Por Marcelo Barros
É preciso cuidar da imunidade para proteger
a saúde, mas não se imunizar contra a solidariedade e a sensibilidade que nos
faz sofrer com quem sofre e nos alegrar com quem se alegra.
Nesse tempo de
riscos de contágio e de proliferação do coronavírus, é importante refletir
sobre o que é a imunidade e que vem a ser a comunidade. É urgente distinguir de
quais vírus devemos ser imunes e como ser imunes, sem perder a comunhão que nos
liga a tudo e a todos.
De fato,
imunidade e comunidade são dois termos que parecem se opor. Quem é imune deixou
de ser comune, termo que poderia
designar o elo que cria comunhão. Em latim antigo, o termo communio designa a comum união, mas também parece que vinha do fato
de se assumir juntos os múnus. Com múnus era a capacidade de carregar juntos o
peso uns dos outros. Na tradição cristã, a comunhão é a interdependência que
existe entre todas as pessoas de fé (comunhão dos santos), mas também a falta
de imunidade espiritual entre todos (a comunhão nas coisas santas). Assim, o
bem que um faz contagia a todos, como o pecado de um faz mal a todos. A
comunhão possibilita, como escreveu o apóstolo, sermos um só, como um corpo que
tem muitos membros. Cada membro tem sua função própria, mas o corpo é um só. Por
isso, é preciso saber bem em que comungamos e em que devemos nos precaver de
uma falsa comunhão que seria autodestrutiva.
A imunidade é o
que possibilita a autoproteção e o isolamento de qualquer mal que possa nos
invadir. Fisicamente, nosso organismo tem células de defesa que impedem que um
vírus ou bactéria se instalem. Quando essas células são destruídas, a imunidade
se enfraquece e qualquer enfermidade se instala. Então, a imunidade fisiológica
é fundamental e necessária. No entanto,
Eduardo Galeano advertia de que vivemos em uma “sociedade do desvínculo”. Parece contraditório porque o próprio
fato de viver em sociedade já seria um vínculo, mas a sociedade se tornou um
acordo comercial que gera uma multidão de excluídos. Ninguém sabe se o
Coronavírus foi produzido biologicamente como arma de guerra. Grupos de direita
dizem que deve ter sido gerado na China e gente de esquerda garante que foram
soldados dos Estados Unidos que o levaram para China na ocasião dos jogos
militares de 2019. Seja como for, o próprio fato de que um vírus assim possa
ser produzido como arma em laboratório revela o modelo de sociedade em que
vivemos. Evidentemente, temos de tomar todo o cuidado com o corona, mas sabemos
que os vírus do ódio, da intolerância, da xenofobia, do racismo, do machismo e
da discriminação social matam mais do que essa pandemia atual. Em nossas
cidades, diariamente se assassinam jovens negros nas periferias. As
estatísticas denunciam que os feminicídios têm aumentado. E a fome, provocada
pela iniquidade da desigualdade social,
provoca mais enfermidades e morte do que qualquer um desses vírus
estranhos que, de vez em quando, assolam o mundo. Para o coronavírus estão se buscando vacinas. Em Cuba, o uso do
interferon tem ajudado como preventivo. Para os vírus mais profundos que
destroem em nós o que nos torna humanos só existe uma vacina: o amor solidário.
A opção de que a vida é para ser convivência e comunhão tem de ser sorvida e
experimentada até a última gota. Sem nenhum medo. Amor não mata.
Daqui a alguns
dias, vamos celebrar a Páscoa. Nas comunidades judaicas se chama “a festa da nossa libertação”. No
Cristianismo, o centro de tudo é a proclamação de que Jesus ressuscitou. Em um
mundo como o nosso, afirmar que Jesus ressuscitou é testemunhar que o amor é
maior do que a morte e o bem-viver mata todos os vírus da indiferença em
relação aos outros e do desamor. Vamos, então, com cristãos e com toda a
humanidade, reafirmar que, como escreveu o profeta João, “nós somos as pessoas que cremos no Amor”.
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