Por Marcelo Barros
No Brasil e em toda a América Latina, apesar de muitas
dificuldades, resiste um movimento de organização social que vem dos grupos de
base da sociedade e almejam libertação, justiça e paz para todos.
Há 15 dias,
nas mais diferentes regiões do Brasil, o Carnaval de 2020 retratava a
insatisfação de grande parte do povo simples com o governo e a realidade social
e política do país. Notícias de países vizinhos como o Chile e a Colômbia
mostram que multidões continuam indo às ruas para exigir mudanças estruturais
na política. No Chile, os movimentos sociais querem eleger uma assembleia
nacional constituinte para elaborar nova
Constituição. Nesses próximos dias, o presidente Lula que há pouco foi recebido
pelo papa Francisco no Vaticano, se reunirá em Genebra com os pastores e
pastoras, responsáveis pelo Conselho Mundial de Igrejas que, no mundo, congrega
349 Igrejas evangélicas e ortodoxas.
Além dos
resultados práticos que tais gestos e iniciativas contém, eles sinalizam um
movimento de consciência que resiste à barbárie que toma conta do país e do
mundo. Infelizmente, pela ação nefasta do império dos Estados Unidos, o
processo de integração continental que, na década passada, unia os países
latino-americanos na direção de uma pátria grande foi destruído. No entanto, os
poderosos podem matar as estruturas, mas não conseguem assassinar ideais, nem destruir
os sonhos de pessoas que deram a vida pela libertação e pela vida de todos.
Nesses dias,
em toda a América Latina e Caribe, comunidades e movimentos sociais celebram o
sétimo aniversário da partida do presidente Hugo Chávez na Venezuela. Intelectuais
e militantes sociais de todo o mundo reconhecem: no final do século XX, em um
momento histórico, no qual o Socialismo estava desacreditado pela corrupção e
ineficiência de governos ditos socialistas de alguns países da Europa, Hugo
Chávez soube restituir a dignidade da Política como ato de amor solidário e mostrou
ao mundo que é possível um socialismo de tipo novo, democrático e a partir das
culturas oprimidas.
Atualmente, o governo e o povo da Venezuela continuam
a resistir heroicamente. A alto custo, sobrevivem a uma guerra violenta, por
parte da elite do país que perdeu privilégios e do governo norte-americano. O
que está em jogo nessa luta é a dignidade de um povo que quer ter o direito de
se autodeterminar. No entanto, é mais do que isso. Trata-se do sonho do
Bolivarianismo. Atualmente, este consiste na integração da América Latina em
uma confederação de países irmãos, a libertação de todas as formas de
imperialismo e o caminhar para um novo Socialismo na linha do bem-viver
indígena e conquistado através de meios democráticos.
Atualmente, cada vez mais as pessoas que têm fé em Deus ou
buscam viver uma espiritualidade humana sabem: a justiça social e a realização
dos direitos humanos, não só individuais, mas dos grupos e comunidades
constituem uma base fundamental para a realização do projeto divino no mundo. No
Brasil, a Campanha da Fraternidade de 2020 tem como tema a Fraternidade como
compromisso com a Vida para todos. O apóstolo Paulo dizia que a nossa fé deve
levar à realização da justiça (Carta aos romanos) e que “foi para que sejamos verdadeiramente livres que Cristo nos libertou”
(Gl 5, 1).
MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 57 livros publicados. O mais recente é Teologias da Libertação para os nossos dias (Vozes). Email: contato@marcelobarros.com
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