por Marcelo Barros
Nesses
dias, por todo o mundo, as pessoas dizem umas às outras os votos de feliz ano
novo. Há quem acredite que, pelo fato de se falar, quase automaticamente, o
desejo se torna realidade. Outros pensam que o próprio desenrolar do tempo faz
as coisas ficarem melhores. De fato, em todo final de dezembro, deseja-se que o
próximo ano seja melhor. No entanto, o que tem ocorrido é que, ao menos
recentemente, o mundo tem se tornado menos justo com os trabalhadores e menos
respirável. A riqueza se concentra nas mãos de uma ínfima minoria de
privilegiados e as condições de vida de bilhões de pessoas são cada vez mais
precárias.
Neste
2018, os desafios da paz se tornam mais urgentes, já que os presidentes dos
Estados Unidos e da Coreia do Norte prometem ao mundo explodir bombas nucleares
que ameaçam não apenas a vida deles, mas de toda a humanidade. No Brasil, a
cada dia os trabalhadores e os pobres veem mais direitos adquiridos serem
roubados. Na América Latina, o sonho de uma pátria grande solidária exige mais
esforços. A guerra dos meios de comunicação contra qualquer transformação do
mundo a favor dos empobrecidos continua implacável.
No
mundo inteiro, movimentos sociais organizam as bases para uma aliança de toda a humanidade pela Paz, Justiça e Comunhão com o
Universo. Grupos da sociedade civil trabalham pelo Conselho de Segurança dos Bens Comuns, principalmente, a água, as
sementes e o conhecimento. No Brasil, os grupos sociais reunidos em Frentes se
preparam para organizarem referendos revocatórios de todas as medidas
anticonstitucionais implementadas por um governo ilegítimo e por um congresso
que, em sua maioria, se deixou comprar por empresas privadas.
Alguns
povos tradicionais ainda guardam costumes como, na noite do ano novo, queimar
toda a roupa usada e iniciar esse tempo com uma roupa nova, símbolo de vida
renovada. Na madrugada do primeiro dia do ano, fieis dos cultos
afrodescendentes vão às praias e rios com flores e oferendas aos espíritos do
céu e da terra. Em nome de todos os seres humanos, cantam sua disposição de
amor e de comunhão universal.
Para
2018, muitas organizações sociais inseridas na caminhada do povo mais pobre
planejam, para todos as regiões do Brasil, uma série de congressos de diálogo
com a população. Esses congressos culminarão em um grande Congresso do Povo que
discutirá o Brasil que a maioria dos brasileiros desejam e pelo qual as
diversas categorias de trabalhadores lutam. Em março próximo, cidadãos e
cidadãs do mundo inteiro se reunirão em Salvador, BA, para mais um Fórum Social
Mundial. Dessa vez, o Fórum terá como tema a resistência do povo e dos grupos
sociais como elemento fundamental na construção de um mundo novo necessário e
possível.
No
Fórum Social, ocorrido em Túnis, na África, em 2015, havia um grande folder no
qual estava escrito: "A humanidade
precisa de uma verdadeira revolução. Só a nossa ousadia pode torná-la
possível". Essa ousadia comunitária parte da convicção de que o amanhã
pode ser diferente. As organizações sociais brasileiras sustentam que, para
isso, não podemos aceitar "nenhum
direito a menos". Elas tecem as
condições para que possamos fazer nacionalmente um referendo revocatório que
anule as medidas contra o povo tomadas pelo governo nos últimos dois anos. No
plano mundial, entram na campanha internacional para 1 - declarar ilegal a pobreza
e não os pobres que a sofrem. 2 - organizar a sociedade de modo que a economia e as finanças sirvam para a vida
da humanidade e não para o lucro de 60 famílias mais ricas do mundo. 3 - desarmar
o mundo e impedir a guerra como negação da vida e da convivência humanas.
Se
ao ler essas propostas, você se sente comprometido a trabalhar por elas e a
dedicar todo seu esforço para que isso se torne possível, certamente, mesmo
antes de alcançarmos esses objetivos santos e espirituais, você já pode sim
sentir-se mais realizado como pessoa humana e estará testemunhando que trabalha
para que 2018 seja um ano novo mais feliz para toda a humanidade. Para os
cristãos, nos alegra mais ainda a fé de que, nesse caminho, estamos sempre acompanhado
por Jesus ressuscitado que disse a seus discípulos/as: "Eu estarei com vocês todos os dias, até que
esse tempo se complete" (Mt 28, 20).
Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 26 livros dos quais o mais recente é "O Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede-Loyola, 2003. Email: mostecum@cultura.com.br
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