Por Marcelo
Barros
Esse é o tema do 24º Grito dos/as
excluídos/as que, nesse 07 de setembro, tomará conta das ruas e praças de
muitas cidades brasileiras. O Grito começou em 1994 como proposta das pastorais
sociais da Igreja Católica. O objetivo dessa iniciativa é gritar a todos que
precisamos continuar e atualizar o grito da independência. Não é possível
pensar em verdadeira independência se se ostenta o título de 3º país do mundo
em desigualdade social. Como é possível povo livre e soberano em uma sociedade
na qual apenas cinco homens possuem a renda equivalente à metade da população
brasileira?
Os movimentos sociais e também outras
Igrejas cristãs apoiaram e passaram a participar do evento. O grito dos
excluídos se contrapõe ao desfile militar. Infelizmente, esse parece mostrar
suas armas, não para defender a população e sim para garantir os privilégios da
elite que domina o país. Nesses dias, na campanha eleitoral para presidente da
República, um militar que tem apenas patente de coronel se apresenta como
representante da extrema direita. Os militares precisam tomar consciência de
que esse senhor não representa as forças armadas brasileiras. Essas existem
para defender o povo e proteger o país contra inimigos externos e não para
incitar a população à violência e ao ódio contra o diferente.
A defesa da pátria se dá de outras
formas e para outros fins. Atualmente, seus inimigos não invadem o país com
caravelas, nem precisam nos dominar militarmente. Eles se apoderam de terras na
Amazônia e compram todas as fontes de água em cidades mineiras do Circuito das
Águas. A preço de banana se apoderam do nosso parque produtivo e de tudo o que
o atual governose dispõe a vender das riquezas naturais do país.
Diante da barbárie a que estamos
diariamente expostos, os movimentos sociais e representantes de diversos
setores da sociedade civil se unem em Frentes Populares. Organizam iniciativas
educativas que conscientizam a população. E, anualmente, no 07 de setembro,
através da criatividade e do protagonismo dos grupos de base, fazem
manifestações e caminhadas para fazer ressoar o Grito dos Excluídos. Seja
participando diretamente, seja sendo solidários/as com essa movimentação, somos
todos convidados a dialogar e expressar que projeto de país queremos para o
Brasil e como devemos pensar a relação entre governo e sociedade civil.
Desde muitos anos, o Grito dos
Excluídos deixou de ser apenas brasileiro. A cada ano, no 12 de outubro, dia
que recorda a conquista e a colonização dos europeus em nosso continente, em
vários países latino-americanos, acontecem
expressões do Grito dos Excluídos.
Nesse momento atual, o império
norte-americano tem produzido golpes parlamentares e vem realizando uma guerra
de comunicação contra os governos da Venezuela e da Bolívia, assim como contra
qualquer governo que ouse ser independente. Nesse contexto, é bom recordar os
três caminhos do novo bolivarianismo que o presidente Hugo Chávez nos deixou:
1 – fortalecer a integração latino-americana
e caribenha. 2 – libertar-nos de todos os colonialismos externos e
internos. 3 – caminhar para uma justiça
econômica, em um novo socialismo democrático, construído a partir das tradições
ancestrais de nossos povos.
Seja no dia 07 de setembro no Brasil,
seja no 12 de outubro em diversos países da América Latina, o Grito dos
Excluídos acontece para deixar claro: mesmo se as pessoas e instituições não
são as mesmas, os sonhos de justiça e libertação nunca morrem. Atualmente, no
mundo todo, grupos da sociedade civil e dos movimentos sociais se organizam
para fortalecer instrumentos de diálogo e de caminho comum para a sociedade
humana. Já que a ONU é boa, mas representa apenas governos e Estados, de muitos
lugares do mundo, partem propostas para se formar uma OMHU, ou seja, uma
Organização Mundial da Humanidade Unida que possa falar verdadeiramente em nome
de todos/as os/as habitantes da Terra.
As Igrejas cristãs são chamadas a se
lembrarem de que, etimologicamente, o termo grego Igreja significa assembleia. No
seu tempo, o apóstolo Paulo chamou de Igrejas
as comunidades de discípulos/as de Jesus que tinha formado. A proposta era que
esses grupos fossem ensaios de uma humanidade nova e unida. Igreja deveria
existir em função do projeto divino da paz, da justiça e da comunhão universal
no mundo. Por isso, hoje, mais do que nunca, as Igrejas cristãs deveriam fortalecer
essas iniciativas de diálogo e unidade de toda a humanidade. Só assim, poderão
ser o que o papa Francisco tem proposto:Igreja
em saída.
Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 26
livros dos quais o mais recente é "O Espírito vem pelas Águas", Ed.
Rede-Loyola, 2003. Email: mostecum@cultura.com.
Nenhum comentário:
Postar um comentário