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quarta-feira, 5 de abril de 2017

PAPA FRANCISCO VÊ RISCO DE MORTE PARA A EUROPA SE NÃO REENCONTRAR SEUS IDEAIS


Por Juracy Andrade


Há 60 anos, no dia 25 de março de 1957, era assinado o Tratado de Roma que criou a Comunidade Econômica Europeia (CEE), uma evolução do Mercado Comum Europeu (MCE). Este abrangia França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, a chamada Europa dos Seis. Criados pouco tempo após a 2ª Guerra Mundial, obedeciam àquele estado de espírito pós-guerra que pretendia unir o mundo e acabar com as conflagrações. . Amarga ilusão, pois somente cinco anos depois da rendição da Alemanha e do grande terrorismo praticado pelos EUA em Hiroshima e Nagasaki, Washington, embalado pela Guerra Fria, iniciou na Coreia a 3ª Guerra Mundial, que dura até hoje. Os fabricantes de armas, coitadinhos, estavam no prejuízo. A própria Europa voltou a conhecer guerras fratricidas nos Bálcãs, após a dissolução da Iugoslávia pós-Tito.

Foi também assinado então o tratado anexo da Comunidade Europeia de Energia Atômica.(Euratom). Por ocasião das celebrações do marco positivo que foi a constituição da CEE, o papa Francisco (que Deus o proteja dos trogloditas da Cúria Romana) falou aos 27 líderes da União Europeia (UE, último estágio da CEE), no Vaticano, que a Europa corre o risco de morrer se não reencontrar seus ideais fundadores. Entre os líderes presentes, Angela Merkel e François Hollande, governantes da Alemanha e da França que, no passado, se engalfinharam em tantas guerras mortíferas (apesar de tão “cristãos”).

Lembramos que o papa argentino recebeu, em 2016, o Prêmio Carlos Magno por seu compromisso pela unificação europeia e também que ele se manifesta frequentemente no sentido de que a Europa seja uma terra de acolhida, sem a xenofobia que a ataca atualmente. Um de seus temas prioritários é que os imigrantes e refugiados sejam vistos como novos europeus. O papa chegou a visitar a ilha italiana de Lampedusa, um ponto de desembarque dos refugiados africanos e orientais que conseguem atingir o continente europeu.

Repetindo o que disse no Parlamento Europeu, na cidade francesa de Strassbourg, há três anos, Francisco pediu que a Europa encontre novos caminhos, aposte no futuro, apure um novo humanismo. Lembrou que, o velho patrimônio europeu é o melhor antídoto contra a falta de valores do nosso tempo, terreno fértil para todos os extremismos.

Em Maastricht, na Holanda, 35 anos mais tarde, foi assinado o tratado que, afinal, constituiu o coroamento de uma longa trajetória de unificação que começou com a Europa dos Seis, o Benelux (seu antecessor, que juntava só Bélgica, Holanda e Luxemburgo) e a CEE. Era criada a União Europeia (UE). Ao tratado está ligada a criação da moeda única em vigor na Zona do Euro ou Eurozona.

Todo esse edifício, construído com generosidade durante muitos anos, ameaça ruir com crises sem fim, sobretudo com a saída do Reino Unido, votada em plebiscito. Daí os apelos de Francisco, que, mesmo não sendo europeu, é de um continente herdeiro da cultura e do humanismo da velha Europa. Esta, cedo acolheu a pregação do cristianismo, pelas mãos do apóstolo Paulo.

O autor é jornalista com formação em filosofia e teologia


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