Marcelo Barros
Parece estranho falar em Páscoa para o mundo, cada vez
mais sufocado pela crueldade de uma elite sem coração que organiza a sociedade
de modo a sacrificar milhões de pessoas. A imprensa ocidental denuncia os
crimes do governo russo na Ucrânia e cala o genocídio provocado pelo império
dos Estados Unidos, responsável pela maioria das 28 guerras que destroem o
mundo atual. O governo chinês acusa o serviço de inteligência norte-americano
de fabricar armas biológicas e usar até aves migratórias para espalhar epidemias
mortais em países que o império considera indesejáveis.
Nestes dias, desde a sexta-feira, 15 de abril, as
comunidades judaicas celebram a Pessach
de 2022, que chamam “A Festa da nossa libertação”. As Igrejas cristãs se
incorporam a esse mesmo espírito e também celebram a Páscoa. Em todas as
tradições religiosas, é o único caso de duas religiões diferentes celebrarem a
mesma festa e ao mesmo Deus, embora com formas e até significados diversos. De
fato, as Igrejas retomam a memória do Êxodo bíblico, mas celebram dão a essa
festa o sentido do memorial da morte e da ressurreição de Jesus, como fonte de
libertação total e de vida nova para toda a humanidade.
Falar em Páscoa para o mundo não significa pensar que
este vá ser transformado por algum milagre ou deva ser incorporado a alguma
tradição religiosa. A Páscoa teve o seu início na celebração da primavera no
antigo Oriente Médio. Tribos festejavam a lua cheia e dançavam ao ar livre,
saboreando as primícias da colheita ou do rebanho de ovelhas. Em hebraico, o
termo Páscoa significa passos. Conforme a Bíblia, essa celebração anual da
vida, tornou-se a comemoração da vitória do povo hebreu que, pela força do
Espírito, se libertou da escravidão. Jesus celebrou a Páscoa, doando a sua vida
e abrindo a toda a humanidade a possibilidade de viver a liberdade dos filhos e
filhas do Amor Divino.
Não se pode reduzir a Páscoa apenas à celebração
religiosa. Não foi essa a tradição bíblica e nem deve ser essa a visão cristã.
Os evangelhos chamam de “reino de Deus” o mundo transformado, de acordo com o
projeto divino de amor, justiça e paz.
Diariamente, os cristãos oram, não para que Deus os conduza a um mundo à
parte e sim: “Venha a nós o teu reino”.
No Brasil atual, mais de 20 milhões vivem a
insegurança alimentar. A cada dia, aumenta a população jogada nas ruas das
cidades como refugiados em campos de concentração. Cada ano, o 19 de abril é
consagrado pela ONU como o dia pan-americano dos povos indígenas. Em Brasília,
representantes dos povos originários acampam para denunciar o permanente
desrespeito da sociedade dominante aos direitos dos índios, assegurados pela
Constituição de 1988. À medida que nos unimos à causa dos povos originários e
todas as pessoas marginalizadas por este sistema cruel que domina o mundo, testemunhamos
que um novo mundo é possível e nos dispomos a caminhar juntos, para que a
justiça e a paz possam brilhar nas relações humanas e na nossa comunhão com a
mãe Terra. Já idoso, Dom Pedro Casaldáliga ensinava: “Nossa missão é espalhar
pelo mundo ressurreição”.
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