Frei
Betto
O Brasil tem, hoje, 206 milhões de habitantes. Toda a estrutura do Estado, dos
tribunais aos recursos para programas sociais, é mantida pelos impostos pagos
por 27 milhões de brasileiros. Portanto, pouco mais de 10% da população
sustenta, com seus tributos, todo a máquina pública, dos hospitais do SUS aos
jantares oferecidos por Temer no Alvorada.
Dos 27 milhões de contribuintes, 13,5 milhões, a metade, recebem, a cada mês,
no máximo o equivalente a cinco salários mínimos (R$ 4.685). É muita gente que
ganha pouco e, ainda assim, é obrigada a entregar uma fatia ao Leão. E todos os
impostos pagos por essa gente correspondem a apenas 1% do que a Receita Federal
arrecada por ano.
Um mínimo de justiça da reforma tributária dispensaria esses 13,5 milhões de
trabalhadores de pagarem impostos. E isso reverteria em mais saúde, educação,
alimentação, enfim, uma vida menos apertada para todos eles.
Quem mais canaliza recursos para o Leão são pouco mais de 2 milhões de pessoas
que ganham, por mês, de 20 (R$ 18.740) a 40 salários mínimos (R$ 37.480).
Apenas 0,5% da população economicamente ativa - pouco mais de 1 milhão de
pessoas - ganha por mês de 40 a 160 salários mínimos (R$ 149.920).
E acima desses milionários há ainda uma categoria mais privilegiada, segundo
dados revelados pela Receita Federal: as 71.440 pessoas que têm renda média,
anual, de R$ 4 milhões, e patrimônio calculado em R$ 1,2 trilhão. Graças a elas
o Leão abocanha, por ano, cerca de R$ 300 bilhões – 14% da renda total das
declarações de IR.
Em 2013, desses super ricos, 52 mil receberam lucros e dividendos isentos de
IR. Do total de rendimentos desses bilionários, apenas 35% foram tributados
pelo IR de pessoa física. Já na faixa de quem ganha de 3 a 5 salários mínimos,
mais de 90% da renda foram abocanhados pelo Leão.
Portanto, fica evidente que, no Brasil, o trabalhador assalariado paga imposto,
o que não acontece com os lucros dos bilionários. Alguém poderia objetar: mas
todos pagamos IPTU! Sim, mas os imóveis em bairros de classe alta são taxados
na mesma proporção dos que se situam em bairros habitados por famílias de baixa
renda. E os imóveis rurais não pagam quase nada de IR, além de obterem crédito
barato.
Para alcançar uma boa arrecadação sem pôr a culpa na Previdência, bastaria a
Receita Federal cobrar devidamente de 100 mil dos 17 milhões de contribuintes.
Uma reforma tributária deveria, para ser efetiva, isentar todos que ganham, por
mês, até 10 salários mínimos (R$ 9.370); adotar o imposto progressivo e taxar
mais os ricos, inclusive mudando as regras que lhes permitem isenção e desconto
para lucros e dividendos; cobrar Imposto Territorial Rural das propriedades do
campo; e tributar as heranças, exceto pequenos valores.
O Brasil tem solução. Faltam apenas vontade política e vergonha na cara.
Frei Betto é escritor, autor de “Fome
de Deus” (Paralela), entre outros livros.
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Maria Helena Guimarães Pereira
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