Prof. Martinho Condini
Caras amigas e amigos,
dia desses assisti no you tube no canal da Meteoro Brasil uma matéria no mínimo
intrigante que falava sobre quem produz ciência no Brasil, que vou reproduzir
algumas informações com vocês. Diz a matéria que no Brasil temos 23
universidades que estão entre as
principais do mundo, e todas elas são públicas, nenhuma privada. Esta preciosa
informação vem da Holanda, mais precisamente do Centro de Estudos para a
Ciência e Tecnologia da Universidade de Leiden, que tem a tradição de
anualmente publicar a classificação das principais instituições de pesquisa do
planeta.
Para se fazer presente
nesta classificação da Leiden em 2019 era preciso que essas universidades tivessem publicado pelo menos 1.000
artigos entre 2014 e 2017, e os mesmos deveriam estar catalogados em um banco
de dados denominado web of science. Não deu outra, elas atenderam aos
requisitos e estão lá. Vejam que interessante, nesse triênio as principais
universidades brasileiras, todas públicas, produziram 71 mil artigos científicos
incorporados a web of science.
Agora prestem atenção na fala do paraquedista (nos
dois sentidos), que governa o nosso país disse sobre a pesquisa científica no
Brasil, mostrando toda a sua expertise com o tema. Como tal, caiu de paraquedas:
“[...] E na universidade, você vai na
questão da pesquisa, você não tem. Poucas universidades tem pesquisa, e destas
poucas, a grande parte esta na iniciativa privada, como a Mackenzie em São
Paulo [...]”.
O paraquedista presidente
passou muito longe do alvo que ele achou que tinha acertado em cheio, como se
fossem aqueles círculos que fazem para o paraquedista cair dentro, quando
saltam. Ele poderia ter caprichado um pouco mais na lição de casa (não sei se dá
para esperar mais do que isso de um militar da reserva quando se trata de lição
de casa) a respeito da pesquisa científica no Brasil e sobre a Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Afinal de contas o recente empossado ministro da
educação, advogado e pastor presbiteriano é oriundo desta instituição. O que o
paraquedista presidente não sabe é que a Universidade Presbiteriana Mackenzie
não aparece na classificação da Leiden de 2019. Inclusive é bom lembrar que nenhuma
universidade privada brasileira aparece nessa classificação, apenas as universidades
públicas. Eu sei que já escrevi essa
informação, é apenas um reforço se por ventura algum neoliberal ler o meu
artigo, acho difícil que leiam.
O paraquedista presidente
não sabe que na última classificação das universidades no Brasil publicada pela
Folha de São Paulo, a Universidade Presbiteriana Mackenzie aparece na 34ª
posição do quadro geral e a 64ª em pesquisa. A primeira universidade privada na
classificação da Folha de São Paulo é a Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul que aparece no 18º lugar. As 17 primeiras universidades são todas
públicas.
As 3 grandes
universidades do Estado de São Paulo, a Universidade de São Paulo, a
Universidade Paulista e a Universidade de Campinas, juntas apresentaram 28.500
artigos o que equivale a 40% do total de artigos produzidos pelas 23
universidades brasileiras que estão na classificação da Leiden.
Quando pensamos na
relevância e impactos desses artigos, isto é, a quantidade de vezes que o artigo
foi citado em outros trabalhos, destacam-se a Universidade Federal do Ceará, a
Universidade Federal da Bahia, a Universidade Federal de São Carlos e a
Universidade Federal de Santa Catarina. No início do governo do paraquedista
presidente, alunos dessas universidades federais citadas protestaram contra o
corte de verbas anunciada pelo ministério da educação, com o apoio do tal
paraquedista que fez a seguinte declaração em relação as manifestações: “[...] É natural, é natural, agora a maioria
ali, é militante, não tem nada na cabeça. Se perguntar quanto é 7 vezes 8 não
sabe, , se perguntar a fórmula da água não sabe, não sabe nada. São uns idiotas
úteis e uns imbecis que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria
espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades brasileiras [...]”.
É no mínimo assustador
perceber o quanto é raso o alcance do paraquedista presidente em relação a
temas que envolvem educação e pesquisa científica em nosso país. É claro que
não poderíamos esperar mais do que isso de um paraquedista presidente.
Quando se fala em
pesquisa científica na área da saúde - tão requisitada nesses tempos de
pandemia do Covid 19 - temos quadros de pesquisadores de tirar o chapéu pela
dedicação e capacidade. Para se ter uma ideia, desde maio as 69 universidades
federais brasileiras já realizaram 823 pesquisas relacionadas ao novo corona
vírus. Estas pesquisas envolvem desde os lugares mais afetados pela epidemia
até o estudo do genoma do novo vírus para possível produção de uma vacina e
investigação de testes que possam ser realizados num custo mais baixo para se
atingir um número maior de pessoas.
Para o nosso orgulho,
apesar dos baixos investimentos em pesquisa no Brasil, nós somos 13º país do
mundo que mais realizou pesquisas científicas entre os anos de 2003 e 2018 no
mundo, com mais de 881 mil publicações, ficando apenas uma posição atrás da
Coréia do Sul, tão cantada em verso e prosa por àqueles que sentem prazer em
desqualificar a comunidade científica brasileira. E ficamos à frente da Rússia.
Sobre o que as
universidades fazem, é incrível, o paraquedista presidente fez a seguinte
indagação: “[...] O que se faz em muitas
universidades e faculdades no Brasil? Faz tudo, menos estudar. Querem o que?
Qual é o futuro nosso? O que nos espera lá na frente?[...]”. O que nos
espera lá na frente, penso eu, é que esse paraquedista presidente não se
reeleja. Bem, isso é conversa para 2022.
É vergonhoso um
paraquedista presidente que ousa falar sobre
pesquisa científica no Brasil não ter o mínimo de preocupação de se
informar sobre o tema, ou pelo menos saber quais são as instituições e
cientistas que estão elevando o nome do Brasil lá fora. Pelo que me consta as
informações sobre o nosso país que chegam lá fora atualmente, são muito mais as
barbaridades que estão acontecendo em relação ausência de uma política
ambiental, o descaso governamental com a pandemia e o envolvimento da família
do paraquedista presidente em esquemas de rachadinha na ALERJ. Estou convencido
que o paraquedista presidente com seus garotos parlamentares conseguirão o
reconhecimento internacional, apenas nas páginas da Interpol, jamais nos anais
de uma universidade.
Pelo que me consta um
paraquedista quando realiza um salto ele deve ter conhecimento e precisão sobre
vários aspectos para saber onde ira cair, além de torcer para que o seu
paraquedas abra no momento certo. É lamentável que o paraquedista presidente não
tenha essa mesma preocupação ao se pronunciar sobre as nossas pesquisas científicas,
os nossos pesquisadores, docentes e dicentes brasileiros. O paraquedista presidente, todas as vezes que se pronunciou sobre o assunto ciência no
Brasil, literalmente “caiu de paraquedas” .
O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com
Nada mais que isso se poderia esperar de figura tão estúpida e inepta. De fato, nossa esperança ativa e nossa luta cotidiana é que, desqualificados a exemplo do indivíduo em pauta, nunca mais ocupem/tomem o poder neste país.
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