Por Frei Betto
Todos os anos, em janeiro, os mais ricos do mundo se reúnem em Davos, na Suíça.
É o Fórum Econômico Mundial. Em contraposição a ele foi criado o Fórum Social
Mundial.
Em 2013, o Fórum de Davos alertou que o aumento acelerado da desigualdade
econômica entre os povos ameaçava a estabilidade social. Em 2014, o Banco
Mundial vestiu a camisa das instituições que se propõem a erradicar a pobreza e
promover uma prosperidade compartilhada. (Mas duvido que tenha assumido a
pele...).
Como alertou Obama em discurso na ONU, em setembro de 2016, "um mundo no
qual 1% da humanidade controla uma riqueza equivalente à dos demais 99%
nunca será estável."
Agora em 2017, a ONG britânica Oxfam, que todo ano apresenta em Davos o mapa da
desigualdade mundial, expõe dados preocupantes: 1) Desde 2015, apenas 1% da
população global concentra em mãos mais riqueza que os 99% restantes. 2) Ao
longo dos próximos 20 anos, 500 pessoas transferirão mais de US$ 2,1 trilhões
para seus herdeiros – soma mais alta que o PIB da Índia, que tem 1,2 bilhão de
habitantes. 3) A renda dos 10% mais pobres aumentou cerca de US$ 65 entre 1988
e 2011, enquanto a do 1% mais ricos aumentou cerca de US$ 11.800, ou seja, 182
vezes mais. 4) Nos EUA, pesquisa recente do economista Thomas Pickety revela
que, nos últimos 30 anos, a renda dos 50% mais pobres permaneceu inalterada,
enquanto a do 1% mais rico aumentou 300%.
O dado mais chocante,
entretanto, é a constatação de que, atualmente, apenas oito homens detêm a
mesma riqueza que a metade da população do mundo (3,6 bilhões de pessoas). São
eles: Bill Gates, Amancio Ortega, Warren Buffett, Carlos Slim, Jeff Bezos, Mark
Zuckerberg, Larry Ellison e Michael Bloomberg.
Os ingredientes para a desintegração de nossas sociedades estão dados. O
crescimento da desigualdade social é o caldo de cultura para o aumento da
criminalidade, do terrorismo e da insegurança global. Como assinala a Oxfam, há
cada vez mais pessoas vivendo com medo do que com esperança.
A conjuntura atual não é promissora: Trump leva a sua xenofobia para a
presidência dos EUA; o Reino Unido rompe com a União Europeia; as forças de
direita ampliam seus espaços políticos nos países ricos; o preconceito e a
discriminação adquirem ares de “politicamente correto”.
Por mais que isso nos espante, a lógica do cidadão comum é simples: por que
votar em candidatos progressistas se nada fazem para reduzir a aceleração da
desigualdade? Por que elegê-los se os nossos salários estão deteriorados, o
desemprego se amplia e os serviços sociais não funcionam adequadamente para a
maioria?
Embora as políticas sociais tenham retirado milhões de pessoas da miséria e da
pobreza nas últimas décadas, ainda hoje uma em cada nove pessoas vai dormir com
fome. E a fome, que não tem ideologia, facilmente reduz um homem a um animal
feroz.
Frei Betto é escritor,
autor de “Calendário do poder” (Rocco), entre outros livros.
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