Marcelo Barros
Nesta sexta-feira, 12 de novembro, em Glasgow, na
Escócia, a ONU conclui a Conferência Mundial sobre as Mudanças Climáticas (COP
26). Já no final de outubro, nos dias anteriores à conferência, Antonio
Guterrez, secretário geral da ONU,
advertiu aos governos que já não bastariam os acordos para manter as
emissões de gases tóxicos na proporção antes pensada. Se o esforço não for
duplicado e não for concretizado por soluções imediatas, em poucas décadas, o
mundo chegará a um ponto sem retorno. O aquecimento global será de 2, 7 graus e
isso porá em risco toda a vida no planeta Terra.
É triste e doloroso ver o governo brasileiro ir à
reunião da ONU para apregoar as mentiras oficiais sobre o cuidado com a
Amazônia e a natureza. Sabemos que o Brasil está na COP 26 não para se comprometer com a luta contra as
mudanças climáticas e sim para pedir dinheiro às organizações internacionais.
Bolsonero e a elite do agronegócio e da mineração querem mais recursos para
melhor executar a destruição planejada das florestas, dos rios e de todos os
biomas que ainda sobrevivem.
Muitas pessoas das delegações oficiais e governos que
estão reunidos em Glasgow na COP 26 defendem a Ecologia porque “é impossível
fazer comércio em um planeta morto”, como, em documento enviado à conferência,
afirmaram empresários internacionais comprometidos com a defesa do ambiente.
Além disso, estudo da Organização Mundial da Saúde declara: as mudanças
climáticas ameaçam a saúde da humanidade. Mesmo se ainda não se podem assegurar
as origens do Coronavírus, sabe-se que a deterioração do ambiente e a poluição
das águas favoreceram a propagação da pandemia. As mudanças climáticas possibilitam
mais ainda a disseminação de doenças infecciosas como dengue, chikugunya, zika
e outras enfermidades que atingem principalmente as populações mais
empobrecidas e vulneráveis.
Há mais de dez anos, o Manifesto da Ecologia Profunda,
coordenado por Arne Naess e George Sassions, começava afirmando:
“O bem-estar
e o florescimento da vida humana e não humana sobre a Terra são valores em si
mesmos. Esses valores são independentes da utilidade do mundo não humano para
os fins do ser humano”.
Cada vez mais, quem opta por um caminho espiritual,
seja no seguimento de alguma religião, seja mesmo fora das tradições
religiosas, precisa desenvolver uma espiritualidade ecológica que consiste em
nova relação amorosa com a Terra e a Vida em todas as suas manifestações. Como
humanidade, temos a missão ética de defender a vida e a comunhão com a
natureza. Se, de alguma forma, cremos em um amor que sustenta o universo, não
podemos destruir nenhuma forma de vida, menos ainda por mera ambição de lucro
ou por simples desamor.
No Brasil, as culturas dos povos originários nos
ensinam a reverência à Mãe Terra, a veneração à Avó Água e à relação de amor
com todas as energias vivas (Espíritos ou Orixás) da natureza. Para quem mergulha
nessa sabedoria ancestral, a sustentabilidade da vida deve ser a prioridade
fundamental de toda organização da sociedade. Tanto antigas culturas, como
cientistas atuais consideram a Terra como um único organismo vivo. Derrubar uma
árvore é como cortar o braço de um ser vivo. Cada vez mais fica claro o que nos
ensina a Ecologia Integral: a prática da sociobiodiversidade como caminho do
bem viver pessoal e coletivo.
Ao adorar a Deus, fonte da vida, ou a suas
manifestações da natureza, quase todas as tradições espirituais estão
reverenciando a vida. Elas nos convidam a uma relação de carinho com toda
criatura e a uma atitude de agradecimento ao Espírito Divino por fazermos parte
desta grande comunidade da vida.
Marcelo Barros, monge beneditino e
escritor, autor de 57 livros dos quais o mais recente é "Teologias da
Libertação para os nossos dias", Ed. Vozes, 2019. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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