por Marcelo Barros
Assim se
chama a iniciativa de vários grupos internacionais que trabalham pela justiça
eco-social e por mais vida para toda a humanidade. É bom lembrar que, na antiga
Grécia, ágora era o espaço público de discussões, onde os/as cidadãos de cada
cidade tomavam as decisões importantes para a vida de todos. Nesse momento da
vida da humanidade, parece mais importante do que nunca uma ou diversas ágoras
dos habitantes da Terra.
Desde os
anos 90, algumas experiências têm florescido. Em junho de 1992, no Rio de
Janeiro, durante a conferência da ONU sobre o clima, movimentos e organizações
sociais se reuniram no Aterro do Flamengo. Foi um encontro de cidadãos/ãs do
mundo inteiro. O plenário dessa movimentação se chamava “Cúpula dos Povos”. Essa mesma experiência foi repetida no mesmo
local, durante a Rio 92+ 20, em junho de 2012.
A partir do levante dos índios do Sul do México, em Chiapas (1994),
aconteceram três encontros que se chamaram: “Encontros da humanidade pela Vida e contra o neoliberalismo”. Esses
encontros foram fecundos e provocaram a formação de uma "Assembleia Continental dos Povos"
que continua ativa e se reunindo periodicamente.
Em 2001
começou o processo dos fóruns sociais mundiais com o grito coletivo que, a
partir do Fórum de Montreal (2016), tem se traduzido na frase: "Outro mundo é necessário. Juntos podemos
torná-lo possível". Quase vinte anos depois do começo dessa aventura
dos fóruns mundiais, em março desse ano, em Salvador, BA, esse processo se
revelou vivo e interpelador. No entanto, o Fórum Social tem insistido em
manter-se como espaço de articulação e discussões, mas não de decisões. O FSM
nem mesmo aceita emitir declarações ou conclusões em seu nome. Isso tem o seu
sentido, para deixar esse papel para cada organização de base. Mas, mesmo se o
mais fundamental é garantir as iniciativas de base, muitos militantes sentem a
necessidade de buscar um instrumento que dê voz e vez a toda humanidade como um
coletivo. Sem substituir os organismos de articulação regional e mesmo mundial,
se trata de clarear algumas bandeiras comuns a todos. A Ágora dos Habitantes da
Terra propõe que se estabeleça um pacto social que envolva toda a humanidade,
consciente dos grandes problemas que, nos dias atuais, a sociedade
internacional e o planeta Terra estão atravessando.
Sabemos que
ainda há muitos grupos humanos que ficarão fora dessa articulação. Só no
Brasil, dizem que há mais de 60 grupos indígenas isolados. No mundo inteiro, nômades,
ciganos, tuaregs do norte da África e nativos da Austrália ainda ficarão fora.
Mas, é importante começar. Já será um desafio, mesmo entre os inseridos na
sociedade, garantir a participação das diversas categorias de trabalhadores,
legalizados e informais. É urgente dar voz aos desocupados, garantir o
protagonismo das mulheres e das minorias sociais, raciais, sexuais e
religiosas. Esses desafios são preocupações cotidianas das pessoas que, de
diversos continentes, estão convidando os grupos e comunidades a se unirem
nesse mutirão de cidadania planetária. Alguns encontros locais e regionais têm
se feito com esse objetivo. Essas iniciativas terão um primeiro momento de
encontro internacional, em dezembro desse ano, perto de Barcelona (Espanha). A
primeira proposta é que grupos de base e organizações regionais escrevam cartas
e mensagens à humanidade expressando suas propostas para o presente e o futuro
da sociedade humana. Essas propostas serão discutidas e encaminhadas aos outros
grupos e organismos ligados a essa iniciativa internacional. Vai se tentar que a
própria ONU acolha e discuta essas propostas. A Ágora dos Habitantes da Terra deseja
que a ONU aceite que todas as pessoas que desejarem possam ter uma carteira de
identidade de "habitante da Terra". Assim, ninguém mais poderá ser
considerado estrangeiro ou clandestino se nasceu e se vive no planeta Terra.
Desde o
começo do segundo século de nossa era, as Igrejas cristãs definiram que uma característica importante
de cada comunidade ou grupo de discípulos e discípulas de Jesus deve ser a de
ir assumindo uma dimensão católica.
Esse termo grego, quase sinônimo do que hoje se chama holístico, foi traduzido por universal. Não significa ser internacional
ou mundial e sim um permanente convite a abrir-se a todos. Só conseguimos nos tornar humanos/as como
Jesus, se aceitamos viver uma verdadeira e profunda abertura de coração e de
vida a tudo o que é humano. Por isso, os cristãos e cristãs devem sentir-se
especialmente chamados/as a se unirem a toda humanidade nesse mutirão de
cidadania planetária.
Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 26 livros dos quais o mais recente é "O Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede-Loyola, 2003. Email: mostecum@cultura.com.
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