Cerca de 300 pessoas
participaram de uma celebração Eucarística na noite do sábado 15 de outubro que
relembrou um ano da morte do coronel Brilhante Ustra, um dos principais
símbolos da repressão à luta armada durante a ditadura militar. A missa foi
realizada na paróquia militar de São Miguel Arcanjo e Santo Expedito, na Asa
Norte, região central de Brasília.
Apesar da missa ser
dedicada á memória de várias outras pessoas, a única citada pelo coronel
capelão José Eudes da Cunha, em sua homilia, foi Ustra. E, em sua fala o
celebrante disse que várias injustiças foram cometidas pela história e que era
importante perseverar em busca da verdade, que sempre prevalece no final. O
padre coronel encerrou a sua homilia afirmando que Ustra foi um “herói que
lutou pela justiça e pela paz, mas que acabou sendo incompreendido.
Difícil é ser
incompreendido quando o relatório final da Comissão Nacional da Verdade mostra
que, só na gestão de Ustra, o DOI de São Paulo foi o responsável pela morte ou
desaparecimento de ao menos 45 presos políticos.
Os três volumes do
relatório citam Ustra 137 vezes e o inclui na lista de “autores de graves
violações de direitos humanos”. E afirma que ele “teve participação direta em
casos de prisão detenção ilegal, tortura, execução, desaparecimento forçado e
ocultação de cadáver”.
O coronel morreu sem nunca
ter respondido por seus crimes, hediondos como toda forma de tortura, tendo sido
anistiado pela própria ditadura militar.
Indignadas com a elevação de
um torturador conhecido à categoria de herói , ainda mais por um padre da
Igreja Católica, durante uma celebração Eucarística, 568 pessoas, de todo o
Brasil, das mais diversas profissões e segmentos, assinaram uma carta em repúdio ao acontecido.
A carta foi entregue a CNBB – Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil, na última quinta feira , 27 de outubro, nas mãos D. Leonardo
Ulrich Steiner, secretário-geral da instituição. Estiveram presentes ao
ato de entrega : Adriana Margutti, Antonia Vanderlúcia de O. Simplício, Nilton
Tubino. Paulo Roberto Martins Maldos e Samuel de Albuquerque Carvalho.
Na entrega da carta foi lido e entregue a Dom Leonardo
um texto parafraseando a música CÁLICE, de Chico Buarque de Holanda, adaptado
por Vanderlúcia:
“Pai! Afasta de mim esse cálice!
Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue.
Como beber Dessa bebida amarga
Tragar a dor Engolir a labuta
Mesmo calada a boca Resta o peito
Silêncio na cidade Não se escuta
De que me vale Ser filho da santa
Melhor seria Ser filho da outra,
Outra realidade, sem Repressões, Prisões, torturas e Sem Mortes.
Outra realidade, sem tantas mentiras, hipocrisias e intolerância;
Outra realidade, sem latifúndio, sem fome e sem miséria;
Outra realidade, com Dignidade, Moradia, Emprego, Saúde, Educação...;
Outra Realidade, com democracia, Reforma Agrária e demarcação das terras
indígenas e Quilombolas;
Pai! Afasta de mim, O GOLPISTA Michel TEMER e Seus aliados,
Afasta de mim:
- O Golpe contra o povo;
- A PEC 241/55 e seu pacote de Maldades e Retrocessos;
- A Reforma do Ensino Médio e a Escola da Mordaça;
- A Reforma da Previdência e a Privatização da Saúde, Educação e de nosso
patrimônio público;
Pai! Afasta de mim a DITADURA, AS REPRESSÕES E AS TORTURAS!
Por isso estamos aqui, em nome de Milhares de Brasileiros e Brasileiras, dos
Movimentos Sociais, do Movimento de Ocupação das Escolas, dos mais de 500
companheiros e companheiras, professores, funcionários públicos, artistas e
militantes, que assinaram esta carta, em Repúdio a atitude do Coronel
Capelão: JOSÉ EUDES DA CUNHA, que celebrou no dia 15 de outubro 2016, Missa em
homenagem ao torturador, CORONEL CARLOS ALBERTO BRILHANTE USTRA.
Não queremos que TORTURADORES como ele sejam homenageados como Heróis de nossa História.
Pai! Afasta de Mim esse cálice!
De vinho tinto de Sangue!”
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