Por
Marcelo Barros
A ONU consagra o dia 20
de março de cada ano como dia
internacional de combate a todos os tipos de escravidão. Essa é uma luta
que nos compromete como seres humanos e diz respeito à nossa vocação mais
profunda: a liberdade e o amor.
Organismos
internacionais calculam que, atualmente, nos mais diversos continentes, quase
800 milhões de pessoas são, de alguma forma, vítimas de novas formas de
escravidão. Apesar de terem assinado, em 1948, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, quase todos os países do mundo convivem com isso. A sociedade
dominante organiza o mundo de forma que alguns dos direitos humanos básicos são
sistematicamente violados. Governos e organizações da sociedade civil fazem
declarações de combate à escravidão, mas, na prática, sustentam uma organização
econômica que torna a maioria das pessoas mais frágeis e expostas a situações semelhantes
à escravidão. Empresários convivem com as novas tecnologias, mas, em suas
fazendas de soja ou de gado, mantêm trabalhadores em regimes de trabalho
forçado e condições desumanas de sobrevivência. Empresas provocam crise
econômica em vários países para manter os salários astronômicos de seus
dirigentes, mas se negam a garantir emprego justo a uma multidão de pais e mães
de família. Só não vê quem não quer: enquanto a humanidade não superar o
Capitalismo como forma de organizar a sociedade, a porta estará sempre aberta
para a barbárie que se expressa em novas formas de escravidão. Bertold Brech
chegava a afirmar que “enquanto houver
capitalismos, a cadela do fascismo estará no cio”. Isso pode ser comprovado
no Brasil de hoje.
As
Igrejas e religiões deveriam ser pioneiras na defesa dos mais empobrecidos,
Infelizmente, em tantos séculos de história, as Igrejas e instituições
religiosas, não somente não mudaram essa realidade, como muitas vezes, se
tornaram cúmplices e até protagonistas dessa barbárie. Dois mil anos depois, a
proposta do Evangelho de Jesus continua ignorada e mesmo desmoralizada. É mais
triste constatar que quem mais agride o evangelho e a mensagem de Jesus não são
ateus ou inimigos da fé e sim os
próprios cristãos e até ministros e pastores. Muitos se identificam com a
instituição religiosa e vestem a roupa do culto e usam os símbolos do poder
religioso, mas não aderem à proposta ética e transformadora da fé.
Todas
as religiões reconhecem: o divino só pode ser encontrado realmente no humano. O
que Irineu, pastor da Igreja de Lyon ensinava aos cristãos no século II vale
para toda pessoa de qualquer religião e de todos os tempos: “Como você poderá divinizar-se se ainda nem
se tornou humano? Antes de tudo, garanta a sua condição de ser humano e, assim,
poderá participar da glória divina”[1].
MARCELO
BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 57 livros publicados. O mais recente
é Teologias da Libertação para os nossos dias (Vozes). Email:
contato@marcelobarros.com
[1] - Cf. IRINEU DE LYON, Adversus
Heresis, IV, 39 II, Patrologia Greca, citado por LUCIANO MANICARDI, La vita secondo lo Spírito, in Exodo,
n. 4. Ottobre-dicembre 2003, p. 35.
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