Por Marcelo Barros
O
cântico-convite que introduz a festa de Natal começa dizendo: “Hoje, o Cristo nasceu para nós. Vinde e o
adoremos”. A beleza da música e a consolação dessas palavras encantaram
gerações. Até que alguém começou a perguntar criticamente quem seriam esse nós destinatários da salvação. É claro
que a tradição responde que o Cristo veio para toda a humanidade. Até hoje,
ressoa o cântico que segundo o evangelho, os mensageiros de Deus entoaram na
noite de Belém: “Glória a Deus no mais
alto céu e Paz na terra a todos os seres humanos, aos quais Deus quer bem”.
Embora seja uma celebração cristã, o Natal tem uma mensagem que interessa a
toda humanidade e especialmente aos mais empobrecidos.
Na
primeira noite de Natal, o anúncio do nascimento de Jesus se deu fora dos
templos e se dirigiu a pessoas marginalizadas pela própria religião. Hoje,
também é importante que a mensagem de paz do Natal atinja a humanidade inteira,
independentemente de quem é religioso ou não e seja qual for a sua crença. É um
apelo ao amor como opção de vida e um encorajamento de esperança que confirma:
esse mundo tem salvação e nós temos que testemunhar isso com nossa vida.
Até
para ser verdadeiramente universal, a mensagem de alegria e paz é destinada a
todas as pessoas. No entanto, em um mundo injusto e desigual, para restabelecer
a justiça e a igualdade, ela deve sempre partir dos mais pobres. Do mundo dos grandes, as
notícias são inquietantes. Ao oficializar Jerusalém como capital de Israel, o
presidente Trump nega direito dos palestinos sobre a cidade que os muçulmanos e
cristãos também consideram santa. Ao decretar unilateralmente essa medida, ele opta
pela guerra e legitima o massacre. Perto de nós, quase a cada dia, o bando que
tomou o poder declara o seu desamor e seu descompromisso em relação aos mais
pobres. Assim governo e Congresso dão as costas ao povo do qual deveriam ser
representantes.
A
mensagem de Natal vem de vozes diferentes. Os povos indígenas propõem o
Bem-viver como paradigma cultural para toda a humanidade. Os lavradores
sem-terra defendem as sementes crioulas e proclamam a água como bem comum que é
direito de todo ser vivo. Em nossas cidades grandes, os trabalhadores sem-teto
armam acampamentos que são verdadeiras profecias de solidariedade humana. E
como diz o papa Francisco, ao lutarem por Terra, Trabalho e Teto, as
organizações sociais estão tecendo poesias de esperança para o mundo. São os
profetas desse Natal. Por falar no papa, de todos os rincões do mundo, pessoas
das mais diferentes religiões e culturas o acolhem como mensageiro divino nesse
Natal. Em sua mensagem à humanidade, o
papa Francisco nos diz:
“ O
Natal costuma ser uma festa ruidosa. Há muito barulho; nos faria muito bem um
pouco mais de silêncio para ouvirmos a voz do Amor.
Natal é você quando decide nascer de
novo, cada dia, deixando que Deus penetre em seu interior. (...) A luz do Natal
é você quando ilumina com sua vida o caminho dos outros, através da bondade,
paciência, alegria e generosidade. Os anjos do Natal são você quando canta ao
mundo uma mensagem de paz, de justiça e de amor. (...) A melodia do Natal é
você quando consegue encontrar harmonia interior. O presente de Natal é você
quando é verdadeiramente irmão/ã e amigo/a de todo ser humano. O cartão de
Natal é você quando a bondade está escrita em suas mãos. A felicidade do Natal
é você quando perdoa e restabelece a paz, mesmo que ainda esteja sofrendo. O
presépio do Natal é você quando sacia de pão e de esperança o pobre que está ao
seu lado. Você é sim a noite de Natal, quando, humilde e consciente, no
silêncio da noite, recebe o Salvador do mundo, sem barulhos, nem celebrações.
Você é sorriso de confiança e ternura na paz de um Natal perene que estabelece
o reino em você. Um feliz Natal para todos e todas que se parecem ao Natal”.
Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 26
livros dos quais o mais recente é "O Espírito vem pelas Águas", Ed.
Rede-Loyola, 2003. Email: mostecum@cultura.com.br
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