ECONOMIA VIRGENTE
Na Encíclica Fratelli Tutti, sobre a Fraternidade e a Amizade Social, lançada em Assis no último dia 03 de outubro, o Papa Francisco cita o poeta, compositor e cantor brasileiro, também diplomata, o Vinicius de Moraes. “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida” (215). A encíclica é sobre encontros. O mundo precisa de encontros, o mundo precisa se encontrar. “ Assim, falar de cultura do encontro significa que nos apaixona, como povo, querer encontrar-nos, procurar pontos de contato, lançar pontes, projetar algo que envolva a todos. Isto tornou-se uma aspiração e um estilo de vida” (216). O papa encontrou na vida e nas palavras do Pobrezinho de Deus, São Francisco de Assis, o título para essa Carta. Somos todos irmãos, diria e irmãs! Aliás, a decisão de escrevê-la nasceu do encontro com o Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb quando assinaram juntos, no Egito, o Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da fraternidade humana em Abud Dhabi em 04 de fevereiro de 2019.
O Papa Francisco, em conformidade com a Doutrina Social da Igreja já expressa nas encíclicas, no catecismo, no compêndio e nos pronunciamentos dos seus antecessores faz uma crítica contundente a uma economia que não tenha como centralidade a dignidade da pessoa humana, a justiça social e o respeito ecológico.
O próprio Catecismo que condena o comunismo, condena igualmente o capitalismo, não em si mesmo, mas quando desumano ou selvagem, como é frequentemente.
O Papa Bento XVI, em
2007, no seu livro Jesus de Nazaré criticou “a crueldade do capitalismo, do
colonialismo e do poder dos ricos sobre os pobres. Confrontados com o abuso do
poder econômico, com a crueldade do capitalismo que rebaixa os homens a
mercadorias, nós começamos a ver mais claramente os perigos da riqueza e a
entender em uma nova maneira o que Jesus queria ao nos alertar sobre a
opulência”. Vai repetir outras vezes, como fez na Mensagem de Ano Novo de 2013:
“Causam apreensão os focos de tensão e conflito causados por crescentes
desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e
individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro
desregrado”. No mesmo ano, poucos dias depois, falou aos participantes os
participantes da XXIV Assembleia Plenária do Pontifício Conselho Cor Unum: “o
capitalismo selvagem gerou crise, desigualdade e miséria".
O neoliberalismo é
marcado pelo chamado Estado Mínimo. Tivemos como triste exemplos no país, as reformas
trabalhista e da previdência, além do congelamento por vinte anos de recursos
para as políticas nas áreas da saúde, da educação, dentre outras. A economia
não deve ser regida pelo Estado, mas pelo mercado. Por eles modelos ser em
contrária a Doutrina a Igreja, elas são condenados.
Mas, assim escreve o papa na sua nova encíclica.
“O mercado, por si
só, não resolve tudo, embora às vezes nos queiram fazer crer neste dogma de fé
neoliberal. Trata-se dum pensamento pobre, repetitivo, que propõe sempre as
mesmas receitas perante qualquer desafio que surja. O neoliberalismo reproduz
–se sempre igual a si mesmo, recorrendo à mágica teoria do «derrame» ou do «gotejamento»
- sem a nomear – como única via para resolver os problemas sociais. Não se dá
conta de que a suposta redistribuição não resolve a desigualdade, sendo, esta,
fonte de novas formas de violência que ameaçam o tecido social. Por um lado, é
indispensável uma política económica ativa, visando «promover uma economia que
favoreça a diversificação produtiva e a criatividade empresarial», para ser
possível aumentar os postos de trabalho em vez de os reduzir. A especulação
financeira, tendo a ganância de lucro fácil como objetivo fundamental, continua
a fazer estragos” (168). O papa continua afirmando a importância dos Movimentos
Sociais na participação nesse processo como verdadeiros protagonistas. “É
necessário pensar a participação social, política e económica segundo
modalidades tais «que incluam os movimentos populares e animem as estruturas de
governo locais, nacionais e internacionais com aquela torrente de energia moral
que nasce a integração dos excluídos na construção do destino comum. Implica
superar a ideia das políticas sociais concebidas como uma política para os
pobres, mas nunca com os pobres, nunca dos pobres, e muito menos inserida num
projeto que reúna os povos” (169).
O papa São João Paulo II condenava o capitalismo neoliberal não era
porque ele era comunista. Condenava porque ele era católico. O papa emérito
Bento XVI condena o capitalismo neoliberal não era porque é comunista. Condenava
porque ele é católico. O Papa Francisco condena o capitalismo neoliberal não é
porque ele é comunista. Condena porque ele é católico, ele é cristão. Porque
ele é o papa.
Os papas condenam o capitalismo neoliberal porque são papas. Do mesmo
modo, todos os católicos que são norteamos pelo Catecismo da Igreja pastoreada
pelos sucessores de Pedro.
Desejo que esta esteja singela tentativa de construir pontes, realizar
diálogos através desse singelo trabalho possa ter contribuído.
Que o PAI, por meio do seu FILHO encarnado-morto-ressuscitado, derrame o
ESPÍRITO SANTO para restaurar a verdade, superar as discórdias, fazer crescer a
unidade na diversidade e, a vivermos em paz para sua maior glória e bem da
Esposa do seu Unigênito, Cristo Jesus. Amém.
Padre Fabio Potiguar Santos Capelão das Fronteiras, membro da Comissão de Justiça e Paz e coordenador da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter- religioso da Arquidiocese de Olinda e Recife
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