por Juracy Andrade
O papa alemão
Ratzinger, aquele que foi eleito tão rápido pelo conclave cardinalício que “não
deu tempo nem de o Espírito Santo chegar” (como dizem algumas línguas ferinas),
mantém um secretário que o acompanha desde que imperava no Vaticano, o bispo
alemão Georg Gänswein. Tudo bem, eles se entendem e nem precisam se comunicar
em italiano. A questão que se põe, sobretudo após o bispo abrir a boca para
criticar Francisco, em entrevista a um jornal de sua terra, é que ele acumula
as funções de prefeito da Casa Pontifícia, aquele que organiza a agenda papal,
no pastorado do papa Bergoglio. Acredito que Francisco tentou manter uma ponte
com o outrora grande inquisidor Bento 16.
O bispo Gänswein
é modernoso, joga tênis, pratica esqui e é comparado, pelas socialites romanas,
ao bonitão George Clooney de Hollywood. Subitamente, ele resolve criticar
Francisco, junto ao qual exerce um cargo de confiança. Referindo-se à exortação
apostólica de Francisco que tem o título de Amoris
laetitia, muito criticada por católicos conservadores, ele afirma: “Quando
um papa quer mudar alguma coisa na doutrina, então deve dizê-lo claramente,
para que seja vinculativa”. Tece ainda considerações sobre a personalidade de
Bergoglio ao dizer que aquilo em que o papa acredita leva até o fim, “sem
escrúpulos”, e que ele é um pouco desrespeitoso em relação a seus antecessores.
Antes da
entrevista ao jornal alemão (Schwäbische
Zeitung), Gänswein já tentara emplacar um “ministério expandido” do papa
emérito e do papa de fato. Ao que Francisco, até agora calado sobre a entrevista
bombástica, respondeu reafirmando a clara distinção entre o demissionário e o
efetivo. As atitudes contundentes de Gänswein talvez se liguem a alianças até
agora obscuras. O fato é que muitos fiéis desabituados a pensar com autonomia,
que Claudio Bernabucci descreve, em Carta
Capital, como “órfãos de certezas
dogmáticas e assustados com a imprevisibilidade deste papa”, se sentem
representados pelo monsignore alemão. Na verdade, Francisco está diminuindo o
“atraso de dois séculos” da Igreja, como falava o falecido cardeal Martini.
Como escreve o
teólogo jesuíta Victor Codina, no site Religión Digital (26.05.16), “Francisco
inaugurou um novo estilo de exercer o primado romano. Ele não é teólogo
profissional e não impõe sua própria teologia, mas é sobretudo pastor, abriu as
portas da Igreja para que saia às ruas e cheire a ovelha, que não exclua mas
que acolha e seja sacramento de misericórdia [...]”.
PS – No último
domingo (28), na igrejinha das Fronteiras, houve celebração eucarística em
lembrança dos 17 anos do falecimento de Dom Helder. Estiveram presentes os
peregrinos cearenses (ele era cearense) que vêm anualmente celebrar essa data.
Juracy Andrade é
jornalista com formação em filosofia e teologia
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