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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

ESPERANÇA PARA O ANO NOVO

Por Marcelo Barros



Apesar de todos os votos de "feliz ano novo", as perspectivas sociais, políticas e econômicas para esse ano novo no Brasil e também para o mundo não são as melhores. A palavra mais usada é crise. Nem mesmo os mais conservadores conseguem esperar propostas de esperança vindas  dos governantes atuais do Brasil, dos Estados Unidos ou da Europa. No entanto, celebramos o ano novo para nos reanimar na esperança.

Nesses dias, partiu para Deus, o cardeal Paulo Evaristo Arns que consagrou toda a sua vida aos direitos humanos. Ele atuou como bispo em tempos da ditadura brasileira e tinha como lema: "De esperança em esperança".

Um dos filmes que têm feito sucesso na Europa se chama "Amanhã". É um documentário francês que conta a aventura de um casal que percorre vários continentes atrás de experiências e testemunhos que deem esperança para a humanidade. O que surpreende no filme é ver como, mesmo no momento atual tão complexo e no qual a situação política não é fácil, por todo o mundo, se espalham experiências sociais promissoras, crescem iniciativas de solidariedade e, por todos os continentes, organizações de base assumem como perspectiva de vida o cuidado uns com os outros, assim como a responsabilidade com a terra e a natureza.

Essa boa notícia faz com que saibamos: é possível desejar uns para os outros e para toda a humanidade os melhores votos de ano novo.

Para as culturas antigas, a palavra é eficaz quando nasce no mais profundo do coração e é precedida pela prática de vida. O Mahatma Gandhi ensinava: “Comece por você mesmo a mudança que deseja para o mundo”. O Evangelho diz que a palavra de Deus se realizou em João Batista no deserto (Lc 3). Isso significa que, primeiramente João viveu a palavra e só depois a proclamou. Quando vivemos o amor, a generosidade, a solidariedade e a partilha de vida, então, o nosso desejo de que o mundo caminhe para isso se torna eficaz. Evidentemente que não temos força para mudar organizações sociais e sistemas complexos e baseados em leis estruturais. Não podemos pensar que somente pelo fato de desejar, conseguiremos transformar o mundo. No entanto, podemos contribuir para que se criem as condições necessárias para transformar estas leis e sistemas. O importante é se comprometer em transformar esse bom desejo em um caminho positivo concreto e efetivo para um futuro melhor tanto para nós como pessoas e como membros da grande família da vida.

No Novo Testamento, a 1ª carta de Pedro insiste que “nós temos a vocação da bênção, isto é, somos chamados a bendizer, ou seja, invocar o bem sobre as pessoas e sobre o universo (1 Pd 3, 9).  

Você quer, de fato, que este ano seja um tempo de profunda renovação da sua vida? Deseja que isso repercuta bem para as pessoas ao seu redor e para todo o universo? Então, refaça neste início de ano novo o compromisso de, a cada dia, consagrar um tempo, por mínimo que seja, de gratuidade e interioridade para renovar um verdadeiro e profundo diálogo consigo mesmo/a. Ao mesmo tempo, comprometa-se em ser, cada vez mais, uma pessoa de diálogo com os outros, inclusive com as pessoas que pensam e agem a partir de valores que você não aprova. O diálogo mais fecundo é justamente com os que pensam e atuam diferentemente de nós. Além disso, procure de todos os modos intensificar a comunhão solidária com a terra, a água e todos os seres vivos do planeta. Faça isso e a bênção deste ano novo se realizará em você e, a partir de você, no mundo. Você constatará, então, como se tornarão verdadeiras e fecundas em sua vida, assim como para os que convivem com você, as palavras da antiga bênção irlandesa: “O vento sopre leve em teus ombros. Que o sol brilhe cálido sobre tua face, as chuvas caiam serenas onde moras. E até que, de novo, eu te veja, que Deus te guarde na palma da sua mão”.

Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países. 


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