Prof. Martinho Condini
Desde que me conheço por
gente sempre ouvi falar dos nordestinos, mas dos sudestinos, não. Nos primeiros
anos escolares já era percebido o quanto importante foram os nordestinos para a
história do Brasil. Os portugueses chegaram no nordeste. Durante mais de
duzentos anos o nordeste foi a principal região do Brasil. A primeira capital
brasileira, uma cidade nordestina. Economicamente falando nossa primeira
produção em grande escala foi produzida no nordeste. Pena que o lucro dessa
produção ficava principalmente com a metrópole portuguesa e a Holanda. Durante
todo o período colonial o nordeste se fez presente econômica e politicamente. Conflitos
com invasores estrangeiros, como também, com a metrópole portuguesa devido à
exploração e as altas cobranças de impostos. Os nordestinos lideraram
movimentos importantes para tirar o Brasil do jugo de Portugal. E durante a
monarquia teve que enfrentar a fúria monárquica contra Canudos, uma macula na
história nacional. Após a proclamação da república com a mudança do eixo político
e econômico o nordeste e os nordestinos continuaram sendo importantes na
história do nosso país, como o são até os dias atuais.
Em pleno século XXI ainda
encontramos muitos sudestinos, e aqui me refiro principalmente na cidade de São
Paulo, muitas vezes se referindo aos nordestinos de maneira jocosa,
desrespeitosa e preconceituosa.
Se há um lugar neste
Brasil onde isso jamais poderia acontecer é na cidade de São Paulo, a maior
cidade nordestina do Brasil.
Acredito ser importante
relembrar que desde primeira metade do século
XX até hoje, os nordestinos tiveram e continuam tendo um papel preponderante no
desenvolvimento e crescimento da cidade de São Paulo em todos os setores
possíveis e imagináveis. Só relembrando
que a melhor prefeita da história de São Paulo foi uma nordestina, a paraibana Luiza Erundina, o patrono da educação
brasileira e um dos maiores educadores do mundo, foi radicado na cidade de São
Paulo após retornar do exílio, era nordestino, pernambucano, o Professor Paulo Freire e o maior presidente da
história republicana deste país, nordestino, pernambucano, desde menino veio
para São Paulo e aqui se forjou como homem, líder sindical e a principal
liderança dos últimos quarenta anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem contar os milhões de nordestinos
anônimos que fizeram e fazem de São Paulo a maior cidade da América Latina.
Diante desse relato o que
explicaria essa postura de empáfia e prepotência em relação aos nordestinos que
constroem a riqueza produzida nessa cidade?
Será que pelo fato desses
sudestinos terem sua origem na imigração européia (imigração portuguesa,
italiana, espanhola e outras) - que
vieram para cá, para ser tornarem mão de obra que deveria ser ocupada pelos ex-escravizados
afro descentes, - se acham “superiores”
?
Acredito que é chegado o
momento desses sudestinos da cidade de São Paulo darem conta que, se São Paulo
tem a grandeza e a pujança que tem hoje, deve e muito ao esforço e suor dos arretados e arrochados nordestinos e
nordestinas que vivem na paulicéia desvairada.
O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com
Muito bem lembrado, Martinho! O trabalho de conclusão de curso de minha esposa foi justamente a presença nordestina em São Paulo, com um recorte no Bairro de São Miguel, na zona leste.
ResponderExcluirMuito bom.
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