Frei Betto
O
ator de filmes pornô Alexandre Frota declarou em programa de TV, em 2015, que
estuprou uma mãe de santo até ela desmaiar. Como era de se esperar, Eleonora
Menicucci, então à frente do Ministério das Mulheres, repudiou a apologia ao
crime.
Em
maio de 2016, o ministro da Educação do governo Temer, Mendonça Filho, recebeu
em audiência Alexandre Frota, para ouvir propostas para a educação básica e
defender o projeto “Escola sem partidos” (exceto os conservadores).
Em
nota na Folha de S. Paulo, Eleonora Menicucci declarou: "Lamento, como
ex-ministra e cidadã, que o ministro golpista Mendonça Filho tenha recebido,
como primeira pessoa da sociedade civil, um homem que foi à TV e fez apologia
do estupro. Fico muito preocupada com a educação de nossa juventude, e
lamento muito."
Alexandre
Frota decidiu, então, processar a ex-ministra por danos morais. Pediu R$ 35 mil
de indenização. Em setembro de 2016, na audiência de conciliação, ele sugeriu
que ela pedisse desculpas, o que não foi aceito.
Em
maio deste ano, a juíza de primeira instância Juliana Nobre Correia emitiu sentença condenando Eleonora
Menicucci a pagar R$ 10 mil a Frota, alegando que ela ultrapassara o limite da
crítica.
Em agosto, teve início o julgamento do recurso em segundo instância, e a
relatora, Fernanda Melo de Campos Gurgel, proferiu voto a favor da juíza que condenara a ex-ministra.
Que
país é este em que mulheres defendem quem faz apologia do estupro e condenam
quem ergue a voz em prol da dignidade das vítimas; juízes repassam ao Congresso
Nacional, repleto de corruptos, o direito de julgar seus pares; um rapaz é
preso acusado de traficante por ser pobre e estar bem vestido e, em seguida,
sua mãe é assassinada por policiais do Bope-Rio por defender o filho? Que país
é este no qual dois amigos do presidente são flagrados com malas de dinheiro;
Temer recebe na calada da noite o dono da JBS que confessou ter corrompido
quase dois mil políticos; e tudo fica como dantes no quartel de Abrantes?
Talvez
os olhos vendados do símbolo da Justiça não representem isenção nos
julgamentos, e sim vergonha por tantas inversões judiciais. Bem recomenda Chico
Buarque: “Chame o ladrão... chame o ladrão...”
Frei Betto
é escritor, autor de “Batismo de Sangue” (Rocco), entre outros livros.
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