Por Marcelo
Barros
A partir
dessa 6a feira, 05 de agosto, começarão no Rio de Janeiro os XXXI Jogos
Olímpicos. Com o tema geral "Viva sua paixão", 10.500 atletas, vindos
de 206 países vão concorrer a 28 modalidades olímpicas, com a inclusão de rugbi
de sete e do golfe. A audiência estimada é de 4, 5 bilhões de pessoas, mais da
metade da população do planeta Terra. É a primeira vez que o Brasil, mais
precisamente a cidade do Rio de Janeiro, sedia um evento como esse. Por tudo
isso, o Brasil está em festa e o nosso povo mais uma vez dará ao mundo o
testemunho de ser um povo hospitaleiro e carinhoso com todos os irmãos e irmãs
que nos visitam.
Como a
imensa maioria dos /as atletas que concorrem às provas é de jovens, durante
esses dias, em um mundo social e politicamente dominados por uma elite de
pessoas mais velhas, nós veremos um grande protagonismo da juventude. Assim, as
Olimpíadas chegam a ser como um sinal profético de um mundo no qual a juventude
tem um protagonismo maior e decisivo.
É claro
que, para chegar a competir em uma prova de Olimpíadas, todos os atletas que
vêm ao Rio de Janeiro querem ganhar e os desafios são muito altos. No entanto,
os desafios maiores dessas Olimpíadas não estão exatamente dentro dos campos e
arenas dos esportes. Para se apresentar nas Olimpíadas, os jovens fizeram
esforços imensos, tanto econômicos, como humanos. Do mesmo modo, por trás desse
belo espetáculo de paz e de confraternização que o mundo inteiro assistirá, é
bom que saibamos: houve muitos sofrimentos e uma imensa quantidade de problemas
não resolvidos.
Mesmo se as
Olimpíadas têm como vocação mostrar um mundo de fraternidade e de paz, elas
ainda são organizadas dentro de um modelo social e político que expressa o
mundo atual, organizado de forma injusta e excludente. Em um país no qual o
atual governo provisório anunciou o corte de quase 100 bilhões de dólares de
reais em gastos e tocando fortemente nos programas sociais, na educação e na
saúde, não dá para compreender o gasto de bilhões de dólares com um evento que
dura duas semanas e que se sustenta sob uma forte exclusão social. Basta
lembrar que com ingressos para os jogos que chegam a custar R$1.200 reais,
quantos pobres poderão participar desses jogos, mesmo como simples espectadores?
O que dizer às milhares de famílias
pobres, expulsas do seu lar e do único terreno que possuíam, para que se
construísse a Vila Olímpica que funcionará por menos de um mês?
A uma
sociedade internacional que fala em confraternização e unidade, onde estarão os
pobres nessas Olimpíadas? Vendendo algum salgadinho e limpando as cadeiras dos
estádios, se os organizadores permitirem. Além disso, todos os grandes jornais
publicam que os gastos e contas dessas Olimpíadas não são transparentes e isso
sempre se presta às piores perspectivas de mau uso do dinheiro público.
Por tudo isso,
os maiores e mais profundos desafios dessas Olimpíadas não estão nas
modalidades esportivas às quais os atletas de tantos países concorrerão. O
maior desafio é a corrida contra o tempo e que essas Olimpíadas deixem uma
mensagem de que a humanidade precisa mudar o seu caminho social e político.
Quando, em
2013, durante o Encontro Mundial da Juventude, o papa Francisco visitou a
comunidade de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, um dos jovens que
discursou para o papa declarou claramente: "Estão escondendo do senhor o
que nós vivemos aqui". Por isso, o papa pediu aos governantes que não
maquiassem a realidade para torná-la bonita para os que vêm de fora, enquanto a
população local sofre horrores para sobreviver. Essa maquiagem continua sendo a
operação normal para apresentar o país aos turistas que vêm de fora. É mais um
desafio superar esse modo de agir e, de fato, ter uma vontade política de
transformar a realidade sofrida dos pobres e não apenas disfarçá-la.
O maior desafio
dos jogos é revelar ao mundo que os jogos olímpicos só serão verdadeiramente
instrumentos de comunhão fraterna entre toda a humanidade se partirem da
justiça. A humanidade só será uma só se os mais fracos e carentes forem vistos
como pessoas, sujeitos de dignidade humana e, em primeiro lugar, merecedoras
dos investimentos sociais antes de qualquer jogo passageiro.
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.
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