Prof. Martinho Condini
Na semana passada
ocorreram muitos debates, entrevistas e reflexões com representantes dos
movimentos negros pelo dia Consciência
Negra, data símbolo da luta contra o racismo e construção de políticas
públicas antirracistas. Essa luta liderada pelos movimentos negros é histórica
e acontece há séculos. Uma luta que deve ser de todas as pessoas que de alguma
maneira se sintam incomodadas e responsáveis pela construção de uma sociedade
mais justa, igualitária e antirracista.
Mas sem sombra de dúvida
o protagonismo e liderança de todo esse processo está nas mãos daqueles que são
há tempos severamente humilhados, maltratados, desrespeitados e assassinados
injustamente: as crianças, os jovens e os adultos, negras e negros da nossa
sociedade.
As pessoas brancas
engajadas nessa luta devem participar sim, mas como aliados, jamais como
protagonistas, pois a dor e a revolta sentida pelos afrodescendetes é
intransferível, jamais brancas e brancos sentirão a crueldade do racismo num
país tão racista como o nosso.
A branquitude é algo tão vergonhoso e asqueroso quanto o racismo. E
foi a partir dessa branquitude que se
constituiu uma cultura de expressões, apelidos e outras manifestações racistas
que passaram a ser compreendidas como algo natural como: mercado negro, magia negra, lista negra, caderno negro, ovelha negra,
serviço de preto, criado mudo, a coisa ta preta, denegrir, cabelo ruim, negro
de traços finos, alma branca, tem pé na cozinha, cor do pecado, samba do criolo
doido, meia tigela e fazer nas coxas. Eu incluo neste rol de expressões o
termo sexta-feira negra.
Por isso, há àqueles que dizem que não aceitar
mais essas expressões, piadas, apelidos ou se referir a uma negra ou negro de
maneira jocosa ou ofensiva não tem nada de mais, é mimi.
São por essas e outras
que temos que ouvir a Bruxinha do Brasil
(ex-ministra da cultura desse desgoverno), sugerir a criação do Dia da Consciência Branca, que tal 5 de
fevereiro, dia do aniversário dela? Essa mulher é burra, mal intencionada
ou fascista? Pelo seu histórico como atriz e pelas suas escolhas políticas ao
longo dos anos, há possibilidade que seja as três.
As pessoas que pensam
como a Bruxinha do Brasil, que
questionam o Dia da Consciência Negra e
a ausência do Dia da Consciência Branca
(essas pessoas não são poucas, já vi esse tipo de questionamento numa sala de
professores, por colegas de profissão), neste final de semana devem estar
enlouquecidas consumindo nas Bleque
Fraide da vida.
Um país com histórico de
mais de trezentos anos de trabalho escravo e que após a abolição em 1888, criou
uma política de embranquecimento da sociedade concomitantemente a construção de
um encantamento com a imigração européia que possibilitou o desenvolvimento de
um racismo estrutural que nos envergonha, e é o grande mau da nossa sociedade (sem
o seu fim jamais seremos uma verdadeira democracia), jamais deveria utilizar
esse termo Bleque Fraide. Mas
infelizmente ainda carregamos uma forte influência da síndrome da colonização,
e por isso copiamos qualquer porcaria, seja de metrópoles ou das nações
imperialistas.
Mas para a branquitude, representada pela supremacia
branca capetalista judaíco-cristã da nossa sociedade, utilizar essa expressão
não tem importância nenhuma (muito pelo contrário, parece que estamos em Nova
Iorque), é apenas uma expressão atrelada a uma ação para enriquecer ainda mais
os capetalistas brancos.
Apesar da expressão bleque fraide não ter relação comprovada
da liquidação de venda de escravos nos Estados Unidos, já que a expressão
surgiu seis anos após o fim da escravidão naquele território, aqui no Brasil
toda expressão que se utiliza da palavra negro ou negra, é necessário muita atenção e cuidado,
porque o nosso racismo estrutural é sutil, perigoso, perverso e profissional.
Pois é, você se reuniria
com amigas ou amigos em um bar ou restaurante de nome Auschwitz?
Então, aqui no Brasil, mais precisamente na cidade de São Paulo,
centenas de pessoas se reúnem para se divertir no bar e restaurante Senzala.
É bem provável que essas pessoas que vão a um espaço denominado Senzala pense da mesma forma que a Bruxinha do Brasil.
O que faltam a essas pessoas é conhecer a história de seu país e ter um
pingo de vergonha na cara.
Belo e oportuno texto, meu caro mestre!!!!
ResponderExcluirPerfeito! Perfeito! Perfeito, mestre Condini. Meus parabéns!
ResponderExcluirMartinho. Seu texto nos traz profundas reflexões nesse tempo em que nos deparamos, ainda mais, com a crueldade do racismo.
ResponderExcluirImportante reflexão. Parabéns!
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