A chegada da primavera é ocasião de
festa para todos os povos. Muitas
comunidades tradicionais, indígenas e africanas, celebram a primavera com ritos
para que as pessoas se renovem e readquiram a energia da juventude. A festa da Páscoa nasceu em
tempos imemoriais, em ritos de primavera e renovação da vida. O próprio termo
“Páscoa” significa passagem. Não indica somente mudança de estação, mas a
decisão de passar de uma vida acomodada e rotineira para um novo modo de viver.
É possível que, em seu início, Páscoa fosse o nome de uma dança sagrada, na
qual se ensaiavam passos para o futuro e para a vida.
Nesse
ano de 2019, a festa cristã da Páscoa coincide com a celebração da Pessah
judaica que começou na sexta-feira 19 e dura uma semana. No judaísmo, o título
da festa é “Pezah zeman herutenu” : “a estação da nossa
libertação”. O cristianismo fala de “festa da Ressurreição”. A forma e o
conteúdo das celebrações variam, mas a raiz é a mesma. A Páscoa judaica tornou-se
a comemoração da noite em que o Senhor libertou os hebreus da escravidão. Os
cristãos celebram essa memória e acrescentam o memorial da morte e ressurreição
de Jesus Cristo.
Foi
quando celebrava a Páscoa com sua comunidade que Jesus foi preso e assassinado..
Na madrugada do domingo que se seguia ao grande sábado da festa, Jesus
deixou-se ver, vivo. O Senhor ressuscitado revela-se com o corpo ferido e
chagas abertas nas mãos, nos pés e no peito. Mas, está vivo e resistente. Seus
discípulos se alegram em vê-lo vivo e lembram sua palavra: “Filhinhos, no mundo vocês sempre terão
aflições. Tenham coragem: eu venci o mundo”(Jo 16, 33).
Ser discípulo/a de Jesus é testemunhar
ao mundo essa energia da ressurreição, atuante nele e por seu Espírito, em todas
as pessoas que o aceitam. Essa energia de ressurreição é força de resistência e
vigor nas lutas pacificas pela transformação do país e do mundo. No mundo, os
poderes da morte continuam agindo. O desamor organiza um mundo escravo do
dinheiro e do poder; uma sociedade cruel e sem compaixão. Mas, no coração de
muita gente, os gritos de Páscoa ressoam teimosamente.
Celebrar
a Páscoa não vai mudar mecanicamente a situação social, política, ou econômica,
mas vale como profecia e grito de liberdade para dar força a quem assume as
lutas pela transformação do mundo.
No
meio das mais áridas paisagens, as flores resistem. Mesmo a lagarta aparentemente
mais asquerosa é chamada a uma mudança radical. Rompe o casulo, ganha asas para
voar e se transforma em uma linda borboleta. É símbolo da vocação do ser humano
para esse caminho pascal.
Nesse ano de 2019, no Ocidente, a
festa da Páscoa coincide com a celebração do Dia mundial da mãe-Terra, data
aprovada pela assembleia geral da ONU e mantida a cada ano no dia 22 de abril.
Os desequilíbrios climáticos que vimos
assistindo, na forma de ondas de calor mais fortes do que o costumeiro,
furacões que atingiram a África oriental e nas chuvas torrenciais que provocam
destruições em nossas cidades revela que precisamos mudar o modo de organizar a
sociedade, baseado na exploração da natureza. O dia mundial da mãe Terra quer
provocar uma maior consciência da urgência do cuidado que devemos ter com a mãe
Terra, agredida e ameaçada em seu sistema de vida.
A ressurreição é a energia de Deus
para transformar o universo. Celebremos, então, esta festa e vivamos este
caminho pascal no aprofundamento da solidariedade como forma de viver a fé e a
intimidade com Deus, a renovação de nossas vidas e a comunhão amorosa com a mãe
Terra e todo o universo que nos rodeia. Como cantam as comunidades: “Cristo ressuscitou, o sertão se abriu em
flor. Da terra, água surgiu. Era noite e o sol brilhou”.
MARCELO BARROS é monge beneditino e
escritor. Tem 44 livros publicados, dos quais “O Espírito vem pelas
Águas", Ed. Rede da Paz e Loyola. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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