Frei Betto
Esse novo
ano ainda tem cara de velho. Temos de aguentar um genocida negacionista no
poder até 31 de dezembro. Não vai ser fácil! E tudo isso agravado pela
Covid-19, que muitos pensam ser possível erradicar, com medidas paliativas e a
vacinação de apenas uma parcela da população mundial, quando tudo indica que o
vírus, que não faz distinção de classe ou etnia, não deixará de nos contaminar
enquanto houver quem não tenha sido vacinado.
Ano de
comemorar o bicentenário da independência do Brasil. Escrevi comemorar, e não
celebrar ou festejar. Comemorar significa avivar a memória, resgatar o passado
e livrá-lo das peias que nele imprimiram o selo do equívoco.
Que
independência é essa se ainda somos colonizados pelos EUA e os países da União
Europeia? Se a nossa economia depende das importações da China? Como celebrar a
independência se as nossas autoridades e os próceres do mercado vivem clamando
aos céus que venham investimentos estrangeiros?
Num país
em que políticos não se envergonham de defender a privatização do patrimônio
público, como falar de independência? Somos, sim, dependentes do capital
estrangeiro, da tutela estadunidense, da tecnologia estrangeira, da mentalidade
subserviente com que miramos as nações prósperas. E pensar que, ao final da
Segunda Grande Guerra, a China e o Japão eram mais subdesenvolvidos que o
Brasil!
Em 200
anos tínhamos tudo para ser uma nação altamente desenvolvida, sem bolsões de
pobreza. Temos um imenso oceano e uma bacia hidrográfica invejável. Figuramos
entre os cinco maiores produtores de alimentos do mundo, e apenas de frutas
contamos com cinco mil variedades. Como observou Caminha, aqui, “em se
plantando, tudo dá”. Possuímos abundantes riquezas minerais e a
maior floresta tropical do planeta.
O Brasil
quase não é afetado por catástrofes naturais. Nada de vulcões, furacões e terremotos
de grandes proporções, nada de secas prolongadas e tornados frequentes, nem
grandes extensões territoriais cobertas por neve.
Mas não
temos governo! Mais da metade de nossa população vive na pobreza. Hoje, 19
milhões de brasileiros passam fome e 106 milhões sobrevivem em insegurança
alimentar. Chega a 13 milhões o número de desempregados e 40,6% dos
trabalhadores atuam na informalidade (Pnad/IBGE).
Cresce também a
desigualdade social. A renda média dos 10% mais ricos é 29,25 vezes maior que a
dos 50% mais pobres (Relatório do Laboratório de Desigualdade Mundial). Os 10%
mais ricos detêm em mãos 59% da renda nacional, e os 50% mais pobres ficam com
apenas 10%.
Hoje, apesar do
Auxílio Brasil, a desigualdade aumenta devido à inflação, o aumento do preço
dos combustíveis, o desemprego e a desarticulação do ensino público durante a
pandemia, por força das restrições sanitárias e da falta de apoio do governo
federal aos mais vulneráveis.
Aqui, a
desigualdade tem cor. Os brasileiros brancos, homens e mulheres, que integram o
seleto grupo dos 10% mais ricos somam 8,6 milhões de pessoas (6,9% da
população), e abocanham 41,6% da renda nacional. As pessoas negras, que são
53,8% da população, ficam com apenas 35% da renda total (Dados Made). Os adultos
brancos são sete vezes mais ricos que os negros (Oxfam Brasil).
A grande esperança
para o nosso país neste ano de 2022 reside nas eleições de outubro. É hora de
tirarmos este governo nefasto, necrófilo, que defende a “pátria armada,
Brasil”, e elegermos Lula presidente com um programa de reformas estruturais
que favoreçam a maioria da população. Mas isso não basta. É preciso renovar
radicalmente o Congresso Nacional, eleger deputados federais e senadores mais
comprometidos com as pautas populares e ambientais. E também eleger
governadores progressistas.
Há muito a fazer para
que este ano seja realmente novo!
Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do
ouro” (Rocco), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org
Frei Betto é autor de 70 livros, editados no Brasil
e no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org Ali os
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correio.
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