por Frei
Betto
A divulgação da lista de políticos delatados pelos réus da Lava Jato nos deixam
importantes lições:
1. Nós votamos, o poder econômico elege. Sempre foi assim,
desde que se introduziu o voto na política brasileira, em 1891. Candidatos
criam caixa dois, compram votos, distribuem brindes, fazem ameaças.
Os custos da campanha não costumam sair do bolso deles. Saem dos cofres de
bancos, empresas, instituições (como a Fiesp), Igrejas, paraísos fiscais e
contravenção (jogo do bicho, narcotráfico etc).
Aprovou-se agora uma lei que proíbe o financiamento de campanhas eleitorais por
pessoas jurídicas. Ilusão supor que não haverá caixa dois. O capitalismo é
intrinsecamente corrupto. Nele o capital não conhece fronteiras e impera acima
da lei.
2. Muitos políticos são eleitos, não para representar seus eleitores, e
sim para servir aos interesses de quem banca a campanha eleitoral. É o
que a Lava Jato comprova. Até Medidas Provisórias foram encomendadas pela
Odebrecht. Leis são modificadas em função de interesses corporativos.
3. A maioria dos políticos brasileiros não tem ideais, projetos ou
propostas. Eles têm negócios. Fazem da função pública um balcão de
negócios privados. Lixam-se para o povão. Odeiam pobres e se sentem incomodados
com a mobilização dos movimentos populares.
4. A política brasileira virou um regime de dinastia. Pais
elegem filhos, e maridos elegem a mulher, e eles, por sua vez, abrem caminho às
suas descendências. É a nobreza da República. E, assim, ampliam largamente o
patrimônio e o poder de barganha.
5. A Lava Jato jogou uma ducha de água fria na safadeza generalizada de
muitos políticos. Querem desesperadamente amenizar os estragos por
terem sido denunciados. Sonham em não perder o foro privilegiado. Por isso,
mexem os pauzinhos para limitar a ação do Judiciário e do Ministério Público
sob o pretexto de “abuso de autoridade”. Descaradamente propõem o voto em lista
para que o eleitor vote sem saber quem elege. A escolha dos eleitos
ficaria a critério dos caciques que mandam em seus partidos, como um latifundiário
manda em suas terras.
6. Você, eu, todos nós pagamos a roubalheira levantada pela Lava Jato. Isso
mesmo, porque o dinheiro das propinas veio dos nossos impostos. Dinheiro que
deveria ter sido aplicado na saúde, na educação, na agricultura familiar etc.
As obras encomendadas pelos políticos desonestos foram superfaturadas, para que
as empreiteiras repassassem a eles as propinas.
Embora haja políticos éticos, não se deve exigir
apenas ética dos políticos, mas sobretudo ética na política.
7. Só uma profunda reforma política, com um governo que tenha projeto
de nação, e não apenas de poder, poderá reduzir as anomalias da política
brasileira. Porém, enquanto perdurar a desigualdade social haverá de
vigorar o império da corrupção e do cinismo. Só haverá verdadeira democracia
política quando houver de fato democracia econômica.
Frei
Betto é escritor, autor do romance policial “Hotel Brasil” (Rocco), entre
outros livros.
Copyright 2017 – FREI BETTO – Favor não divulgar este artigo sem
autorização do autor. Se desejar divulgá-los ou publicá-los em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, entre em contato
para fazer uma assinatura anual. – MHGPAL – Agência Literária (mhgpal@gmail.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário