Por Juracy Andrade
Taí um jubileu
que não deve passar em branco, o do Grupo Igreja Nova e de seu jornal Igreja Nova. Há 25 anos, com a saída
compulsória de Dom Helder do pastoreio desta arquidiocese de Olinda e Recife,
chegava por aqui Dom José Cardoso, como quem não queria nada, mas determinado e
comissionado para o desmonte de tudo quanto aqui havia sido montado para
implementar os caminhos abertos pelo Concílio dos anos 1960. O que inclui as
pastorais, o movimento Justiça e Paz, a vinda para cá de padres atraídos pelo
carisma e o ecumenismo do nosso inesquecível pastor, enfim a opção preferencial
pelos pobres no amplo e generoso contexto da Teologia da Libertação. O então
cardeal-arcebispo do Rio, Dom Eugênio Sales, que se dizia xerox do papa e vivia
numa Igreja medieval, trouxera de Roma (ele mandava no Vaticano) aquele
professor de direito canônico (será que Dom Dedé, como era conhecido em
Caruaru, sabia oura coisa?) e aconselhara o papa João Paulo 2º a colocá-lo numa
obscura diocese daquele Grande Sertão de Guimarães Rosa, enquanto aguardavam a
saída de Dom Helder.
Na época eu
trabalhava no Jornal do Commercio e
logo aproveitei o espaço que me era concedido nas páginas de opinião (até hoje
escrevo, mas agora só uma vez por mês) para iniciar uma série de artigos
tratando do tema geral “Desmonte eclesiástico”. Durante algumas semanas, pude
fazê-lo, mas logo o intolerante arcebispo procurou enquadrar-me pedindo ao sr.
João Carlos Paes Mendonça a minha demissão. Padre Edvaldo, pároco de Casa
Forte, que conhecia o presidente do jornal, trabalhou para contornar a situação.
Lembro a vocês que Padre Edvaldo ganhou há pouco uma biografia, escrita a
quatro mãos por ele e minha amiga a jornalista Vera Ferraz.
Aquela série de
artigos me aproximou daqueles cristãos e grupos organizados que não aceitavam o
direito canônico como substituto do Evangelho. Foi quando conheci o Igreja
Nova, os Trapeiros de Emaús, padre Edvaldo, que, como pároco (popularmente
vigário colado, que só pode ser descolado com processo canônico), podia se
contrapor a alguns desmandos de Dom José Cardoso sem ser imediatamente enxotado
da arquidiocese, como tantos foram. Mais tarde, o jurista (e cadê o Evangelho?)
tentou atingi-lo por ter concelebrado missa com um bispo da Igreja Episcopal,
que é a Igreja da Inglaterra, quase tão antiga quanto a Romana.
Dom Helder, que
não tinha nada de ingênuo, já havia previsto que “Quem deseja viver o Concílio
prepare-se para enfrentar desertos”. E bote deserto nisso. O paladino de dom
Eugênio, sempre se escondendo por trás do Vaticano, é responsável pelo
fechamento do Instituto de Teologia do Recife (Iter), do Seminário Regional do
Nordeste, instituições engajadas com o Concílio e que procuravam formar padres muito
além dos moldes tridentinos, aqueles fixados pelo Concílio de Trento no
longínquo século 16. O Iter também aceitava como alunos freiras e leigos/as.
Acusei-o, em
artigo na revista Algomais, de
praticar uma “pastoral imobiliária”: torrar bens da arquidiocese e apossar-se
de bens de paróquias. Ninguém sabe pra onde foi o dinheiro. Sua “tesoureira”
era uma irmã dele que, ao que consta, teria sido expulsa de um convento. “E não
me perguntes mais”, como naquele bolero que fala também da “ponta de um
torturante band-aid no calcanhar” Seu sucessor, dom Fernando Saburido, um homem
de Deus, cala a respeito por imposição do direito canônico. Sempre o direito.
Cadê o Evangelho? O arcebispo me processou pela Lei de Imprensa, mas não deu em
nada.
Destaco o
trabalho do Grupo Igreja Nova e do seu jornal nos caminhos do Concílio, como a
fraternidade e reuniões de seus membros, as 13 Jornadas Teológicas de 1998 a
2010, entre tantas outras realizações. Muitos amigos e pessoas ligadas ao grupo
se manifestaram com júbilo na passagem deste jubileu (jubileu rima com júbilo).
Destaco padre João Pubben, missionário por longos anos no Brasil, inclusive
entre os pobres de Dois Unidos, e que, infelizmente, teve de voltar à sua
Holanda natal por motivo de saúde. Eis o que ele disse: “Apresenta-se, após 25
anos, a pergunta ‘O que o Igreja Nova significou em sua caminhada?’
Considero ponto alto das sementes
jogadas ao chão a concretização das 13 Jornadas Teológicas Dom Helder Câmara
[...]. Foram ocasiões privilegiadas e valiosas em que palestrantes especiais
orientaram, guiaram, enriqueceram e animaram um número bastante grande de
pessoas de boa vontade para viver mais e melhor a Boa Nova na realidade nua e
crua de cada dia. Penso que esta oferta do Igreja Nova foi seu melhor presente
ao povo de Deus”.
PS – Dia 11
deste mês às 10h, no Espaço Dom Lamartine da Igreja das Fronteiras, será
lançada a 13ª edição do Calendário do IDHeC, com fotos e frases de Dom Helder.
O autor é
jornalista com formação em filosofia e teologia
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