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terça-feira, 23 de abril de 2019

PÁSCOA PARA NÓS E PARA A MÃE TERRA



 Por Marcelo Barros 

A chegada da primavera é ocasião de festa para todos os povos.  Muitas comunidades tradicionais, indígenas e africanas, celebram a primavera com ritos para que as pessoas se renovem e readquiram a energia  da juventude. A festa da Páscoa nasceu em tempos imemoriais, em ritos de primavera e renovação da vida. O próprio termo “Páscoa” significa passagem. Não indica somente mudança de estação, mas a decisão de passar de uma vida acomodada e rotineira para um novo modo de viver. É possível que, em seu início, Páscoa fosse o nome de uma dança sagrada, na qual se ensaiavam passos para o futuro e para a vida.

Nesse ano de 2019, a festa cristã da Páscoa coincide com a celebração da Pessah judaica que começou na sexta-feira 19 e dura uma semana. No judaísmo, o título da festa é “Pezah zeman herutenu” : “a estação da nossa libertação”. O cristianismo fala de “festa da Ressurreição”. A forma e o conteúdo das celebrações variam, mas a raiz é a mesma. A Páscoa judaica tornou-se a comemoração da noite em que o Senhor libertou os hebreus da escravidão. Os cristãos celebram essa memória e acrescentam o memorial da morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Foi quando celebrava a Páscoa com sua comunidade que Jesus foi preso e assassinado.. Na madrugada do domingo que se seguia ao grande sábado da festa, Jesus deixou-se ver, vivo. O Senhor ressuscitado revela-se com o corpo ferido e chagas abertas nas mãos, nos pés e no peito. Mas, está vivo e resistente. Seus discípulos se alegram em vê-lo vivo e lembram sua palavra: “Filhinhos, no mundo vocês sempre terão aflições. Tenham coragem: eu venci o mundo”(Jo 16, 33). 

Ser discípulo/a de Jesus é testemunhar ao mundo essa energia da ressurreição, atuante nele e por seu Espírito, em todas as pessoas que o aceitam. Essa energia de ressurreição é força de resistência e vigor nas lutas pacificas pela transformação do país e do mundo. No mundo, os poderes da morte continuam agindo. O desamor organiza um mundo escravo do dinheiro e do poder; uma sociedade cruel e sem compaixão. Mas, no coração de muita gente, os gritos de Páscoa ressoam teimosamente.

Celebrar a Páscoa não vai mudar mecanicamente a situação social, política, ou econômica, mas vale como profecia e grito de liberdade para dar força a quem assume as lutas pela transformação do mundo.

   No meio das mais áridas paisagens, as flores resistem. Mesmo a lagarta aparentemente mais asquerosa é chamada a uma mudança radical. Rompe o casulo, ganha asas para voar e se transforma em uma linda borboleta. É símbolo da vocação do ser humano para esse caminho pascal.

Nesse ano de 2019, no Ocidente, a festa da Páscoa coincide com a celebração do Dia mundial da mãe-Terra, data aprovada pela assembleia geral da ONU e mantida a cada ano no dia 22 de abril.

Os desequilíbrios climáticos que vimos assistindo, na forma de ondas de calor mais fortes do que o costumeiro, furacões que atingiram a África oriental e nas chuvas torrenciais que provocam destruições em nossas cidades revela que precisamos mudar o modo de organizar a sociedade, baseado na exploração da natureza. O dia mundial da mãe Terra quer provocar uma maior consciência da urgência do cuidado que devemos ter com a mãe Terra, agredida e ameaçada em seu sistema de vida.

A ressurreição é a energia de Deus para transformar o universo. Celebremos, então, esta festa e vivamos este caminho pascal no aprofundamento da solidariedade como forma de viver a fé e a intimidade com Deus, a renovação de nossas vidas e a comunhão amorosa com a mãe Terra e todo o universo que nos rodeia. Como cantam as comunidades: “Cristo ressuscitou, o sertão se abriu em flor. Da terra, água surgiu. Era noite e o sol brilhou”.    
      
 MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 44 livros publicados, dos quais  “O Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede da Paz e Loyola. Email: irmarcelobarros@uol.com.br

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