Da boca do salmista, ouvimos esta solene declaração: “A minha alma tem sede de Deus...” (Sl 42,1). Sem dúvida, são palavras de quem fez um longo caminho espiritual durante o qual não apenas se apercebeu sedento, como também descobriu que sua sede era de Deus. O salmista ajuda-nos a perceber que a nossa sede pode ser o ponto de partida para uma espiritualidade profunda, uma “espiritualidade da sede”, que instaure uma relação mística entre nós e Deus.
Uma espiritualidade da sede nos põe em constante movimento, abre-nos caminho para o novo, desincrusta nossas juntas adoecidas pela mesmice, solicita que abandonemos as gaiolas nas quais aceitamos viver e nos convida a que nos deixemos ser guiados pela sede que nos habita. Trata-se de um caminho espiritual que só pode ser trilhado se estivermos dispostos a desamarrar nossos barcos do cais das certezas e a atirarmo-nos mar adentro, velejando ao sopro do Espírito nas oceânicas e escuras águas do Mistério de Deus.
Parecem, pois, calhar aqui as últimas linhas de uma oração escrita por Thomas Merton (1915-1968):
Eu não conheço nada de Ti e por mim mesmo
nem posso imaginar como fazer para Te conhecer.
Se eu te imaginar, estarei errado.
Se Te compreender, estarei enganado.
Se ficar consciente e certo que Te conheço, serei louco.
A escuridão me basta.
[1] Kinno Cerqueira é pastor batista, biblista e assessor do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) na área de estudos bíblicos.
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