por Frei Betto
Lula, o mais destacado líder popular brasileiro da atualidade, vai a julgamento
dia 24 de janeiro. Não há como ficar indiferente ao fato.
A expectativa deixa a nação em suspenso. E a divide: de um lado, aqueles que já
o pré-julgaram e esperam apenas que a sentença seja confirmada pelos juízes de
Porto Alegre; de outro, os que afirmam não haver suficientes provas para
condená-lo, e as acusações estão de tal maneira impregnadas de caráter político
que extrapolam o exercício imparcial da Justiça.
Estamos em ano de eleição presidencial. Vários candidatos em potencial aguardam
o veredicto para tomarem uma decisão. Com Lula no páreo a disputa fica bem mais
difícil para os neocandidatos. É o que apontam as pesquisas eleitorais.
Lula adotou uma firme postura frente às acusações que lhe imputam: o ônus da
prova cabe ao acusador. Ele se declara inocente, vítima de uma conspiração do
Judiciário movido por forças aparentemente “ocultas”.
Os que derrubaram Dilma e empossaram Temer miraram no que viram e acertaram no
que não viram. Lula, após oito anos de mandato presidencial, saiu do Planalto
com aprovação de 87% da opinião pública. É um dado significativo. E ainda
conseguiu emplacar por duas vezes a eleição de Dilma para o comando do país.
Armou-se um golpe parlamentar, à semelhança dos ocorridos em Honduras e
Paraguai, defenestrou-se Dilma do poder para dar lugar a Temer, acusado de
graves delitos. Porém, a costura saiu pior que o remendo. Temer não
consegue alcançar 5% de aprovação. Governa graças ao descarado “franciscanismo”
que mantém a maioria da Câmara dos Deputados refém dos cofres do Tesouro
Nacional, cuja chave Temer traz em mãos.
Nada indica que Temer logrará fazer aprovar a tão almejada (por ele) reforma da
Previdência. Reeleger-se é muito mais importante para a bancada governista do
que enfiar agora mais dinheiro no bolso e sofrer desgaste político. Afinal,
muitos governistas ostentam no pescoço a corda da Lava Jato, e a reeleição é o
modo mais indicado de se manterem afastados do patíbulo.
Qualquer que seja o resultado do dia 24, Lula sai ganhando: absolvido, ficará
livre das acusações que lhe são feitas. Se condenado, se tornará um mártir
político do Judiciário que condena uns e se mantém cego e leniente diante de
outras figuras políticas que cometeram delitos comprovados em imagens e
gravações exibidas no noticiário.
Na verdade, quem estará sentado no banco dos réus, dia 24, não será o cidadão
Luiz Inácio Lula da Silva. Será o Judiciário brasileiro.
Frei Betto é escritor, autor de “Cartas da prisão”
(Companhia das Letras), entre outros livros.
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