Leonardo boff
Como
se não bastasse o horror da pandemia do Covid-19 que vitimou mais de 600 mil
pessoas e a crise generalizada em todos os níveis de nosso país, temos que
assistir agora ao lançamento da candidatura à presidência nada menos do que do
ex-juiz Sérgio Moro, declarado parcial pelo STF.
Ele
representa a estirpe direitista do Capitão que trouxe a maior desgraça e
vergonha ao nosso país, por sua criminosa incompetência no trato da pandemia,
por lhe faltar qualquer indício de um projeto nacional, por estabelecer a
mentira como política de Estado, por absoluta incapacidade de governar e por
claros sinais de desvio comportamental . Ele mente tão perfeitamente que parece
verdade, a mentira da qual é ciente.
A
vitória do Capitão é fruto de uma imensa e bem tramada fraude, suscitando o
antipetismo, colocando a corrupção endêmica no país, como se fosse coisa
exclusiva do PT, quando sabemos ser a do mercado (sonegação fiscal das
empresas), dezenas de vezes maior que a política, defendendo alguns valores de
nossa cultura tradicionalista, ligada a um tipo de família moralista e de
uma compreensão distorcida da questão de gênero, alimentando preconceitos
contra os indígenas, os afrodescendentes, os quilombolas, os pobres, os
homoafetivos, os LGBTI e divulgando milhões de fake news, caluniando com
perversa difamação o candidato Fernando Haddad. Informações seguras constataram
que cerca de 80% das pessoas que receberam tais falsas notícias acreditaram
nelas.
Por trás do triunfo desta extrema-direita, atuaram
forças do Império, particularmente, da CIA e da Secretaria de Estado dos USA
como o revelaram vários analistas da área internacional. Ai atuaram também as
classes dos endinheirados, notórios corruptos por sonegar anualmente bilhões em
impostos, parte do Ministério Público, as operações da Lava-Jato, eivadas
de intenção política, ao arrepio do direito e da necessária isenção, parte do
STF e com expressiva força o oligopólio midiático e a imprensa
empresarial conservadora que sempre apoiou os golpes e se sente mal com a
democracia.
A
consequência é o atual o descalabro sanitário, político, jurídico e
institucional. É falacioso dizer que as instituições funcionam. Funcionam
seletivamente para alguns. A maioria delas foi e está contaminada por
motivações políticas conservadoras e pela vontade de afastar Lula e o PT da
cena política por representarem os reclamos das grandes maiorias exploradas e
empobrecidas, historicamente sempre postas à margem.
A justiça foi vergonhosamente parcial especialmente
o foi pelo justiceiro ex-juiz federal de primeira instância, agora candidato,
que tudo fez para pôr Lula na prisão,mesmo sem materialidade criminosa para
tanto. Ele sempre se moveu, não pelo senso do direito, mas pelo law fare (distorção do direito para condenar o
acusado), pelo impulso de rancor e por convicção subjetiva. Diz-se que estudou
em Harvard. Fez apenas quatro semanas lá, no fundo para encobrir o treinamento
recebido nos órgãos de segurança dos USA no uso da law fare.
Conseguiu impedir que Lula fosse candidato à
presidência já que contava com a maioria das intenções de voto e até lhe
sequestraram o direito de votar. Agora Moro se apresenta como candidato à
presidência, arrebatando do Capitão a bandeira do combate à corrupção
quando ele primou por atos corruptos e por conchavos com as grandes
empreiteiras para fazerem delações forçadas que incriminassem a Lula e a
membros do PT.
A vitória fraudulenta do Capitão
(principalmente por causa dos milhões de fake news) legitimou uma cultura da
violência. Ela já existia no país em níveis insuportáveis (os mais de 30 a 40
mil assassinatos anuais). Mas agora ela se sente legitimada pelo discurso de
ódio que o candidato e agora presidente continua a alimentar. Tal
realidade sinistra, trouxe como consequência, um forte desamparo e um
sofrido vazio de esperança.
Este cenário adverso ao direito e a tudo o
que é justo e reto, afetou nossas mentes e corações de forma profunda. Vivemos
num regime militarizado e de exceção, num tempo de pós-democracia (R.R.
Casara). Agora importa resgatar o caráter político-transformador da
esperança e da resiliência, as únicas que nos poderão sustentar no quadro de
uma crise sem precedentes em nossa história.
Temos que dar a volta por cima, não considerar a
atual situação como uma tragédia sem remédio, mas como uma crise fundamental
que nos obriga a resistir, a aprender desta escabrosa situação e a sair mais
maduros, experimentados e seguros, também da pandemia, para definir um novo
caminho mais justo, democrático e popular.
Urge ativar o princípio esperança que
é aquele impulso interior que nos leva a nos mover sempre e a projetar
sonhos e projetos viáveis.São eles que nos permitem tirar sábias lições
das dificuldades e dos eventuais fracassos e nos tornar mais fortes na
resistência e na luta. Lembremos do conselho de Dom Quixote:”não devemos
aceitar a derrota sem antes de dar todas as batalhas”. Daremos e venceremos.
Importa evitar, dentro da democracia, a
continuidade do atual e do pior projeto para o país, urdido de ódio,
perseguição, negacionismo da ciência e da gravidade letal do Covid-19. É
operado atualmente pelo Capitão e seus apaniguados e, supomos, prolongado pelo
ex-juiz, candidato à presidência, cujas características, parece, se confundir
com aquelas do Inominável. Desta vez não nos é permitido errar.
Leonardo Boff escreveu: Brasil: concluir a refundação ou prolongar a dependência, Vozes
2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário