por Por Frei
Betto
Mulheres que se vestem com roupas provocantes não devem se queixar se forem
estupradas. É a opinião de 30% dos brasileiros em pesquisa encomendada pelo
Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Isso significa que, de cada três brasileiros, ao menos um é potencialmente
tarado. E covarde. Tarado, por não respeitar o direito de a mulher se vestir
como bem entender. Covarde, por admitir que um homem pode dominá-la, estuprá-la
e... a culpa é dela!
Ora, o problema não está na mulher, e sim na mentalidade de quem não consegue
se conter diante de uma mulher que ele considera provocante, assim como os
pedófilos que atacam crianças.
O que é provocante? O fio dental, o biquíni, a minissaia, o vestido decotado?
Ora, a provocação não reside neste ou naquele detalhe do adereço feminino, e
sim na cabeça de quem é incapaz de olhar uma mulher com o mesmo respeito com
que os índios miram as mulheres da aldeia que exibem seus corpos nus.
Daqui a pouco dirão que a culpa de tantos caixas eletrônicos estourados por
bandidos é dos bancos que se atrevem a estocar dinheiro em locais de acesso
público. A culpa da inflação alta é do consumidor que não boicota os produtos
mais caros. A culpa do terrorismo é da indústria química que fabrica
explosivos.
É cômodo e cínico tentar encobrir o machismo pondo a culpa na mulher. Ora, se
um homem se sente ameaçado pelo modo como uma mulher se veste, deveria se
tratar.
A mesma pesquisa apontou que 65% dos brasileiros temem a violência sexual, dos
quais 85% são mulheres. A violência se manifesta também no abuso sexual
frequente em transportes coletivos, no assédio moral, nas piadinhas na rua, nas
redes sociais, sem falar das agressões físicas entre quatro paredes.
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2014 foram
notificados, no Brasil, 47.646 estupros. Porém, outras fontes indicam que, em
nosso país, ocorrem 15 violações sexuais por hora ou uma a cada 4 minutos.
Detalhe: na pesquisa, os mais jovens e os que possuem diploma universitário são
menos vulneráveis à tara. Em suma, educação é sempre uma boa “terapia” para
evitar que extrapole o monstro que habita cada um de nós.
Há um dado, porém, que talvez ajude a explicar essa fobia sexual machista: o
modo como a publicidade exibe a mulher. São incessantes peças publicitárias nas
quais a mulher é reduzida a seus atributos físicos e apresentada como mera isca
de consumo. E uma pergunta não quer se calar: se protestam contra o uso de
animais em novelas e filmes, por que esse silêncio quanto ao abuso da imagem
erotizada da mulher na propaganda?
Frei Betto
é escritor, autor de “Reinventar a vida” (Vozes), entre outros livros.
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