Por
Marcelo Barros
Habitantes
da Terra são todos os seres vivos. As notícias sobre a sustentabilidade da vida
no planeta e as decisões da sociedade humana mostram que o desafio mais urgente
para todos os habitantes da Terra é sobreviver ao sistema capitalista. Em nome
do deus dinheiro, esse modo de organizar as relações sociais e econômicas
aprofunda cada vez mais as desigualdades sociais, provoca o desemprego e
destrói a natureza. Conforme dados recentes, cinco milionários brasileiros
detêm uma riqueza equivalente à metade de toda a população brasileira (Carta
Capital, 27/06/ 2018)
Nesta
quarta feira, 11 de julho, a ONU celebra o dia mundial da população. Essa data foi instituída exatamente no dia 11
de julho de 1987, dia em que a humanidade atingia a marca de cinco bilhões de
habitantes. Três décadas depois, conforme os cálculos, em setembro de 2017, a
população humana chegou a 7, 6 bilhões
de pessoas.
A
ONU propõe que o dia da população mundial sirva para aprofundarmos o que
significa viver em um planeta no qual, a cada ano, a população humana cresce e
os bens da terra, como água, ar e alimentação, se mostram limitados, afetados
pela ação humana e sob ameaça de se tornar insuficientes. De acordo com os
cientistas, o planeta Terra tem todas as condições de alimentar e sustentar até
onze bilhões de pessoas. Como dizia o Mahatma Gandhi: “O mundo tem o suficiente
para saciar as necessidades de todos os seres humanos, mas não basta para a
ganância e a ambição dos ricos”.
A
humanidade precisa mudar a cultura com a qual se relaciona entre si e com o
planeta que habita. Um sistema social e econômico que gera desigualdade e
aprofunda injustiças sociais só pode resultar em violência e infelicidade para
todos. Somente uma organização social que se preocupe com todos os seres
humanos e busque a igualdade e a justiça é ecologicamente sustentável e
socialmente justificável.
De
todo modo, não é simplesmente diminuindo a taxa de natalidade que a humanidade
resolverá a questão da sustentabilidade e do futuro da vida para todos. Hoje, a
maioria das pessoas vive em cidades. Já se contam em milhares as metrópoles com
mais de um milhão de habitantes. Já somam 23, as cidades com mais de dez
milhões de habitantes. São Paulo já ultrapassou vinte milhões. Nessas
sociedades, ao menos aparentemente, o ideal humano é de liberdade máxima de cada
um e se pode dizer que essa liberdade supõe o mínimo de orientação. O
liberalismo é um regime econômico, mas é também cultural. Cada um faz o que
quer e vive como quiser. Muitas pessoas optam pela cidade grande justamente por
causa do anonimato. Ninguém se mete na vida de ninguém.
Estamos sempre mais
juntos e ao mesmo tempo, cada vez mais sozinhos. Isso é tido como liberdade. Nesse
contexto, filósofos judeus como Emmanuel Mounier e Martin Buber, baseados em
sua fé bíblica, insistiram no valor básico da alteridade: descobrir a
importância do outro, aceitar que dependemos uns dos outros e aprender a viver
a partir do outro. Essa abertura para o outro, humano, garante uma convivência
baseada na justiça e na paz.
Para consolidar a sustentabilidade do planeta,
também os animais e a natureza precisam e merecem ser tratados com respeito e
não apenas como mercadoria ou mero objeto para o uso humano. Dietrich
Bonhoeffer, teólogo luterano, assassinado por Hittler na Alemanha nazista, afirmava:
“O Cristo está em mim para você e está em você para mim. Em mim, ele é fraco
para mim mesmo e é forte para você. Em você, ele é fraco para você e é forte
para mim”.
Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 26 livros dos quais o mais recente é "O Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede-Loyola, 2003. Email: mostecum@cultura.com.
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