Por Marcelo Barros
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Nesse domingo, 06 de novembro, a
Igreja Católica no Brasil celebrou a festa de Todos os Santos. Com essa
celebração, a liturgia quer sinalizar que existe uma comunhão profunda entre
todos os batizados. Tanto os cristãos da terra quanto os que já partiram dessa
vida formam uma só unidade em Cristo. Nesse mesmo domingo, a ONU celebrou “o
dia internacional para a prevenção da exploração do meio ambiente”. Há uma
relação entre as duas comemorações. De fato, o motivo mais profundo do cuidado
com a Terra e a natureza é que formamos com todos os seres vivos uma só
comunidade da Vida e essa comunidade depende do ecossistema em que vive: a
Terra, nossa casa comum.
Em todo o Brasil, as comunidades
católicas já começam a receber os subsídios para a Campanha da Fraternidade de
2017 que será sobre o cuidado e a proteção dos oito biomas que estão no
território brasileiro e que atualmente têm sua integridade ameaçada pela
destruição ecológica.
Governos e instituições transnacionais,
principais responsáveis pela destruição da natureza percebem que os desastres
ecológicos lhes têm dado prejuízo. Por isso, querem preveni-los, mas sem mudar
o percurso de exploração que o Capitalismo impõe. Em todos os países do Sul,
continuam apoiando grandes empresas mineradoras que, para explorar o subsolo, destroem terras, matas e rios. Promovem a
agroindústria baseada em agrotóxicos e sementes transgênicas. Enquanto, o processo econômico continuar a ter como
objetivo o lucro acima de tudo, não há esperança de proteção da natureza. A
própria ONU que propõe a prevenção sabe que precisa tomar a coragem de ser
coerente com essa proposta.
Atualmente, a Terra abriga mais de
sete bilhões de pessoas. Esse número é quase sete vezes maior do que em 1830,
época da revolução industrial e início do processo de crescimento acentuado das
áreas urbanas. Nos próximos 50 anos, a previsão para o mundo é de 9 bilhões de pessoas. Como viverá essa população, se metade dos
recursos hídricos disponíveis para consumo humano e 47% da área terrestre já
são utilizados? Estudos afirmam: a relação entre crescimento populacional e o
uso de recursos do Planeta já ultrapassou em 20% a capacidade de reposição da
biosfera e esse déficit aumenta cerca de 2,5% cada ano. Isso quer dizer que a
diversidade biológica – de onde vêm novos medicamentos, novos alimentos e
materiais para substituir os que se esgotam – está sendo destruída muito mais
rápido do que pode ser reposta. Esse desequilíbrio está crescendo. Até 2030,
70% da biodiversidade poderá ter desaparecido.
Graças a Deus, temos uma esperança.
A cada dia, no mundo inteiro, cresce o número de pessoas e grupos que
aprofundam a espiritualidade e se põem em diálogo para buscar novos caminhos. O
resgate da dignidade da Terra, da Água e do Ar está na ordem do dia de grupos
espirituais das mais diversas tradições.
Em toda a América Latina, um dos
mais importantes sinais de esperança para a causa ecológica é o fortalecimento
do movimento indígena. No Brasil, como em outros países, apesar da
insensibilidade de governos e cumplicidade indiferente da sociedade dominante,
diversos povos indígenas têm conseguido sobreviver, se reorganizar e refazer
seu modo de vida tradicional. Nos Andes, na Amazônia e no Centro-oeste, cuidam
da natureza e propõem como novo paradigma de civilização o Bem-Viver. O cuidado
com a Terra, a Água e todos os seres vivos é elemento essencial desse processo
cultural e religioso.
As próprias Igrejas cristãs que,
durante séculos, pareciam não ligar o ato criador de Deus com sua atuação
salvadora na história, nas últimas décadas têm todas aprofundado esta questão.
O papa Francisco publicou uma encíclica sobre o cuidado da casa comum e
propondo como saída para essa crise uma ecologia integral que integre a justiça
socioambiental com a espiritualidade de um novo cuidado com a natureza. Todos
nós somos implicados e envolvidos por essa celebração amorosa da Vida.
Marcelo Barros, monge beneditino e escritor.
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