Marcelo Barros
O papa Francisco convoca a Igreja Católica para
que, no mundo inteiro, a partir das bases, todas as comunidades católicas,
assim como padres, religiosos/as e bispos, aprofundem um processo de diálogo em
preparação à XVI sessão do Sínodo dos Bispos. Concretamente,
o papa propôs um caminho em três etapas. Até abril de
2022, deve ser a fase diocesana, constituída por ampla consulta às bases. A
segunda fase, de abril a setembro deste ano, será a etapa nacional. A fase
continental irá até abril de 2023. Finalmente, esse caminho comum confluirá
para o encontro mundial dos bispos, em outubro de 2023 em Roma. A proposta do
papa é que o Sínodo se torne um modo novo de viver a fé. Em grego, o termo syn odos significa caminho em comum. O papa Francisco afirmou: “O caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio é a
sinodalidade”. (Alocução,17 de outubro de 2015)[1]”.
Desde que, a partir da Idade Média, o bispo de Roma se
tornou chefe de toda a Igreja ocidental, é quase a primeira vez que um papa
enfrenta oposição dentro do próprio clero e hierarquia. Alguns cardeais, bispos
e muitos padres não aceitam o papa e o criticam abertamente. O problema é que,
mesmo no meio dos padres e bispos que o aceitam, muitos ouvem sua palavra, mas
não a traduzem em novo modo de ser Igreja.
Ao falar em sinodalidade, o papa sabe que a maioria
das pessoas que coordenam as comunidades, assim como bispos, padres,
religiosos/as e agentes de pastoral são preparados para obedecer e mandar e não
para o diálogo e o caminhar juntos. O
Vaticano é a única monarquia absoluta que ainda persiste no Ocidente. Sua política
continua arbitrária e sem transparência. Em nome do papa, o Vaticano nomeia
bispos; os bispos nomeiam os padres e os padres quase só precisam prestar
contas ao bispo. Não adianta o papa Francisco denunciar o clericalismo, se este
é o próprio sistema atual e se sustenta pela divisão que, a partir do século IV
dividiu a Igreja entre clérigos ordenados e leigos não ordenados. Enquanto este
sistema não for estruturalmente modificado, falar em sinodalidade parece
brincadeira para disfarçar a sobrevivência do autoritarismo eclesiástico.
A proposta da sinodalidade que o papa faz à Igreja
corresponde à democracia participativa e direta que os movimentos populares
fazem à sociedade civil e aos Estados. No mundo, os sistemas políticos também
estão em crises. Os partidos parecem desacreditados e os governos precisam
mostrar que não são apenas gerentes credenciados pelo Capitalismo financeiro
para administrar os países a serviço dos lucros da elite.
Desde algumas décadas, na América Latina e na África,
os povos originários propõem para toda a humanidade o paradigma do Bem-viver,
centrado na primazia da vida, no respeito aos bens comuns da humanidade e na
comunhão entre as pessoas, entre os povos e com toda a natureza. Se as
comunidades católicas e seus ministros levarem a sério a proposta da
sinodalidade, se as Igrejas cristãs se converterem ao caminhar juntos como modo
de viver o discipulado de Jesus, finalmente, poderá se tornar verdade a
afirmação de um pastor da Igreja do século IV quando afirmou: “A Igreja cristã deve se organizar, como um
ensaio do mundo do jeito, que Deus quer que o mundo seja”.
[1] -
Cf. Francisco, Conmemoración del 50 aniversario
de la institución del Sínodo de los Obispos (17 de octubre de 2015),
n https://www.vatican.va/content/francesco/es/speeches/2015/october/documents/papa-francesco_20151017_50-anniversario-sinodo.html
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