Por Marcelo Barros
Há várias formas de celebrar o Natal. O Natal do Pai Noel,
das publicidades comerciais e do consumo. No meio disso, há o Natal das
confraternizações de família e de amigos. Nas comunidades e principalmente no
campo, o Natal é marcado por celebrações tradicionais. As comunidades de base
fazem novenas. Em várias regiões do Brasil, saem os grupos de folia lembrando
os Santos Reis. No Nordeste, ainda se fazem pastoril e reizado. É ótimo que o
Natal seja ocasião de comunidades e grupos se encontrarem e retomarem suas
raízes culturais. Entretanto, a proposta mais profunda da liturgia cristã do
Natal vai além de tudo isso. Recorda o nascimento de Jesus para propor uma
renovação de vida. Nos séculos antigos, os pais da Igreja afirmavam:
"Cristo se fez homem para que todo ser humano seja divinizado".
O melhor mesmo é celebrar o Natal de modo que favoreça esse
processo de uma humanização que nos diviniza. No Natal, as pessoas são
convidadas a renovar a esperança em si mesmas e em todo ser humano. É sempre
bom insistir: todos nós somos capazes de nos transformar. Celebrar o Natal deve
nos ajudar a reviver no mais íntimo de cada um/uma de nós algo da inocência do
primeiro amor.
Nós somos feitos de amor e para o amor. Conforme a carta de
João, "somos aqueles que acreditamos no Amor". Estamos todos em busca
de um céu que está escondido no próprio coração humano e que pode acolher a
vastidão de nossos sonhos. Queremos captar a linguagem dos corações que
suspiram por um olhar, desejam uma carícia e acolhem o mais profundo de bom que
existe em cada pessoa e mesmo em cada ser vivo.
Nos dias anteriores ao Natal, as comunidades cristãs
costumam ler textos dos evangelhos que pedem a todos a atitude permanente da
vigilância. Conforme a Bíblia, vigiar é manter-se acordados e com os olhos bem
abertos sobre o que está acontecendo em torno de nós e no mundo. A palavra de
Deus nos ensina a ser sempre críticos em relação à realidade. No entanto, como
lembrava o Mahatma Gandhi, devemos começar por nós mesmos a mudança que pedimos
ao mundo. É preciso que a celebração desse Natal nos fortaleça no esforço de
uma transformação interior que é permanente.
Quem acompanha as notícias e vê a realidade do mundo atual
percebe que os meios de comunicação e os governantes se uniram na tarefa de
provar que o ser humano é visceralmente mau e que a sociedade humana não tem
solução, nem remédio. O jeito é sobreviver todos contra todos na barbárie nossa
de cada dia. Por isso, a celebração desse Natal precisa ser uma profecia contra
esse pessimismo. Como dizia Dom Helder Camara: "Quanto mais a noite é escura, mas a madrugada será luminosa".
No Natal, costumamos armar presépios em nossas salas. É
importante que esse costume não seja apenas algo rotineiro mas nos lembre que, hoje,
a Belém na qual Jesus nasceu é aqui. Vamos, então, acolher a mensagem dos novos
anjos que nos anunciam a salvação vinda do amor divino e nos coloquemos em
caminho, como os pastores. Vamos contradizer o pessimismo de quem não crê mais
em nada, superar o clima hostil de intolerância e radicalismos que invadem
nossas cidades e chamar as pessoas conhecidas ou desconhecidas para olhar as
estrelas e conosco cantar a alegria da fé: "Tu
vens, tu vens. Eu já escuto os teus sinais".
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