Por Marcelo Barros
De onde estiver e como puder,
participe das propostas do Fórum Social das Resistências. De 21 a 25 de
janeiro, em Porto Alegre, esse encontro de movimentos sociais e comunidades
buscará formas mais justas de organizar a sociedade.
Nesse
início de ano, as pessoas se desejam feliz ano novo. No entanto, nem todas se
dão conta de que, a cada dia, se torna mais urgente e inadiável organizar a
sociedade de forma nova e justa. Para o Brasil e toda a América Latina, a
maioria dos analistas preveem um 2020 muito difícil, com forte aumento das
desigualdades sociais. O acirramento da
intervenção do império norte-americano nos países continuará gerando crises e
violências sociais. No plano ecológico,
também as perspectivas não são otimistas. Governos entregam nossos territórios
e cidades às empresas mineradoras e multinacionais dos agrotóxicos. Cada vez
mais, as pessoas se organizam não por países ou por culturas e sim em comunidades
virtuais, congregadas pela internet. Logo atrás dos Estados Unidos, o Brasil é
dos países nos quais há mais pessoas ligadas ao zap e às redes sociais. As
empresas aprimoram modos de controle e vigilância sobre os cidadãos. Poucos se
dão conta de que oferecem seus dados pessoais para serem utilizados de acordo
com os interesses dos donos das redes sociais.
A sociedade
dominante não leva em conta as necessidades verdadeiras da humanidade. As decisões sobre o futuro têm se concentrado
nas mãos de poucos. Estes mantêm o controle do capital global e estão em luta
entre si por cada vez mais poder e enriquecimento. Essa elite não leva em conta
o direito de todos os seres vivos (humanos, micróbios, plantas, espécies
animais). O mercado se tornou instrumento de dominação de empresas
transnacionais, anônimas e impessoais. Esse sistema transforma tudo em
mercadoria e possível de ser privatizado, inclusive as formas de vida. Nessa
realidade social e política, quem representa os seres vivos? Quem poderia falar
em nome da humanidade? Perguntas como essas provocaram pessoas de vários
continentes a se organizarem e a proporem uma aliança da humanidade em favor da
vida. É a Ágora dos/das Habitantes da Terra.
Apesar
de todas as dificuldades, os movimentos sociais se organizam e buscam uma
articulação mais fecunda. A partir da próxima semana, de 21 a 25 de janeiro,
ocorrerá em Porto Alegre o Fórum Social das Resistências. Ali, milhares de
pessoas, vindas de diversos países do continente e mesmo com representantes de
outras partes do mundo discutirão novos rumos para a construção de um novo
mundo possível.
Representantes
de povos indígenas e de comunidades quilombolas se reunirão com líderes dos
movimentos de trabalhadores. A juventude fará um acampamento internacional de
jovens. Haverá um encontro de teólogos/as da libertação e uma oficina sobre a
proposta da Ágora dos/as habitantes da Terra.
Para
quem vive um caminho espiritual, participar desse trabalho coletivo para
transformar a sociedade se revela como modo de viver a intimidade com o
Mistério Divino. Nas Igrejas cristãs, cada dia mais se desenvolvem pastorais
sociais que cultivam uma espiritualidade libertadora. O caminho da intimidade
com o Espírito se dá na caminhada social e política por um novo mundo possível.
É nas lutas sociais e na inserção em meio aos pobres que comunidades eclesiais
de base e militantes cristãos experimentam a presença do Amor Divino. Uma Igreja cristã deveria ser ensaio de uma
sociedade nova alternativa, baseada na justiça, na paz e na comunhão com a
Terra e com a natureza.
MARCELO BARROS é monge beneditino e
escritor. Tem 57 livros publicados. O mais recente é Teologias da
Libertação para os nossos dias (Vozes). Email:
contato@marcelobarros.com
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