Por Marcelo Barros
Nesses dias, em todo o mundo,
ocorrem diversas iniciativas de encontros e diálogos internacionais que visam a
paz no mundo ou em determinada região. A partir do dia 18, estiveram reunidos
em Roma rebeldes da Frente Democrática Nacional das Filipinas com representantes
do governo para pôr fim a anos e anos de guerra civil que já matou mais de 40
mil pessoas. A partir da 2a feira, (23), em Astana, na Síria, grupos rebeldes e
representantes do governo tentam um acordo que acabe com a guerra civil que
destrói o país. Na Colômbia, depois que grupos radicais conseguiram que a
maioria do povo desaprovasse os termos do acordo de paz entre governo e
guerrilha, um novo acordo foi assinado e parece que, finalmente, o país verá a
paz.
A maior dificuldade para todos é como
construir a paz sem o mínimo de justiça e em um mundo no qual a desigualdade
social e as injustiças estruturais se agravam a cada dia. Nesses dias, como
sempre ocorre, cada ano em janeiro, está reunido em Davos na Suiça, o Fórum
Econômico Mundial que reúne dessa vez mais de três mil pessoas da elite do
mundo. Uma das primeiras declarações do Fórum foi o reconhecimento de que as
desigualdades sociais aumentaram em todos os continentes. Conforme a declaração
dos coordenadores do fórum, em uma humanidade que conta com mais de sete
bilhões de pessoas, apenas oito pessoas (multimilionárias) possuem uma riqueza
equivalente a 3, 6 bilhões de seres humanos. O que esse fórum dos mais ricos
não deixa claro é que isso é resultado direto de uma organização econômica que
tem a finalidade de tornar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.
Tudo isso ocorre no momento em que,
nos Estados Unidos, o novo presidente assume o governo com a promessa de
começar a sua gestão cancelando a reforma do sistema de saúde que previa
beneficiar os mais pobres e reforçando as fronteiras do país contra os
migrantes.
Recentemente, circulou na internet
um comentário jornalístico no qual alguém afirmava que o povo brasileiro tinha
sido o primeiro que tinha ido às ruas para pedir sua própria ruína. E isso lhe
foi imediatamente concedido com o governo que está aí. Alguém poderia continuar
que o povo dos Estados Unidos seguiu o mesmo exemplo e aí está o resultado. No
entanto, mais do que simplesmente afirmar isso, se trata de perguntar porque,
no atual sistema do mundo, a maioria das pessoas vota como a barata que se
refugia debaixo do chinelo que vai esmagá-la. Sem dúvida, a propaganda e a
guerra insistente e contínua dos grandes meios de comunicação têm um papel
importante, embora não único. A decepção com as alternativas ditas de esquerda
também cumpre, infelizmente, o seu papel de desagregação e de um inconformismo
que parece explodir no "já que é assim, quanto pior, melhor".
Para quem tem fé na vida e busca uma
espiritualidade humana, seja em alguma religião, seja fora de qualquer tradição
religiosa, é imperativo o compromisso com a solidariedade que nos confirma na
esperança de novas formas de organizar o mundo e na missão que temos com
relação a isso.
Se na sociedade mundial, acontecem
tantos colóquios de paz, é importante que também nos nossos grupos de base,
tenhamos a coragem de nos desafiar. Precisamos exigir de nós mesmos capacidade
de diálogo e de superação não violenta dos conflitos. E darmos ao mundo um
testemunho de que começamos a ensaiar relações mais horizontais e comunitárias.
Embora, nesse momento, o mundo esteja mais desigual e injusto e que a sociedade
dominante pareça achar isso normal e até positivo (para ela), é verdade também
que os movimentos sociais e os grupos de base se rearticulam e se organizam
para enfrentar esses novos desafios. Nesse ano, teremos vários fóruns regionais
e temáticos e neles todos, um refrão será comum a todos: "Um novo mundo é
necessário. Juntos, podemos torná-lo possível".
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.
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