Por Marcelo Barros
Vivemos em uma sociedade de comunicação
rápida, na qual o celular, a internet e as redes sociais nos ligam, instantaneamente,
ao mundo inteiro. Há pouco mais de 30 anos, em termos de comunicação, a
realidade era totalmente diferente. De lá para cá, o mundo viveu uma
transformação que, em milênios, não conheceu. Novos meios de comunicação
plasmaram uma nova cultura social e deram mais agilidade e eficiência aos meios
de comunicação clássicos como a imprensa, o rádio e a televisão.
Atualmente, os novos meios virtuais formam a
opinião pública e, junto com os veículos tradicionais têm poder imenso. Estudos
revelam que notícias postas na internet, falsas, ou apenas com algum fundo de
verdade, influem no resultado de
eleições e decidem a Política de povos e continentes. Por isso, em todos os
países, a função dos meios de comunicação social tem sido tema de reflexão e
debates.
A ONU considera o 03 de maio como “dia
internacional da liberdade dos meios de comunicação”. É sempre importante se
perguntar de qual liberdade falamos e para que. Sem dúvida, a liberdade é
fundamental, mas deveria haver liberdade para semear ódio e violência? É justo
que os meios de comunicação, nas mãos das pessoas mais ricas do país, tenham
liberdade de mentir e propagar notícias falsas desde que favoreçam os
interesses da elite que domina o país? Como criar uma reação democrática,
popular e que não seja na direção da censura e sim da crítica?
Atualmente, em muitos casos, os proprietários
das grandes empresas de comunicação e agências internacionais de notícias são
os mesmos acionistas dos conglomerados de petróleo e das indústrias de
armamento a serem vendidos nas guerras que a imprensa estimula.
Quem acompanha os noticiários no Brasil sabe
como a maioria deles privilegia a violência. Confundem a missão de informar com
o trabalho de explorar ao máximo os crimes e doenças que atacam a sociedade. As
notícias de um atentado que matou centenas de pessoas se misturam com um jogo
de futebol do dia anterior ou o nascimento de um filhote de urso no zoológico.
Ao mesmo tempo, para combater o inimigo que o
império quer esmagar, a chamada guerra híbrida usa meios mais baratos e
eficientes do que soldados armados. Os meios de comunicação subsidiam uma
enxurrada de notícias falsas que criam a opinião pública. Na América Latina,
calam sobre o descalabro e o fracasso total do governo argentino, porque esse é
de direita, mas, diariamente, divulgam notícias negativas de qualquer governo
que pretenda transformar a sociedade. Assim, muita gente passa a acreditar que
o governo da Venezuela é ditatorial e a oposição, feita por uma pequena elite
violenta, é democrática e justa.
No Brasil, os meios de comunicação fortalecem
a campanha de criminalização de movimentos populares. As grandes redes de
comunicação e as notícias falsas de internet possibilitaram o golpe que
derrubou o governo democrático e honesto da presidenta Dilma, demonizaram o que
eles consideraram esquerda e garantiram a vitória da extrema-direita nas
eleições de 2018.
No Brasil, o dia 5 de maio foi instituído
como Dia Nacional das Comunicações. Poucas pessoas sabem que, nessa data, em
1865, nascia em Mimoso, perto de Cuiabá (MT), uma grande figura das
telecomunicações brasileiras: o Marechal Rondon. O nome deste grande
brasileiro, descendente de índios, é lembrado quando se trata de defesa dos
povos indígenas e da integração do território nacional, mas poucas pessoas o
ligam às telecomunicações.
Em 1955, quando Cândido Mariano da Silva
Rondon completava 90 anos, passou a ser homenageado como Patrono das
Comunicações do Brasil. Talvez sua origem o impelisse a uma comunicação mais
humana com os indígenas. "Morrer, se preciso for. Matar, nunca" - era
o seu lema. Com ele, Rondon ganhou projeção e reconhecimento internacionais. Era
outra época. Naquele tempo, mesmo se o Brasil era dominado por governos
ditatoriais e a sociedade sempre foi violenta, ao menos os governantes não
defendiam execuções sumárias e militares não atiravam em cidadãos que passassem
de carro pela frente do quartel para irem a uma festa de criança.
Provavelmente, o presidente atual e seus ministros nem queiram lembrar a figura
de Rondom ou o considerem comunista como Paulo Freire, Dom Helder Camara e
outros esquerdistas.
Também as Igrejas e grupos espirituais têm se
servido dos meios de comunicação. A fé se torna objeto de espetáculos
religiosos televisivos, sejam cultos neopentecostais ou missas-show de padres
pop. Estúdios substituem templos. Misturam-se reality-show, ficção e liturgia..
Entretanto, a fé nunca pode ser objeto de publicidade.
Esse panorama está longe do evangelho de
Jesus, boa noticia de que o projeto divino de paz e justiça começam a se
realizar neste mundo. Por isso, muitas vezes, é fora do universo religioso que
jornalistas cumprem a função de verdadeiros evangelizadores e fazem com que os
meios de comunicação cumpram sua função de colaborar com a fraternidade humana
em comunhão com o universo.
MARCELO BARROS é
monge beneditino e escritor. Tem 44 livros publicados, dos quais “O
Espírito vem pelas Águas", Ed. Rede da Paz e Loyola. Email:
irmarcelobarros@uol.com.br
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