por Kinno Cerqueira [1]
Cerca de 600 anos antes de Cristo, o Reino da Babilônia
invadiu Jerusalém, levou quase todos os seus moradores como escravos e destruiu
o Templo que havia sido construído durante o reinado de Salomão. Setenta anos
depois, a Pérsia derrotou a Babilônia e liberou os judeus para voltar à sua
pátria e reconstruir Jerusalém e o Templo. A princípio, o povo estava animado,
mas não durou muito e o ânimo do povo foi por água abaixo. Como havia muito que
reconstruir na cidade e nas roças, o povo se viu cansado e preferiu priorizar a
reconstrução de suas próprias casas e roças, enquanto a reconstrução do Templo
ia ficando para depois.
Foi neste contexto que Ageu profetizou. Em linhas gerais, a
Palavra de Deus proferida por Ageu consiste basicamente em denúncia,
constatação, chamamento e promessa. Denúncia: o povo está preso no egoísmo e no
interesse próprio, preocupando-se tão somente com a reconstrução de suas
propriedades privadas (1,2-4). Constatação: a roça do povo não vai bem e a
razão para tal é a desunião provocada pelo egoísmo (1,5-7.9-11). Chamamento: o
povo é convocado a superar o egoísmo e unir-se em vista de um projeto comum,
isto é, a reconstrução do Templo, lugar de vivência comunitária da fé (1,8;
2,4.8). Promessa: se o povo decidir viver a comunhão verdadeira, a roça irá bem
e o povo terá paz (2,15-19).
Não se pense, porém, que a reconstrução do Templo era
importante em si mesma. A grande questão que está por trás da profecia de Ageu
é o refazimento da comunhão do povo e o cuidado para com os pobres. Longe do
Templo, o povo facilmente se esqueceria da exigência fundamental de Deus: a prática
da justiça que, na Bíblia, significa assegurar a dignidade e o direito dos
pobres (Am 5,21-24; Is 1,15-17; 10,1-2; Jr 22,3). Reconstruir o Templo é
refazer a vida longe do egoísmo que atrofia os relacionamentos e adoece a
sociedade.
Reconstruir o Templo é reatar a comunhão com a vida e com o
Deus da vida, com vistas a encontrar força e inspiração para lutar pela justiça
para todos, mas especialmente e sobretudo para os empobrecidos, aqueles que
Jesus chama de “meus irmãos mais pequeninos” (Mt 25,40).
[1] Kinno Cerqueira é pastor batista, biblista e assessor do CEBI (Centro
de Estudos Bíblicos) na área de estudos bíblicos.
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