Por Marcelo Barros
Nessa semana,
exatamente, no 10 de dezembro, a Declaração Universal dos Direitos Humanos da
ONU completou 69 anos. Ao festejar esse aniversário, podemos comemorar que a
luta pelos direitos humanos continua firme e muitos desses direitos estão
incluídos nas leis e constituições nacionais. De 1948 para este começo de
século, a ONU se firmou como interlocutora de muitos conflitos internacionais.
Apesar de que ainda se deixam dominar pelos governos mais poderosos do mundo, a
ONU e seus organismos internacionais têm colaborado para o diálogo e a paz
entre os povos. Atualmente, na assembleia
geral das Nações Unidas, representantes de organizações indígenas e consultores
da sociedade civil têm tido voz e vez. Por todo o mundo, se multiplicam organismos
internacionais como o Tribunal Internacional de Justiça e várias organizações
que trabalham pela consolidação dos direitos humanos individuais e também
coletivos (direitos dos povos, das nações indígenas e das diversas culturas).
Apesar desses
progressos, não podemos deixar de observar problemas gravíssimos. Tantos anos
depois da Declaração dos Direitos Humanos, assinada em 1948 por 190 países,
afirmar que todo ser humano tem direito de migrar e de morar em qualquer rincão
do planeta Terra, as nações ricas constroem muralhas sempre mais discriminatórias
e odiosas. As mercadorias circulam de um continente a outro. As pessoas que
tentam passar as fronteiras de um país a outro são presas e punidas. Em nome da
segurança nacional, vários governos se sentem com o direito de desnudar pessoas
em aeroportos e expor os passageiros ao risco de radiações até hoje não
controladas em aparelhos para detectar metais. Nove países detêm bombas
nucleares que, a qualquer momento, podem destruir a humanidade e a própria vida
no planeta.
A sociedade civil
tem reagido a esses problemas e tem se organizado internacionalmente. No mundo
inteiro, se fortalece o movimento para se criar uma ONU não só de governos, mas
da sociedade civil internacional. Aqui e ali se instauram fóruns que pedem uma
Constituição internacional da humanidade. Essa lei universal deve definir uma
ética comum, a partir da qual os povos possam construir um mundo mais solidário
e as pessoas se sentirem todas cidadãs não apenas de um território ou de um
país e sim do mundo irmanado pela justiça e pela paz.
Um dos movimentos
mais importantes é a luta pacífica pela defesa dos bens considerados como "bens comuns da humanidade" e
mesmo do universo. Desses, no Brasil e em outras partes do mundo, os movimentos
sociais têm priorizado três bens que todos nós
devemos defender: a água, as sementes e o
conhecimento. A sociedade capitalista faz de tudo para transformá-los em
mercadorias que se vendem e se compram, como querem fazer com a própria vida e
até mesmo o ser humano. Cada dia, a parte mais consciente da sociedade civil
insiste: A água é direito universal de
todo ser vivo e não pode ser privatizada nem mercantilizada. As sementes pertencem
à Mãe-Terra e ao patrimônio do povo que habita em cada bioma. O conhecimento é
um dom divino no ser humano que tem de ser vivido como meio para melhorar a
vida, fortalecer as relações e tornar o planeta mais saudável. Não para ser
instrumento de controle das empresas sobre as pessoas.
Defender essas conquistas sociais é dever de
toda pessoa, mas principalmente de quem vive o compromisso social como caminho
de comunhão íntima com Deus. As grandes tradições espirituais têm se proposto a
renovar nas pessoas a esperança de que essas conquistas são justas, necessárias
e possíveis.
Em cada mês de
dezembro, as Igrejas cristãs preparam o Natal de Jesus celebrando o que chamam
"tempo do Advento". Nesses dias, os textos bíblicos e os cânticos
litúrgicos convidam as comunidades a vigiarem na expectativa da vinda do Senhor.
Concretamente, isso significa manter-se de olhos abertos e mentes vigilantes
para interpretar a realidade em que vivemos e descobrir como transformá-la. Na
carta aos cristãos de Roma, o apóstolo Paulo escreve: "É preciso compreendermos melhor o tempo em
que vivemos. Agora, estamos mais próximos da salvação do que quando abraçamos a
fé" (Cf. Rm 13, 11).
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