Prof. Martinho Condini
As religiões,
ocidentais ou orientais tem em suas composições várias alas, grupos ou
tendências, e as pessoas que as frequentam pertencem a diferenciadas classes sociais.
Seguindo essa
lógica, afirmo que no Brasil o movimento evangélico é plural. E por causa desse
pluralismo, temos a ala defensora do extremismo evangélico. Seus membros
denominam-se terrivelmente evangélicos e são fanáticos apoiadores desse desgoverno
genocida. Mas temos também outros grupos no movimento evangélico, progressistas
conscientes em relação ao atual contexto político e social em que estamos
inseridos e uma criticidade sobre a atualidade.
Entretanto, o extremismo
evangélico é uma ameaça à nossa democracia, aos direitos humanos e as
diversidades culturais, bem como um perigo para às mulheres, negros, indígenas
e às comunidades LGBTQA+. Além do que apoiam a utilização de armas pela
população, talvez tenham essa atitude em nome de Jesus ou com a permissão
divina, quem sabe?
Este extremismo
evangélico não está aí por acaso, ele tem poder político, econômico, midiático
e um projeto de governo para o Brasil. Talvez não estejam sozinhos nessa
empreitada, e podem estar muito bem acompanhados de outros grupos políticos e
religiosos da nossa sociedade.
Essas informações me
levam a concluir que o conservadorismo no Brasil nasceu com o extremismo
evangélico dos terrivelmente evangélicos, pois até então em nosso país
prevaleciam as ideias e práticas progressistas. Esta seria uma conclusão muito
inocente e burra de minha parte, imaginar que as desgraças brasileiras
começaram a partir do aparecimento dos evangélicos em nossa história.
É sempre muito importante
lembrar que “o berço da nossa história foi a escravidão”, como sabiamente afirmou
o sociólogo Jessé Sousa em sua obra ‘A elite do atraso’. Acrescento à afirmação
de Jessé, que a nossa história e a formação da nossa sociedade foi forjada e
estruturada na escravidão racista e genocida comandada pela elite branca
colonialista judaico-cristã burguesa capitalista. É esse arcabouço que faz com
que a supremacia branca comande a política e a economia do Brasil há séculos, e
também imponha os seus valores culturais a nossa sociedade.
Na construção do
nosso conservadorismo histórico, do racismo estrutural e da democracia política
e social capitalista “mequetrefe” temos muitos responsáveis, inclusive o movimento
extremista evangélico, que podemos considerar, hoje, um dos principais
protagonistas desse projeto de poder e de sustentação ao desgoverno genocida e
corrupto composto pela escória da nossa política.
Porém, se o
movimento evangélico que há 30 ou 40 anos no Brasil não significava
absolutamente quase nada e sua representatividade na sociedade era praticamente
nula, é impossível que ele seja o responsável sozinho, pelo conservadorismo,
negacionismo, racismo estrutural e pela ignorância e estupidez que a tempo não
se via tão aflorada em nossa sociedade. Mas é claro que ele faz parte e está
integramente dentre desse vil processo.
Assim sendo, o tradicional
conservadorismo brasileiro nutre-se do atual extremismo evangélico, e o atual extremismo
evangélico bebe na fonte do tradicional conservadorismo brasileiro. Ambos são perigosíssimos,
porque se alimentam das violências históricas que assolaram e assolam o Brasil
até hoje.
Por isso, é
importante que a militância progressista dialogue com os terrivelmente evangélicos
e evangélicas ou não, que em sua maioria são pobres, negros, periféricos,
favelados e trabalhadores, ou seja, as principais vítimas desse projeto nefasto
para o nosso país, que o movimento extremista evangélico defende com unhas e
dentes. Essas pessoas precisam compreender o jogo que está sendo jogado desde o
golpe de 2016, que está levando o Brasil a ruína.
A elite
conservadora brasileira (que está no poder há mais cinco séculos) em parceria
com os “Bispos Midiáticos terrivelmente evangélicos” tem um projeto de destruição
e barbárie em relação a educação, a ciência, a cultura, ao meio ambiente, a
economia e a soberania nacional, como estamos vendo nos últimos anos.
Se quisermos
reconstruir um Brasil com uma democracia verdadeiramente participativa,
representativa e socialmente justa, teremos que separar todo o joio do trigo.
Enfim, Martin
Luther King e Silas Malafaia podem até navegar no mesmo oceano, mas suas
embarcações remarão sempre em direções totalmente opostas.
O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com
Meus parabéns, mestre! Gratidão!!!
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