Por Marcelo
Barros
Nesse domingo 13 de janeiro, as
Igrejas de tradição latina e também as orientais encerraram o ciclo litúrgico
do Natal, festejando a memória do batismo de Jesus. Em muitas regiões do mundo,
nos primeiros dias do ano, as pessoas buscam entrar no mar ou banhar-se em um
rio como rito de purificação para o ano novo. Grupos espirituais e comunidades
tradicionais realizam ritos de purificação pela água, pelo ar e pelo fogo,
elementos comuns da mãe Terra, sem os quais a vida não existiria ou não seria a
mesma.
O rito original do batismo (em grego,
o termo significa mergulho), feito pelo profeta João Batista no rio Jordão, significava
um compromisso de purificação e renovação de vida. O batismo era um desses ritos
de renascimento, no qual somos convidados/as a sermos parte da Terra. Ao nos
unirmos à água, primeiro elemento da vida, assumimos o compromisso de nunca nos
distanciarmos da Terra a qual pertencemos. O próprio Jesus, ao assumir o
batismo no Jordão, fez esse sinal de se unir à terra e à água para ser profeta
do reino divino que vem ao mundo. Então, não podemos permitir que a ambição
humana continue a contaminar a flora, a fauna e o mundo mineral. A Terra, a água e a natureza não podem ser
reduzidas a meras mercadorias.
Precisamos cuidar da vida com a mesma
ternura que uma mãe vela por seu filho ou filha doente. Nosso planeta é mais do
que apenas uma bola imensa que gira ao redor do sol. É um organismo vivo dentro
do conjunto do sistema solar. Sua diversidade é comparável ao equilíbrio que há
entre os órgãos de nosso corpo, diversidade e equilíbrio indispensáveis para
que possamos viver.
Todos nós desejamos um futuro melhor
para a humanidade e para o planeta Terra, tão ameaçado pela crise ecológica.
Entretanto, para que nossos votos possam ser eficazes, é importante que o nosso
desejo se concretize em ações de solidariedade que levem a uma nova organização
da sociedade. Nossos desejos de um futuro melhor devem se concretizar no apoio
aos movimentos populares e fóruns que trabalham por um novo mundo
possível. Toda a humanidade se encontra
envolvida em uma crise que atinge as
bases do sistema social e econômico dominante. Essa situação joga as novas
gerações em uma situação deprimente de insegurança e desemprego estrutural e
ameaça destruir até as próprias condições da vida no planeta Terra.
A partir dessa semana, muitas pessoas
voltam ao seu ritmo habitual da vida e do trabalho. A Agenda latino-americana
desse ano de 2019 é dedicada às “grandes
causas no pequeno”. De fato, temos que redescobrir que as Grandes Causas
estão também comprometidas nesse imenso âmbito do “pequeno” do nosso dia a dia,
do pessoal-privado, da intimidade, do familiar, das amizades, da nossa casa, do
entretenimento, do ócio... Em tudo o que vivemos, mergulhemos na comunhão com a
Mãe Terra, nos sintamos unidos/as a toda a humanidade e todos os seres vivos.
Assim, em nós, se atualizam o batismo de Jesus, o mergulho místico de todas as
pessoas que são nossos mestres e mestras em todas as religiões e o batismo da
Mãe-Terra.
MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 44 livros publicados, dos quais “O Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede da Paz e Loyola. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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