Prof. Martinho Condini
A Copa São Paulo de
Futebol Júnior, conhecida como "Copinha", é a maior competição de
futebol júnior do Brasil, disputada por clubes juniores de todo o país. Ela começou
em 1969, e só não foi realizada em 2021 por causa da pandemia. Organizada pela Federação Paulista de
Futebol, este ano é 52ª edição. Ela disputada em cidades do Estado de São Paulo
e a final acontece sempre na capital paulista no dia 25 de janeiro, data de
aniversário da cidade de São Paulo.
Ao ler uma reportagem da
Folha de São Paulo, sobre a “Copinha”, fiquei sabendo que este ano participa um
time da cidade de Irecê, no interior da Bahia, o Canaã Esporte Clube, que
possui um centro de treinamento, construído a beira da BA-052, Estrada do
Feijão.
Lá, os atletas têm
escola, cinco refeições, são acompanhados de nutricionistas, há cinco campos de
treinamento à disposição e departamento de fisioterapia. Uma estrutura
compatível aos grandes clubes do Brasil. Sem sombra de dúvida uma estrutura que
possibilita esses jovens se alimentarem, estudarem e quem sabe galgar a tão
sonhada profissionalização como jogador num grande time do futebol do Brasil. O
Canaã Esporte Clube está integrado a um projeto social que oferece educação e
assistência social para cerca de 600 crianças em Irecê.
Entretanto, essa equipe e
toda essa estrutura está ligada à Igreja Universal do Reino de Deus. O
presidente Sérgio Correa e o diretor de futebol Mauricio Amaral, ambos são
bispos da Igreja. Mas oficialmente não se confirma qualquer participação ou
convênio entre o clube e a Universal.
Até aí nenhum problema,
até porque vários clubes brasileiros têm por de traz de suas estruturas uma
empresa também. E os jogadores desses clubes tem liberdade religiosa, política,
de gênero e de se vestir como bem entenderem e usar seus cabelos como quiserem,
raspado, pintado ou cumprido.
Toda via, no Canaã
Esporte Clube, a banda toca de outra maneira, são estabelecidas regras rígidas,
isto é, doutrinação na pior concepção da palavra. Se é que doutrinação pode ter
alguma concepção positiva.
Em campo os palavrões são
proibidos. No início da partida, os
11 jogadores do Canaã se ajoelham e erguem as mãos para o alto, em oração. Após
o jogo, o “Pai Nosso” é rezado em uma só voz por todos os jogadores que afirmam
“se Jesus é meu amigo, contra mim ninguém será. ”
Mas alguém pode dizer,
fazem isso de livre e espontânea vontade. Mas é o time inteiro!?
Além disso os atletas não podem pintar o
cabelo, ter cortes considerados diferentes, usar brinco ou usar boné. Alguns
carregam uma Bíblia ao sair do vestiário. Segundo jogadores e integrantes da
comissão técnica, todos são convidados a frequentar os cultos evangélicos, mas
não são obrigados. Há exigência de ser cristão.
Então, um jovem que frequenta
o Candomblé, a Umbanda, o judaísmo, o islamismo ou nenhuma religião e é ateu
não poderá fazer parte do time do Canaã Esporte Clube, é isso?
Afinal de contas, o Canaã
está à procura de goleiros, zagueiros e centroavantes ou de obreiros, pastores
e bispos para o seu time de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus no
interior da Bahia?
Quando as religiões são
utilizadas para ludibriar as pessoas, elas simplesmente perdem todo o sentido
da sua existência, se é que elas têm algum sentido. Aí me remeto a Marx que
dizia que a “religião é o ópio do povo”.
Em relação a essa
afirmação de Marx, lembro-me do grande Dom Helder Camara, que um dia afirmou
“Se Marx tivesse conhecido as comunidades eclesiais de base, não diria que a
religião é o ópio do povo” e acrescento, também a Teologia da Libertação.
E há também os que dizem
que o futebol é o ópio do povo. Essa afirmação pode ser confirmada com pelo
menos dois fatos. Na Copa do Mundo de Futebol no México em 1970, a vergonhosa Ditadura
Militar no Brasil, utilizou a conquista do tri campeonato mundial para esconder
o que estava acontecendo nos porões da ditadura, as torturas e mortes, para a
grande maioria da população brasileira. Em relação a postura dos jogadores e
comissão técnica daquele elenco naquele período sem comentários. Poderiam ter
falado para o mundo o que se passava nesse Brasil do “Ame ou deixe-o”, mas
simplesmente se calaram.
O mesmo ocorreu na
Argentina no período da ditadura militar, quando em 1978 realizou a Copa do
Mundo de Futebol em seu território, e não só esconderam as mazelas do regime
opressor, como também manipularam resultado para chegar à final e se tornarem
campeões mundiais. E nem uma palavra dos vencedores sobre o que ocorria com os hermanos argentinos.
Enfim, não sei até onde o
Canaã Esporte Clube vai chegar nessa “Copinha”, nem é isso que interessa. O
mais importante é que esses jovens com tantos sonhos, não deixem que suas
vontades, e principalmente que suas liberdades sejam castradas ou por
instituições religiosas ou times de futebol inescrupulosos.
Que os “Deuses do Futebol” olhem para esses
meninos afim de orientá-los para que possam ser livres em suas atitudes,
escolhas e pensamento. Nada é mais precioso que a liberdade.
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