encontram e desencontram
sem se reconhecer mutuamente. Esse é nosso drama: um mundo organizado para o
desvínculo, onde o outro é sempre uma ameaça e nunca uma promessa"
No mundo
atual, estamos sempre mais juntos e ao mesmo tempo, cada vez mais sozinhos.
Isso é tido como liberdade. Nesse contexto, filósofos judeus como Emmanuel
Mounier e Martin Buber, baseados em sua fé bíblica, insistiram no valor básico
da alteridade: descobrir a importância do outro, aceitar que dependemos uns dos
outros e aprender a viver a partir do outro. Essa abertura para o outro,
humano, garante uma convivência baseada na justiça e na paz. Somente a
convivência com o diferente e a solidariedade amorosa ao outro nos fazem
descobrir que somos de uma só família humana e membro da comunidade da vida.
Essas são as bases de uma espiritualidade que vai além das religiões e podem
consolidar a justiça eco-social e a sustentabilidade do planeta.
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.
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