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quarta-feira, 7 de outubro de 2020

O PARAQUEDISTA A CIÊNCIA NO BRASIL

 



Prof. Martinho Condini

Caras amigas e amigos, dia desses assisti no you tube no canal da Meteoro Brasil uma matéria no mínimo intrigante que falava sobre quem produz ciência no Brasil, que vou reproduzir algumas informações com vocês. Diz a matéria que no Brasil temos 23 universidades que estão  entre as principais do mundo, e todas elas são públicas, nenhuma privada. Esta preciosa informação vem da Holanda, mais precisamente do Centro de Estudos para a Ciência e Tecnologia da Universidade de Leiden, que tem a tradição de anualmente publicar a classificação das principais instituições de pesquisa do planeta.

Para se fazer presente nesta classificação da Leiden em 2019 era preciso que essas  universidades tivessem publicado pelo menos 1.000 artigos entre 2014 e 2017, e os mesmos deveriam estar catalogados em um banco de dados denominado web of science. Não deu outra, elas atenderam aos requisitos e estão lá. Vejam que interessante, nesse triênio as principais universidades brasileiras, todas públicas, produziram 71 mil artigos científicos incorporados a web of science.

 Agora prestem atenção na fala do paraquedista (nos dois sentidos), que governa o nosso país disse sobre a pesquisa científica no Brasil, mostrando toda a sua expertise com o tema. Como tal, caiu de paraquedas: “[...] E na universidade, você vai na questão da pesquisa, você não tem. Poucas universidades tem pesquisa, e destas poucas, a grande parte esta na iniciativa privada, como a Mackenzie em São Paulo [...]”.  

O paraquedista presidente passou muito longe do alvo que ele achou que tinha acertado em cheio, como se fossem aqueles círculos que fazem para o paraquedista cair dentro, quando saltam. Ele poderia ter caprichado um pouco mais na lição de casa (não sei se dá para esperar mais do que isso de um militar da reserva quando se trata de lição de casa) a respeito da pesquisa científica no Brasil e sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Afinal de contas o recente empossado ministro da educação, advogado e pastor presbiteriano é oriundo desta instituição. O que o paraquedista presidente não sabe é que a Universidade Presbiteriana Mackenzie não aparece na classificação da Leiden de 2019. Inclusive é bom lembrar que nenhuma universidade privada brasileira aparece nessa classificação, apenas as universidades públicas.  Eu sei que já escrevi essa informação, é apenas um reforço se por ventura algum neoliberal ler o meu artigo, acho difícil que leiam.

O paraquedista presidente não sabe que na última classificação das universidades no Brasil publicada pela Folha de São Paulo, a Universidade Presbiteriana Mackenzie aparece na 34ª posição do quadro geral e a 64ª em pesquisa. A primeira universidade privada na classificação da Folha de São Paulo é a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul que aparece no 18º lugar. As 17 primeiras universidades são todas públicas.  

As 3 grandes universidades do Estado de São Paulo, a Universidade de São Paulo, a Universidade Paulista e a Universidade de Campinas, juntas apresentaram 28.500 artigos o que equivale a 40% do total de artigos produzidos pelas 23 universidades brasileiras que estão na classificação da Leiden.

Quando pensamos na relevância e impactos desses artigos, isto é, a quantidade de vezes que o artigo foi citado em outros trabalhos, destacam-se a Universidade Federal do Ceará, a Universidade Federal da Bahia, a Universidade Federal de São Carlos e a Universidade Federal de Santa Catarina.  No início do governo do paraquedista presidente, alunos dessas universidades federais citadas protestaram contra o corte de verbas anunciada pelo ministério da educação, com o apoio do tal paraquedista que fez a seguinte declaração em relação as manifestações: “[...] É natural, é natural, agora a maioria ali, é militante, não tem nada na cabeça. Se perguntar quanto é 7 vezes 8 não sabe, , se perguntar a fórmula da água não sabe, não sabe nada. São uns idiotas úteis e uns imbecis que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades brasileiras [...]”.  

É no mínimo assustador perceber o quanto é raso o alcance do paraquedista presidente em relação a temas que envolvem educação e pesquisa científica em nosso país. É claro que não poderíamos esperar mais do que isso de um paraquedista presidente.

Quando se fala em pesquisa científica na área da saúde - tão requisitada nesses tempos de pandemia do Covid 19 - temos quadros de pesquisadores de tirar o chapéu pela dedicação e capacidade. Para se ter uma ideia, desde maio as 69 universidades federais brasileiras já realizaram 823 pesquisas relacionadas ao novo corona vírus. Estas pesquisas envolvem desde os lugares mais afetados pela epidemia até o estudo do genoma do novo vírus para possível produção de uma vacina e investigação de testes que possam ser realizados num custo mais baixo para se atingir um número maior de pessoas.

Para o nosso orgulho, apesar dos baixos investimentos em pesquisa no Brasil, nós somos 13º país do mundo que mais realizou pesquisas científicas entre os anos de 2003 e 2018 no mundo, com mais de 881 mil publicações, ficando apenas uma posição atrás da Coréia do Sul, tão cantada em verso e prosa por àqueles que sentem prazer em desqualificar a comunidade científica brasileira. E ficamos à frente da Rússia.

Sobre o que as universidades fazem, é incrível, o paraquedista presidente fez a seguinte indagação: “[...] O que se faz em muitas universidades e faculdades no Brasil? Faz tudo, menos estudar. Querem o que? Qual é o futuro nosso? O que nos espera lá na frente?[...]”. O que nos espera lá na frente, penso eu, é que esse paraquedista presidente não se reeleja. Bem, isso é conversa para 2022.

É vergonhoso um paraquedista presidente que ousa falar sobre  pesquisa científica no Brasil não ter o mínimo de preocupação de se informar sobre o tema, ou pelo menos saber quais são as instituições e cientistas que estão elevando o nome do Brasil lá fora. Pelo que me consta as informações sobre o nosso país que chegam lá fora atualmente, são muito mais as barbaridades que estão acontecendo em relação ausência de uma política ambiental, o descaso governamental com a pandemia e o envolvimento da família do paraquedista presidente em esquemas de rachadinha na ALERJ. Estou convencido que o paraquedista presidente com seus garotos parlamentares conseguirão o reconhecimento internacional, apenas nas páginas da Interpol, jamais nos anais de uma universidade.

Pelo que me consta um paraquedista quando realiza um salto ele deve ter conhecimento e precisão sobre vários aspectos para saber onde ira cair, além de torcer para que o seu paraquedas abra no momento certo. É lamentável que o paraquedista presidente não tenha essa mesma preocupação ao se pronunciar sobre as nossas pesquisas científicas, os nossos pesquisadores, docentes e dicentes brasileiros.  O paraquedista presidente, todas as vezes que  se pronunciou sobre o assunto ciência no Brasil, literalmente “caiu de paraquedas” .

 

 O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com

Um comentário:

  1. Nada mais que isso se poderia esperar de figura tão estúpida e inepta. De fato, nossa esperança ativa e nossa luta cotidiana é que, desqualificados a exemplo do indivíduo em pauta, nunca mais ocupem/tomem o poder neste país.

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